quinta-feira, 10 de abril de 2008

Moradores sob risco

Medo de desabamentos e exposição a doenças afetam moradores de encostas em Cachoeira.

Por Avana Cavalcante e
Sayonara Moreno.
Cachoeira é uma cidade localizada num relevo de depressão e, devido a isso, possui dificuldades para a construção de novas casas. Por conta dessa característica e da falta de terrenos, os habitantes com menos condições financeiras sentem-se obrigados a construir nas encostas, nas quais não se cobram impostos e não é necessária a posse legal do terreno.
Um dos maiores bairros periféricos, o Alto da Rodagem, é o que mais sofre atualmente. Com a aproximação das chuvas, aumentam os riscos de desabamentos e as dificuldades de locomoção, onde a falta de escadas de acesso é um dos principais causadores de acidentes com idosos, crianças, e grávidas.
Outro ponto preocupante é a proliferação de doenças causadas pelo acúmulo de entulhos nas casas, onde não há acesso para o transporte coletor de lixo, ocasionando o aparecimento de ratos e insetos, como o mosquito da dengue e o barbeiro. Com a ausência de uma política de infra-estrutura, os moradores não possuem eletricidade, dispondo apenas de postes feitos de madeira, ligados indevidamente à energia de outros bairros próximos. Existe ainda, a falta de saneamento básico que impede os moradores de terem encanamento e esgoto, fazendo com que os dejetos sejam jogados a céu aberto.
Djalma Santos de Almeida, morador há 10 anos, diz não suportar mais os problemas do dia-a-dia e confirma sua vontade ser contemplado pelo projeto da prefeitura com a acessibilidade às casas populares. “Já foi feita a promessa de demolirem a minha casa, por constatarem os riscos, mas nada ainda foi feito.”, afirma o trabalhador rural, de 32 anos.

CASAS POPULARES: a Prefeitura de Cachoeira, juntamente com a Caixa Econômica Federal e o Governo do estado, está realizando um projeto de financiamento de casas populares por um valor acessível aos moradores. Inicialmente, os beneficiados serão os habitantes do Alto da Rodagem, para os quais a prefeitura realiza a construção de 80 casas populares. O projeto ainda se estende a outros bairros de risco e pretende a construção de 200 casas, não iniciada por falta de espaço físico.
Após várias reuniões com os órgãos responsáveis, o Secretário de Obras e Meio Ambiente, Antônio Cláudio Andrade, admite ter dificuldades no término das 80 casas, pelo fato de a Embasa não ter cumprido com o acordo, que seria fazer o encanamento de água e rede de esgoto nas construções.
O processo seletivo de moradores contemplados já foi feito através de inscrições na prefeitura, priorizando as famílias que moram em barracos de madeira ou de taipa e que têm a perspectiva de mudança para o novo local. “A prioridade para os que não têm casas é devido a um problema que já aconteceu no município: as pessoas que já tinham casas vendiam as novas para melhorar as antigas.”, afirma o secretário.

LOCALIZAÇÃO: O projeto das casas populares está implantado numa área distante do centro e do comércio, a Rua da Feira, motivo pelo qual muitos moradores não pretendem mudar-se para a localidade. A saída seria, então, a realização de políticas de melhoria no próprio bairro em dificuldades, com a implantação de infra-estrutura. “O projeto já existe, mas não há recursos para executá-lo. Ali é uma área de risco, e tentamos convencer as pessoas a saírem de lá, mas muitos não aceitam por estarem mais próximas do centro.”, diz Antônio Andrade.
João Roberto Ferreira, morador do bairro desde sua fundação, diz enfrentar dificuldades todos os dias, mas descarta a possibilidade de sair do local. “Gostaria que a prefeitura melhorasse as nossas condições daqui, mas para eu me mudar, é impossível”, afirma o pescador de 63 anos.

Nenhum comentário: