O RECÔNCAVO NÃO É A BOLA DA VEZ
Por falta de times na região, torcedores optam pelos clubes da capital
Calila Oliveira, Daniela de Oliveira e Mariana Cardoso
O Campeonato Baiano de Futebol é considerado relevante por ter sido o primeiro a ser organizado no Nordeste e o segundo no Brasil. A competição é realizada ininterruptamente há 103 anos e tem, como principais vencedores, o Esporte Clube Bahia – 43 títulos –, o Esporte Clube Vitória – 24 títulos – e o Esporte Clube Ypiranga – 10 títulos. Existem, em média, 54 equipes por edição, que preenchem as três divisões por ordem classificatória e representam todo o estado.
“Todo o estado? E onde está inserido o Recôncavo no Campeonato Baiano?” Não há equipes na primeira divisão, e são contados a dedo os times que participam da segunda e da terceira categoria, com atuações discretas e colocações finais intermediárias. A mesma população, que reclama do favorecimento da capital e do sul pelas autoridades políticas, não tem a preocupação de investir em seus clubes para participar da disputa.
Entretanto, a culpa não deve ser descarregada apenas no poder executivo dos municípios. Estes lugares costumam ter grupos - geralmente famílias - com grande poder aquisitivo, os quais fazem circular em seus estabelecimentos a maior parte da renda da população. A preocupação com o lucro é certa. Mas o compromisso social, onde fica?
Cachoeira, por exemplo, é uma cidade que tradicionalmente revela bons atletas, devido à existência de pessoas que, mesmo sem apoio financeiro, ainda se empenham para manter o esporte vivo no município. Gente como Altamirando Chaves, 72, presidente da Liga Cachoeirana de Desportos e atual diretor da Colônia Esportiva Cachoeirana - time nativo -, que acredita no esporte como um meio de desenvolvimento e reconhecimento do local.
Mas, infelizmente, não é só de boa vontade que se sustenta uma equipe de futebol e todos os profissionais envolvidos para o bom desenvolvimento de um clube. É preciso organização. Só que, para ela existir, é necessário fazer um investimento no setor esportivo. A inserção de uma cidade como Cachoeira num campeonato como o Baiano não significaria apenas uma maior visibilidade do município nos cenários estadual e nacional, por conta dos jogos televisionados, mas resultaria também numa mudança de vida de muitos jovens sem perspectivas, os quais ingressariam no mundo do futebol.
Segundo o secretário de Educação e Desportos, Alex Kaorner Simões, 40, não existe verba carimbada para esportes no município e os projetos executados são financiados com recursos próprios, disponibilizados pela prefeitura. “A iniciativa de desenvolvimento do futebol na cidade não pode partir apenas da prefeitura, os clubes poderiam tentar investir nas categorias de base”, afirma Kaomer.
A renda gerada em dias de jogos na cidade poderia ser investida em outros projetos sociais. Sem contar que, devido a essa ausência de times preparados e competentes, a população local acaba optando por torcer pelas equipes de maior tradição do estado e que, por coincidência ou não, são da capital: Bahia e Vitória.
Bate-bola: briga de cachorro grande
Diferente dos times do Recôncavo, Bahia e Vitória, hoje, são as equipes de maior respaldo no estado. Não somente os habitantes de Salvador criaram vínculos com os times da própria capital, mas também existem torcedores espalhados por toda a região.
Adroaldo Lafete, 48, e Alexandre Matos, 76, ambos residentes em Cachoeira, mostram-se torcedores fanáticos pelo Bahia e pelo Vitória, respectivamente. Serão vistos, a seguir, trechos da conversa descontraída, de ar provocativo, que foi realizada com cada um deles.
“A torcida atual é fanática, é a mais bonita do mundo. E olhe que torcida de verdade é aquela que vai ao estádio. O saldo de vitórias no BA x VI é de 51, eles vão ter que suar muito para encostar na gente. E as duas estrelas?”, provoca o torcedor tricolor. O rubro-negro, em resposta, afirma: “A torcida do Vitória é a mais bonita, e hoje cresceu muito. Agora voltamos à elite do futebol brasileiro: estamos na primeira divisão”.
O que o Recôncavo realmente precisa é de representação e investimento para que pessoas como Adroaldo e Alexandre possam ter orgulho e possam falar da mesma forma sobre os times nativos.
Por falta de times na região, torcedores optam pelos clubes da capital
Calila Oliveira, Daniela de Oliveira e Mariana Cardoso
O Campeonato Baiano de Futebol é considerado relevante por ter sido o primeiro a ser organizado no Nordeste e o segundo no Brasil. A competição é realizada ininterruptamente há 103 anos e tem, como principais vencedores, o Esporte Clube Bahia – 43 títulos –, o Esporte Clube Vitória – 24 títulos – e o Esporte Clube Ypiranga – 10 títulos. Existem, em média, 54 equipes por edição, que preenchem as três divisões por ordem classificatória e representam todo o estado.
“Todo o estado? E onde está inserido o Recôncavo no Campeonato Baiano?” Não há equipes na primeira divisão, e são contados a dedo os times que participam da segunda e da terceira categoria, com atuações discretas e colocações finais intermediárias. A mesma população, que reclama do favorecimento da capital e do sul pelas autoridades políticas, não tem a preocupação de investir em seus clubes para participar da disputa.
Entretanto, a culpa não deve ser descarregada apenas no poder executivo dos municípios. Estes lugares costumam ter grupos - geralmente famílias - com grande poder aquisitivo, os quais fazem circular em seus estabelecimentos a maior parte da renda da população. A preocupação com o lucro é certa. Mas o compromisso social, onde fica?
Cachoeira, por exemplo, é uma cidade que tradicionalmente revela bons atletas, devido à existência de pessoas que, mesmo sem apoio financeiro, ainda se empenham para manter o esporte vivo no município. Gente como Altamirando Chaves, 72, presidente da Liga Cachoeirana de Desportos e atual diretor da Colônia Esportiva Cachoeirana - time nativo -, que acredita no esporte como um meio de desenvolvimento e reconhecimento do local.
Mas, infelizmente, não é só de boa vontade que se sustenta uma equipe de futebol e todos os profissionais envolvidos para o bom desenvolvimento de um clube. É preciso organização. Só que, para ela existir, é necessário fazer um investimento no setor esportivo. A inserção de uma cidade como Cachoeira num campeonato como o Baiano não significaria apenas uma maior visibilidade do município nos cenários estadual e nacional, por conta dos jogos televisionados, mas resultaria também numa mudança de vida de muitos jovens sem perspectivas, os quais ingressariam no mundo do futebol.
Segundo o secretário de Educação e Desportos, Alex Kaorner Simões, 40, não existe verba carimbada para esportes no município e os projetos executados são financiados com recursos próprios, disponibilizados pela prefeitura. “A iniciativa de desenvolvimento do futebol na cidade não pode partir apenas da prefeitura, os clubes poderiam tentar investir nas categorias de base”, afirma Kaomer.
A renda gerada em dias de jogos na cidade poderia ser investida em outros projetos sociais. Sem contar que, devido a essa ausência de times preparados e competentes, a população local acaba optando por torcer pelas equipes de maior tradição do estado e que, por coincidência ou não, são da capital: Bahia e Vitória.
Bate-bola: briga de cachorro grande
Diferente dos times do Recôncavo, Bahia e Vitória, hoje, são as equipes de maior respaldo no estado. Não somente os habitantes de Salvador criaram vínculos com os times da própria capital, mas também existem torcedores espalhados por toda a região.
Adroaldo Lafete, 48, e Alexandre Matos, 76, ambos residentes em Cachoeira, mostram-se torcedores fanáticos pelo Bahia e pelo Vitória, respectivamente. Serão vistos, a seguir, trechos da conversa descontraída, de ar provocativo, que foi realizada com cada um deles.
“A torcida atual é fanática, é a mais bonita do mundo. E olhe que torcida de verdade é aquela que vai ao estádio. O saldo de vitórias no BA x VI é de 51, eles vão ter que suar muito para encostar na gente. E as duas estrelas?”, provoca o torcedor tricolor. O rubro-negro, em resposta, afirma: “A torcida do Vitória é a mais bonita, e hoje cresceu muito. Agora voltamos à elite do futebol brasileiro: estamos na primeira divisão”.
O que o Recôncavo realmente precisa é de representação e investimento para que pessoas como Adroaldo e Alexandre possam ter orgulho e possam falar da mesma forma sobre os times nativos.
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