Astrude Modesto, Caio Barbosa e Talita Costa
A depressão é considerada comum dos grandes centros urbanos, onde as pessoas vivem presas à idéia de cumprir suas atividades num curto espaço de tempo. No entanto, uma análise do cotidiano de Cachoeira e São Félix fez perceber que o problema também é recorrente no interior.
Caroline Góis, psicóloga do Centro de Atenção Psicosocial Ana Nery em Cachoeira (CAPS), comentou que a falta de expectativa de um futuro promissor é uma das causas da depressão nos interiores. Ela acredita que o ritmo de vida nas cidades pequenas está se aproximando ao da capital, mas que as oportunidades não são as mesmas.
Segundo Wellington Junior, também psicólogo do CAPS, existe um modismo na sociedade quanto à depressão. As pessoas tendem a confundi-la com alguns sintomas do estado depressivo. “O transtorno bipolar, caracterizado por oscilações entre euforia e desânimo profundo, é que seria realmente um exemplo da doença”, comentou Wellington.
CAPS CACHOEIRA
O Centro Ana Nery é um programa do Governo Federal em parceria com a prefeitura de Cachoeira. Ele desenvolve um trabalho de reabilitação de indivíduos com distúrbios nervosos, atendendo, principalmente, as classes menos favorecidas. Segundo Caroline, 60% dos pacientes apresentam características de um quadro de depressão. Eles são assistidos uma vez na semana por psicólogo e psiquiatra. Ocorrem também encontros semanais com os familiares para esclarecer o tratamento.
“Não contamos com total apoio dos familiares”, afirmou Damaris Calumbi, assistente social do CAPS. O centro tem a proposta de desenvolver em 2008 um programa que reverta a situação, uma vez que o contato com a família dos pacientes é crucial para o bom desempenho do tratamento.
Graça Maria dos Santos, 55, é paciente do centro há dois anos. Sofre de depressão moderada e epilepsia. “Depois que a minha mãe morreu, comecei a ficar muito triste. Aqui no centro, jogo dominó, faço colagens, pulseiras e acabo me distraindo”, fala Graça.
QUADRO CLÍNICO
A doença afeta o estado de humor dos indivíduos, deixando-os geralmente tristes, com cansaço físico e mental exagerado. Estresse, estilo de vida e a ocorrência de fatos marcantes podem causar um estado depressivo.
Existem diferentes estágios de depressão. O leve, quando a pessoa se sente triste, mas ainda consegue desenvolver suas atividades. Na depressão moderada, o indivíduo evita manter contato social. O estágio profundo da doença é marcado por isolamento total. O depressivo não responde a nenhum estímulo.
Quem sofre de depressão, geralmente, faz tratamento com psicólogo e psiquiatra. O primeiro trabalha desenvolvendo atividades que permitam ao paciente mudar o humor. O psiquiatra receita antidepressivos, tais como: Carbolitium, Haldol Lexotan, Melleriil e Rivotril.
BUSCANDO ALTERNATIVAS
Os hospitais de Cachoeira e São Félix não possuem profissionais da área de psiquiatria e psicologia. O atendimento de pacientes que sofrem de problemas do gênero fica restrito basicamente ao Centro Ana Nery, que existe há três anos. Necessitando de um tratamento mais específico, o indivíduo deve se deslocar para outras cidades.
Em São Félix, o Centro Espírita Consolador dos que Sofrem é visto como outra alternativa de recuperação de pessoas que apresentam estado depressivo. Um dos trabalhos do centro é o “Atendimento Fraterno”. Em conversas particulares e individuais com Sildete Oliveira, a coordenadora da atividade, pessoas relatam seus casos e são orientadas a buscar na religião a solução para suas angústias. “Muitos me procuram achando que vão ficar loucos ou pensando em tentar o suicídio, por não encontrarem mais razão na vida”, comenta Sildete.
TÂNIA TORRES
Professora, 53, moradora de Cachoeira, sofre de depressão desde os dezoito anos. Durante a adolescência, por curiosidade, experimentou o álcool e a maconha, tornando-se dependente. Segundo ela, a dependência de drogas teria ocasionado a doença.
Desde o início, Tânia freqüentou psicólogo e psiquiatra. No entanto, ela só tomou consciência de que era depressiva após a morte da mãe em 1997. Sem o amparo materno, chegou a tentar suicídio. Nessa época, passou a freqüentar as reuniões do Grupo Nova Esperança de Cachoeira, que trabalha com a reabilitação de dependentes do álcool.
Hoje, Tânia é atendida por psiquiatra em Feira de Santana e continua participando das reuniões do grupo em uma atividade conhecida por “Cabeceira de Mesa”, momento em que cada participante relata suas histórias e troca experiências. Ela afirma que freqüenta também sessões espíritas. “O grupo e o espiritismo me dão equilíbrio mental, evitando que eu tenha recaídas”, comenta Tânia.
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