segunda-feira, 28 de abril de 2008
AVISO IMPORTANTE
até dia 2 de maio: postar as pautas para a próxima edição do Reverso
Dia 8 de maio: entregar, em versão impressa, a resenha sobre o filme Capote
Dia 15 de maio: entregar as matérias prontas para a próxima edição do Reverso.
bom trabalho
leandro
domingo, 27 de abril de 2008
Leiam
Jornalista que assume cargo na terça defende um produto com menos assuntos e mais análises; para ele, cobertura do caso Isabella mostra que a mídia estimula o que há de pior nos instintos humanos
Jornal precisa encontrar seu novo papel, diz ombudsman
DA REDAÇÃO
NOVO OMBUDSMAN DA FOLHA , Carlos Eduardo Lins da Silva, crê que os jornais brasileiros vivem um momento contraditório. Pelo lado bom, não sofrem da crise de credibilidade que acomete os diários norte-americanos. Pelo ruim, estão perdendo o poder de influenciar a opinião pública. Segundo ele, está na hora de os jornais decidirem que papel vão ter na concorrência com outros meios, como a internet, as rádios e a TV. Defende que o futuro está num produto mais focado, com menos assuntos e mais analítico.Lins da Silva passa a atender os leitores e a redigir uma crítica interna na próxima terça-feira, dia 22. Sua primeira coluna dominical será publicada no dia 27 no caderno Brasil. Na entrevista abaixo, ele fala da proliferação de blogs, da cobertura do caso Isabella e do impasse que culminou com a não-renovação do mandato do ocupante anterior do cargo.
FOLHA -Jornais brasileiros e americanos vivem situações opostas. Lá eles perdem circulação e receita com publicidade. Aqui cresceram as vendas e o volume de anúncios. Qual a razão desse descolamento?
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA - O que acontece no Brasil é uma coisa ilusória e acho que os jornalistas brasileiros não deveriam se iludir com esse bom momento. Primeiro, porque a internet não está muito disseminada aqui como nos EUA. Segundo, nós estamos vivendo esse boom da economia que eu acho que é passageiro. Nos EUA, ao contrário, a internet é quase universal e a economia está começando a sofrer os primeiros tropeços. Na minha opinião, é irreversível a tendência de os jornais impressos perderem circulação.
FOLHA - É a internet que tirará esse público dos jornais?
LINS DA SILVA - Eu acho que a internet já está tirando público e publicidade dos jornais. E será assim se o jornal impresso não revir a sua existência.
FOLHA - Você não acredita que possa crescer o número de leitores de jornais impressos com mais pessoas alfabetizadas e com mais dinheiro no bolso? Nos EUA, nos anos 60, 80% dos americanos com 18 anos ou mais liam jornais durante a semana. Hoje, ainda são cerca de 50%. O Brasil nunca chegou nem perto disso.
LINS DA SILVA - O problema é que no Brasil o crescimento dos meios de comunicação foi atropelado. Nos EUA, o desenvolvimento do capitalismo foi mais ou menos ordeiro. Houve a afluência monetária, que atingiu grande parte da população. Houve a conquista de direitos trabalhistas, que garantiu mais tempo para o lazer. Houve a alfabetização universal. Tudo isso levou a que quase todo mundo lesse jornal. Depois disso surgiu a televisão, a internet. No Brasil, não houve distribuição homogênea de riqueza, ainda há muitos analfabetos e você teve, antes de a leitura de jornais se universalizar, a chegada da televisão e da internet. Então, acho que essa universalização nunca vai ocorrer.
FOLHA - Para enfrentar a perda de circulação, alguns jornais americanos apostam na hiperlocalidade. Focam cada vez mais na própria comunidade. Essa será uma tendência para o Brasil?
LINS DA SILVA - Não sei se isso vai funcionar nem nos EUA. Há uma outra diferença entre os jornais americanos e brasileiros, que é a questão da credibilidade. Lá, eles passam por um momento de perda da credibilidade. Aqui, não. Mas, voltando à questão, não sei se essa é uma solução para os jornais impressos. Porque, também para o provimento da informação local, a internet é um meio mais adequado. Você pode comprar seu ingresso de cinema pela internet. Você pode saber o cardápio do restaurante pela internet. Você não tem como prestar esse tipo de serviço nas páginas do jornal. Para mim, a saída para o jornal impresso é apostar na profundidade, na qualidade e ter mais foco, tratar de menos assuntos. Porque isso a internet não pode dar. O jornal impresso precisa procurar o tipo de conteúdo em que ele se sai melhor, em vez de insistir em competir com a internet naquilo que ela pode oferecer com mais comodidade para o leitor.
FOLHA - Alguns jornais ingleses tentam esse modelo mais focado e mais aprofundado, mas não obtêm mais leitores com isso.
LINS DA SILVA - Eu acho natural que esse modelo que eu defendo tenha menos leitores que o modelo atual. Porque esse novo jornal não deverá atender a todo o universo de possíveis leitores. Ele deve ser dirigido para uma parcela mais específica da população. Pode ter menos circulação, mas gastará menos com papel e poderá ter mais publicidade, focada para aquele público. E o mais importante, ele pode ter mais influência social do que esse jornal dirigido ao público em geral, que é muito caro para ser produzido.
FOLHA - Do ponto de vista da qualidade da informação, deixando de lado circulação e publicidade, você acha que os jornais brasileiros vivem um bom ou mau momento?
LINS DA SILVA - Acho que vive um bom momento, uma vez que não perderam credibilidade, como aconteceu nos EUA. Por outro lado, acho que os jornais brasileiros perderam o poder de influenciar. O maior exemplo foi a eleição presidencial de 2006. Era claro que a maioria dos jornais preferia que Lula não tivesse vencido. No entanto, Lula teve dois terços dos votos. Da mesma forma, no momento do mensalão, a maioria dos jornais de qualidade no Brasil preferia que o desfecho fosse outro.
FOLHA - Qual é o grande desafio dos jornais impressos hoje?
LINS DA SILVA - É definir qual papel terão. Principalmente para manter a influência. O jornal terá que encontrar seu lugar, como o rádio encontrou. Muitos diziam que o rádio morreria com a chegada da televisão. Não foi o que aconteceu. Hoje o rádio está num ótimo momento. Ele descobriu que seu espaço não era mais ser como a Rádio Nacional foi em meados do século passado: o centro das atenções da família no horário nobre da noite. Perdeu audiência, sim. Na época, 80% escutavam a Rádio Nacional. Hoje, 1%. O mesmo vai acontecer com o jornal impresso.
FOLHA - A internet trouxe mais participação dos leitores. Você vê futuro nessas experiências que usam o leitor como provedor de conteúdo?
LINS DA SILVA - Sou bastante cético com relação a isso. Essa suposta democratização da internet, que permitiria ao cidadão ser repórter, é muita demagogia. O público precisa de informação apurada com rigor, com método. Só algumas pessoas, que têm jeito e experiência, conseguem fazer isso.
FOLHA - Este será um ano eleitoral no Brasil. Com isso, o ombudsman deve ser muito procurado por assessores de políticos e também por leitores que acreditam que o jornal está protegendo esse ou aquele candidato. Como você pretende fazer essa fiscalização da neutralidade do jornal e, ao mesmo tempo, separar o que é paixão política, ou interesse de assessores, da opinião mais objetiva de leitores?
LINS DA SILVA - Esse será um dos meus desafios. Eu acho que o jornal tem o direito de endossar um candidato. Não acho que deva, mas tem o direito. Por outro lado, no noticiário, o jornal não tem o direito de endossar um candidato. Ele tem que fazer uma cobertura o mais próximo possível do isento. Como você sabe, não existe objetividade absoluta. Mas existe algo próximo disso, que é equilibrar o espaço dado aos candidatos, não adjetivar, dar enfoque mais ou menos justo para os principais concorrentes. Eu não gosto muito da palavra fiscalização, mas a observação que vou fazer será baseada nisso. Tem que haver equilíbrio e o máximo de isenção possível. É claro que nunca ninguém ficará satisfeito. Mas a medida do sucesso é sempre ser atacado de todos os lados. Quando mais ataques o jornal receber de todos os lados, mais próximo do equilíbrio ele estará.
FOLHA - A internet permitiu também a proliferação de blogs, muitos com enfoque político. Você acha que esses blogs já conseguem influenciar a opinião pública?
LINS DA SILVA - No Brasil, com certeza não. Nos EUA, sim. Essa influência está sendo sentida na eleição presidencial. No entanto, eu acho que é uma influência ruim, perniciosa. Os blogs tendem a acirrar as divisões. Por exemplo, eu acho que essa disputa entre a Hillary Clinton e o Barack Obama está sendo prejudicada pela divisão que os blogs atiçam entre negros e brancos, entre mulheres e homens, entre trabalhadores industriais e profissionais liberais, que é a divisão que se estabeleceu na demografia eleitoral da Hillary e do Obama. No Brasil, é parecido, mas é muito menor porque é pequeno o número de pessoas com acesso à internet e que lêem esses blogs. Mas cria-se um mal-estar por causa do radicalismo de alguns deles, que não argumentam, ofendem. Descem a um nível que nem se pode chamar de debate. E isso contamina o tal formador da opinião pública, que muitas vezes lê esses blogs e acaba sendo contagiado pelo radicalismo, o que cria situações artificiais. A disputa entre petistas e tucanos é muito artificial porque não há tanta coisa que distancie um partido de outro. Mas ela é muito prejudicada pelas pessoas que lêem e até participam desses blogs e se dividem de uma forma muito odiosa.
FOLHA - O ombudsman anterior, Mário Magalhães, condicionou sua permanência no cargo a que o jornal voltasse atrás de decisão tomada no ano passado de não mais divulgar na internet a crítica interna, que, no entender da Direção de Redação, estava sendo usada pela concorrência e instrumentalizada por jornalistas ligados ao Planalto. Você acha que a crítica deveria ser pública?
LINS DA SILVA - Do ponto de vista do ombudsman, acho que essa questão é irrelevante. Do ponto de vista do jornal, inócua. Irrelevante porque qualquer coisa importante da crítica interna poderá estar na coluna de domingo, que é pública. O leitor, então, não perderá nada. Já para o jornal, acho que a medida é inócua porque o fato de ser restrita à Redação não vai impedir que a concorrência e grupos políticos tenham acesso a ela. É impossível impedir que algo que seja distribuído a mais de uma centena de jornalistas não vaze para fora do jornal. Acho que o impasse foi gerado por uma questão que não precisaria tê-lo provocado, nem de um lado nem de outro. O que lamento muito, porque considero que o Mário estava fazendo um bom serviço como ombudsman e isso beneficiava o leitor e o jornal.
FOLHA - Os últimos ombudsmans focaram suas colunas dominicais na cobertura da Folha. Você fará o mesmo ou pretende fazer uma análise mais ampla de toda a mídia?
LINS DA SILVA - Não tratarei na crítica dominical de nenhum outro veículo específico porque não tenho mandato para isso. Meu compromisso é com a Folha e não serei ombudsman dos concorrentes, da televisão ou da internet. Mas, ocasionalmente, posso tratar da mídia em geral porque acho que será interessante para o leitor.
FOLHA - Você assume o posto de ombudsman na terça, mas sempre foi um leitor atento. O que mais te irrita nos jornais?
LINS DA SILVA - O que mais me irrita é superficialidade. Depois, erros de português. E isso é uma bobagem, um pedantismo meu, porque erro de português não é tão importante assim. Em terceiro lugar, me irritam muito invencionices de texto. A tentativa de chamar a atenção com o que o repórter considera engraçado. Por exemplo, começar um texto com uma brincadeira que só me fará perder alguns segundos com algo que não tenha nenhum sentido. Também me irritam algumas opiniões muito ralas, que não acrescentam nada para o leitor.
FOLHA - Como você avalia o trabalho dos meios de comunicação na cobertura do caso Isabella?
LINS DA SILVA - Acho que os jornais estão preocupados em não repetir erros, como ocorreram na cobertura de outros casos policiais que mobilizaram a opinião pública. O que é muito positivo. Há preocupação com aspectos éticos. Mas acho absurdo o que o Clóvis Rossi chama de cenas de jornalismo explícito. Eu vi a saída da prisão do casal suspeito e não consigo encontrar sentido naquele batalhão de cinegrafistas em cima de motocicletas colocando a câmara no vidro do carro em que eles estavam. Não sei qual o valor informativo que pode ter uma imagem como aquela.Só não sei se isso é evitável, porque o público parece querer esse tipo de cobertura. A mídia, nessas horas, acaba estimulando o que há de pior nos instintos humanos, de morbidez e curiosidade doentia.Mas aqui há uma questão. Será que o jornalismo sério precisa mesmo entregar o que o público quer, ou diz querer? Na minha opinião, jornalismo sério tem que atender a demanda do público, mas tem também que liderar. É preciso haver uma troca entre o meio de comunicação e seu consumidor para que o jornal atenda os desejos dos leitores, mas também ajude a melhorar a qualidade desses desejos.
Materia Fumo-Reformulada
Fumo
Convenção Quadro abala fumicultura no Recôncavo
Tratado internacional de saúde pública prevê a erradicação gradativa das lavouras de fumo
Por Gustavo Medeiros, Kelma Costa e Orlando Silva
A Convenção Quadro, estabelecida pela OMS (Organização Mundial de Saúde) tem por objetivo controlar o plantio e cultivo do fumo no mundo. A partir da adesão do Brasil à essa Convenção em 2003, os setores ligados à cadeia produtiva sofrem um impacto substancial, pois a pretensão é que até 2023 as áreas onde o fumo é plantado sejam reduzidas. No Recôncavo da Bahia, região que responde por grande parte de produção e comercialização, a fumicultura enfrentará os danos econômicos causados pela diminuição da área cultivada, como a repercussão negativa no cenário socioregional, alem do desemprego, atingindo principalmente da mão de obra feminina que é maioria. Atualmente, o debate na Câmara Setorial do Fumo, que congrega os setores da cadeia produtiva do fumo, representantes do Executivo e Legislativo e o ministério da saúde, se estende à estrutura da indústria fumageira e os males causados pelo tabagismo, bem como a provável substituição da cultura do fumo por outras lavouras.
INTENÇÕES - Para Osvaldo da Paz, secretário da agricultura de Cruz das Almas, a Convenção Quadro não tem a intenção de acabar com a fumicultura no Recôncavo, mas sim promover uma diversificação na atividade, uma vez que a pretensão do ministério da fazenda é fixar taxas sobre os charutos e cigarrilhas produzidos. Segundo ele, para lidar com a redução de postos de trabalho, decorrente da queda na produção, um projeto foi elaborado e discutido com diversos órgãos, que consiste em incentivar a produção de oleaginosas nas áreas de fumo, ressaltando que é impossível substituir a atividade fumageira, devido a garantia da assistência técnica oferecida pelas empresas, desde a formação das mudas até a sua comercialização.
O secretário também enfatiza que, devido às condições climáticas, além das restrições em algumas regiões do mundo, muitas empresas irão migrar para o Recôncavo, onde se produz o melhor fumo capeiro.
Quanto às mulheres, que são maioria na produção de charutos, da Paz afirmou que existe outro projeto que consiste na confecção de doces caseiros em parceria com a EBDA (Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrário) e a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), além de outros cursos que capacitam as operárias do fumo. “Enquanto houver consumidores, haverá plantadores e só vai parar de plantar fumo quando não tiver mais produtor de charutos”, afirma.
IMPACTOS ECONÔMICOS - Josenita Salomão, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Fumo e Alimentícia, afirma que haverá uma diminuição no número de empregos, aumento dos impostos nas exportações e um acúmulo de importações a custos baixos de charutos.
Em toda a região, a atividade fumageira gera em torno de 18.470 empregos diretos e indiretos. No município de Cruz das Almas, este número não aparece definido, contudo, Josenita salienta que a tendência é haver uma diminuição na quantidade de postos de trabalho. Ela se diz mais preocupada com os trabalhadores que possuem contrato de três meses. Os empregadores fazem isso para não pagar encargos sociais, o que precariza as relações de trabalho. “Isso é legal, mas é imoral”, alega.
Para ela, a Convenção Quadro vai acabar com áreas de plantio, ocasionando um aumento no índice de marginalidade, além da fome e do desemprego. A sindicalista vislumbra um futuro triste para a fumicultura na região com a ratificação feita pelo Brasil e cita o exemplo da cidade de Maragojipe, onde a Suerdieck fechou as portas, restando apenas a atividade pesqueira como opção para os antigos trabalhadores. “O fumo está na UTI”, diz Josenita.
Daniel Schimidt, gerente de pessoal da DANCO, afirma que, com a diminuição no cultivo de fumo, haverá uma decorrente redução na necessidade de produção, logo isto vai acarretar em uma ligeira queda na circulação de dinheiro, alem da diminuição da cadeia produtiva. Segundo ele, houve uma redução de 85% na produção nos últimos 10 anos.
Quanto a redução do plantio, os empresários alegam que a questão do Custo Brasil para exportação inviabiliza a produção, devido ao valor do Dólar em relação ao Real, alem do aumento dos impostos.
RELAÇÃO - Carlindo Pinto, agricultor em Cabaceiras do Paraguassu, afirma que a relação entre o agricultor e as companhias fumageiras consiste na integração, onde as empresas fornecem todos os insumos para o plantio do fumo, financiam o custeio e proporcionam a estrutura para a produção. Em contrapartida, o lavrador tem que entregar a produção total ou parcial. Na época de grande demanda, o armazém compra a safra, mas quando há excendente de fumo os compradores rejeitam. Tambem existe a figura do atravessador, que é um aliado dos fumicultores.
Há 2 anos sem produzir fumo,Carlindo contou que já vendeu 247 arrobas para a Fumex Tabacaleira no ultimo ano de produção,conseguindo um preço médio de R$ 50,00 por arroba e alega que desistiu de plantar fumo devido a falta de compromisso das empresas fumageiras,uma vez que a margem de lucro do agricultor é pequena,por conta do baixo retorno financeiro.Ele declara que está plantando limão,pois dá menos trabalho do que a fumicultura,que leva em torno de 8 meses de trabalho intensivo,alem de maior quantidade de pessoas na mão de obra.
Outras causas estão na baixa produtividade da planta e nos prejuízos à saúde devido as condições de trabalho. Atualmente, com o plantio do limão, sobra o tempo necessário para as atividades escolares, a exemplo da sua graduação no curso de jornalismo da UFRB.
DANOS - No que diz respeito aos problemas contraídos pelo trabalho com o fumo, Josenita Salomão alega que nenhum aposentado sentiu nada e ela nunca ouviu dizer que alguém teve problemas no contato com o fumo. Segundo ela, atualmente, antes de entrar na firma, os trabalhadores fazem exames médicos.
Já Dona Maria Francisca, operária fumageira aposentada, diz que trabalhou dos 11 aos 39 anos em condições insalubres e contraiu um nódulo no pulmão. Segundo ela, muitas pessoas que trabalharam com o fumo têm o mesmo problema. Dona Maria afirma que, quando era criança e trabalhava na indústria de fumo, ela ficava escondida nos banheiros para não ser descoberta pela fiscalização.
A Convenção Quadro introduziu uma série de regras no intuito de reduzir e prevenir o consumo de cigarros, tentando coibir os males causados pelo consumo do tabaco nos países em desenvolvimento.
Daniel Schimidt relata que o Brasil tem enrijecido bastante a legislação antitabagista, promovendo um aumento mínimo de R$ 4,00 no maço de cigarros para inviabilizar o consumo. Esse reajuste ainda não foi aprovado pela Receita Federal, devido ao grande numero de produtos clandestinos oriundos do Paraguai, que pode ser agravado com o aumento dos preços no Brasil.
HISTÓRICO - O fumo já era cultivado na América bem antes do contato do povo europeu. Produzido em larga escala no período colonial, estava voltado para o mercado externo e, no Recôncavo, ficou paralelo à economia açucareira, sendo utilizado como troca na aquisição de escravos africanos. No final do século XIX, com a chegada do processo de industrialização no Brasil, várias indústrias estrangeiras se instalaram na região. É o período áureo da produção fumageira.
Nas primeiras décadas do século XX, a região chegou a ter 50 unidades fabris, dentre elas a Suerdieck e a Danemann. Essa última continua a funcionar nas cidades de São Felix e Cruz das Almas, possuindo na força de trabalho feminino o seu maior efetivo. Antes do processo de industrialização, era muito comum vê-las enrolarem o fumo “nas cochas”. Elas continuam sendo maioria na produção de charutos e das cigarrilhas. No inicio da década de 80, uma crise, decorrente da superprodução, assolou o fumo baiano.
Hoje, a atividade se estende por quase toda a região, tornando assim uma prática econômica forte e acima de outras culturas. Segundo dados da SEAGRI (Secretaria Estadual de Agricultura), os principais clientes são alguns países europeus, além da Indonésia, Tunísia, Estados Unidos e Honduras. Quanto às áreas plantadas, são, aproximadamente, 13 mil hectares, o que faz gerar uma media de R$ 5,00 por quilo da folha, chegando, no primeiro semestre de 2007, aos R$ 55,6 milhões o valor da produção. O Recôncavo responde por 42% da produção fumageira no Nordeste, proporcionando um faturamento bruto de R$ 16 milhões. A Bahia participa com 66% da produção nordestina, seguido de Alagoas, onde a produção cresceu 30% no ano de 2006, segundo dados do historiador Jean Baptiste Nardi,especialista em fumo.
ALTERNATIVAS – No Recôncavo instala-se a UFRB (Universidade Federal do Recôncavo), EBDA (Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrário) e a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), instituições que podem, a partir dos seus potenciais de pesquisa e transferência de tecnologia, viabilizar alternativas capazes de substituir a cultura do fumo por outras culturas destinadas a alimentação e ao agrocombustivel. Pelo menos foi o que definido na reunião realizada em 2007 para discutir as alternativas paralelas à fumicultura diante da perspectiva de um quadro caótico para o Recôncavo Baiano. Segundo a secretaria de agricultura de Cruz das Almas, o ministério do desenvolvimento agrário lançou um programa que visa diversificar a fumicultura, preparando o agricultor e capacitando os jovens no PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar).
OS CLIENTES Principais destinos do tabaco da Bahia | |
Destino | Percentual |
Paises Baixos | 23% |
Alemanha | 16% |
Indonésia | 16% |
Bélgica | 10% |
Portugal | 6% |
Honduras | 5% |
Estados Unidos | 4% |
Tunísia | 3% |
Espanha | 3% |
Outros | 14% |
Fonte: Seagri-BA/Secex
PELO MUNDO Exportações baianas de tabaco | ||
Ano | US$ FOB | Volume (Kg) |
2000 | 15.353.229 | |
2001 | 14.553.463 | |
2002 | 14.664.194 | |
2003 | 17.320.357 | |
2004 | 16.748.424 | |
2005 | 15.653.452 | |
2006 | 24.641.077 | |
2007* | 11.530.645 | |
*Dados de janeiro a agosto de 2007
Fonte: Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC),
Aliceweb – Elaboração: Seagri-BA/SPA
PRODUÇÃO BAIANA Perfil da fumicultura – Safra 2007 | |
Produção (t) | 11.122 |
Área (há) | 12.485 |
Rendimento (kg/há) | 891 |
Valor da produção (folha) | R$ 55.610.000,00 |
Preço médio (Kg/folha) | R$ 5,00 |
Fonte: Seagri-BA, outubro de 2007
EMPREGOS Pessoas envolvidas na atividade na Bahia – Safra 2007 | |
Categoria | Pessoas |
Integrados | 4.739 |
Proprietários | 5.630 |
Parceiros (integrados + independentes) | 2.970 |
Armazém (beneficiamento do fumo) | 4.138 |
Produção de charutos/cigarrilhas | 1.000 |
Total | 18.477 |
Fonte: Seagri-BA
quarta-feira, 16 de abril de 2008
Para nossa aula de 17/04
Em "Órfãos do Eldorado", Milton Hatoum se afasta da tradição novelesca européia e despreza a abordagem regionalista
LUIZ COSTA LIMA
COLUNISTA DA FOLHA
Por sua configuração mais curta, a novela exige um relato sintético. Como, entretanto, fazer com que o menor espaço narrativo não prejudique a complexidade do relato? Nenhuma resposta abstrata é cabível. Só podemos apontar para casos modelares. Por exemplo, para o "Órfãos do Eldorado", o novo livro de Milton Hatoum.
Para o leitor que conheça seus três romances anteriores e que ainda não haja lido a recente novela essa poderia parecer a retomada de uma temática de perda e dissipação, tendo como espaço Manaus e o Amazonas.
A impressão estará correta desde que o leitor não confunda retomada com repetição. É a síntese própria da novela que impõe a diferença. A diferença será melhor compreendida se antes formularmos o horizonte que envolve essa novela e as obras anteriores.
Em comum, Hatoum despreza a abordagem de tanto prestígio entre nós, fixada entre as décadas finais do século 19 e as primeiras do 20: a abordagem regionalista -uma espécie de realismo de costumes. Despreza-o para que estabeleça uma outra deriva entre a narrativa mítica e a novelesca (abrangendo romance e novela), distinta daquela que se disseminaria a partir da Europa sobretudo do século 18.
Metamorfoses do mito
A tradição novelesca então constituída tivera como matéria-prima situações do cotidiano, que se impunham sobre o fantástico e o maravilhoso derivados dos mitos antigos. O regionalismo era uma deriva daquela tradição novelesca por diferençar o cotidiano de uma certa área geográfico-cultural.
É bem outro o caminho assumido por Hatoum. Ele se dá de maneira comparável ao que se cumpriu tanto no chamado "realismo mágico" latino-americano como no relato curto faulkneriano. Daquele se diferencia por ser antes surpreendente do que mágico, deste por não recorrer a situações escabrosas ou espantosas.
Tais diferenças, contudo, não impedem que os vejamos como integrantes de uma família da qual estão excluídos, por exemplo, Balzac e Flaubert e que exprimem outro modo de transformação da massa mítica.
No caso específico da novela de Hatoum, as metamorfoses do mito se cumprem pelas alterações pelas quais passa a lenda do Eldorado. Miticamente, o Eldorado de que a novela de Hatoum se afasta se confunde com uma cidade submersa e encantada.
Ele deixa de tematizá-la para que identifique o Eldorado com um naufrágio. É certo que, nos dois casos, o Eldorado é o invisível, o que está fora do alcance do olhar cotidiano. Mas essa comunidade de sentido importa apenas para que se confirme o afastamento quanto à tradição novelesca européia.
Na novelística de Hatoum, o naufrágio tem uma tríplice dimensão. É do cargueiro assim chamado, em que se concentrava a riqueza paterna do narrador; nominalmente, é da ilha para onde foge a órfã amada, de quem tampouco se sabe se fora filha ou amante de seu pai; e, sobretudo, do poder e da riqueza que haviam sido de seu avô e de seu pai.
A passagem do tempo, concentrando-se o relato na geração do neto, apresenta pois uma derrocada progressiva. Ela se consuma com a venda da residência em Vila Bela e a extensa propriedade em área vizinha. O narrador é portanto o estróina do que fora acumulado por duas gerações?
Sim, mas não só. Enriquecer ali significa, como sucedera com o avô, usufruir do massacre de nativos e caboclos, apossando-se então da área que os mortos ocupavam e, como o pai, auferir os ganhos de contrabandista e as vantagens propiciadas por seu relacionamento com os políticos.
Múltipla orfandade
O Eldorado mítico é algo, portanto, que se destrói com a passagem para o relato novelístico. Esse não prolonga o mito pelo que então seria sua... mitificação, senão que, ao contrário, demonstra como à mudança no regime narrativo correspondeu uma múltipla orfandade. Essa só é nomeada pela combinação entre o narrador, que, estróina, não tem a energia acumulativa do avô e do pai, e o conhecimento das transações destes pelo amigo, advogado e amante da poesia, que funciona como o mediador entre o pai e o filho, convertido em quase mendigo.
Relações eróticas
Tal combinação, ademais, sucede entre alguém que se mantém solteiro, o advogado e leitor dos poetas, e o estróina, sufocado por um erotismo que, duas vezes, o põe numa contigüidade extrema quanto ao pai: ainda em criança, ao ser sexualmente iniciado pela índia que presta "serviços" ao patriarca, depois, ao se apaixonar por aquela que, depois de entregar-se a ele, desaparece, refugia-se numa ilha (chamada Eldorado) e de quem o amigo advogado declara não saber se era sua irmã ou amante de seu pai.
Em suma, a destruição do Eldorado mítico interfere diretamente no campo das relações eróticas.
Nada estranha, por isso, que, na procura da mulher amada, o narrador, ao chegar ao local em que provavelmente está ela refugiada, nele encontre, além do "cheiro e o asco dos insetos", apenas a solidão: "Aquele lugar tão bonito, o Eldorado, era habitado pela solidão".
LUIZ COSTA LIMA é crítico e professor da Universidade do Estado do RJ e da Pontifícia Universidade Católica (RJ). Escreve regularmente na seção "Autores", do Mais!.
ÓRFÃOS DO ELDORADO Autor: Milton Hatoum Editora: Companhia das Letras Quanto: R$ 29 (112 págs.)
+ livrosPara gostar de ler
Livro sobre o "Suplemento Literário", do "Estado de S. Paulo" expõe atual elitização da leitura
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Meio século e um ano atrás, "O Estado de S. Paulo" resolveu pagar bem a um grupo de intelectuais de primeira linha para produzir uma "apensa" ao jornal: seis páginas semanais dedicadas à literatura, sob o título de "Suplemento Literário".
Basta mencionar os nomes dos editores e colaboradores para ter certeza da qualidade do produto: Antonio Candido, Décio de Almeida Prado, Paulo Emílio Salles Gomes, Lourival Gomes Machado, Leyla Perrone-Moisés, Nilo Scalzo, entre diversos outros.
Quem ilustrava os textos dessa gente eram artistas como Aldemir Martins, Clóvis Graciano, Marcelo Grassman, Di Cavalcanti, Maria Bonomi, Hilde Weber, Renina Katz, Wesley Duke Lee, Livio Abramo. A história deste marco da cultura brasileira, que viveu de 1956 a 1974, está relatada em "Que Falta Ele Faz!", de Elizabeth Lorenzotti. Trata-se de documento inestimável para a história do jornalismo e da vida intelectual do país.
Dentre os registros que ele traz, de incalculável valor para os profissionais e estudiosos da comunicação atuais, está a reprodução fac-similada do projeto que Antonio Candido apresentou a Júlio de Mesquita Neto e Ruy Mesquita para o suplemento e foi integralmente aceito pelos diretores do jornal. Em toda a sua existência, o "Suplemento Literário" não sofreu censura nem pressões.
O plano original foi cumprido à risca, independentemente das tensões ideológicas e econômicas que o país viveu, como relatam seus sobreviventes. Mas a sociedade mudou, o jornalismo também e o suplemento acabou. Lorenzotti diz que ele faz falta. Mas o fato é que aqueles seus objetivos de "servir como instrumento de trabalho e pesquisa aos profissionais da inteligência" e "nunca transigir com a preguiça mental, com a incapacidade de pensar" talvez tenham deixado de fazer sentido no mundo contemporâneo.
Sem pessimismo saudosista, é difícil fugir à realidade de que hoje em dia lê-se cada vez menos. Não só aqui no Brasil; no mundo todo.
Sete minutos por dia
O National Endowment for the Arts (entidade pública independente nos EUA) divulgou no ano passado pesquisa segundo a qual os jovens americanos entre 15 e 24 anos gastam em média sete minutos por dia de semana em leitura voluntária (ou seja, não como tarefa escolar obrigatória). A venda de livros nos EUA caiu de 8,21 por habitante/ano em 2001 para 7,93 em 2006. A despesa com livros por domicílio americano em 2007 foi a mais baixa em 20 anos, e o preço médio cresceu substancialmente -ou seja, as pessoas estão consumindo menos livros.
No Brasil, embora as livrarias estejam comemorando um crescimento de 15% em seu faturamento em 2007 em relação ao ano anterior no bojo da onda do aumento generalizado do consumo, não há nenhum sinal de que o número de leitores ou que o tempo gasto em leitura estejam também subindo.
Neste cenário, será que o "Suplemento Literário" ou algo do seu gênero teria como existir? Provavelmente não se o jornalismo se mantiver no mesmo rumo que tem seguido nas últimas décadas.
No último quarto do século 20, o jornalismo impresso resolveu enfrentar o avanço dos meios eletrônicos sobre o consumidor de informação mimetizando os adversários. A fórmula mais apurada desse processo foi o diário "USA Today", que tentava aparentar-se a uma TV no papel. A estratégia deu certo por uns tempos. Mas, depois de cerca de 20 anos, o próprio "USA Today" resolveu editar textos mais longos e aprofundados, aparentemente convencido de que o público dos veículos impressos nunca mais irá crescer e exige material de qualidade superior.
Na edição de 24 de dezembro da revista "The New Yorker", o escritor Caleb Crain especula sobre a possibilidade de que "a leitura de livros por prazer um dia se tornará o domínio de uma "classe de leitores" especial, à semelhança da que existiu até a segunda metade do século 19, quando chegou a leitura de massa".
Ler ficção poderá se tornar um hábito arcano de uns poucos, que poderão desfrutar de prestígio social ou não. Se e quando isso acontecer, talvez os jornais impressos venham a ser o veículo preferencial dessa casta, e aí, então, produtos como o "Suplemento Literário" realmente farão falta e poderão voltar a existir.
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA é livre-docente e doutor em comunicação pela USP e diretor de relações institucionais da Patri Políticas Públicas.
SUPLEMENTO LITERÁRIO - QUE FALTA ELE FAZ!
Autora: Elizabeth Lorenzotti Editora: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo (tel. 0/xx/11/ 6099-9800) Quanto: R$ 40 (208 págs.)
MUNICIPIO (Materia completa)
Ponte Dom Pedro II, localizada entre Cachoeira e São Félix, espera pelo regresso da reforma enquanto sua estrutura está comprometida
Hamurabi Dias, Rosivaldo Mercês e Deyvson Oliveira
Como nos fala os versos do poeta cachoeirano Roque Sena: “São duas cidades/Todas duas lindas/Tem uma ponte que separa/Mais bonita ainda”. Apesar da sua importância histórica, a Imperial Ponte Dom Pedro II, única via rodo-ferroviária entre as cidades de Cachoeira e São Félix, localizada no Recôncavo baiano, encontra-se envolvida em uma série de discussões sobre a paralisação nas obras de restauração.
A empresa FCA (Ferrovia Centro Atlântica S.A.), com sede em Minas Gerais, dona da concessão dos trilhos ferroviários que passam pelos municípios de Cachoeira e São Félix desde o ano de 1997, é responsável também pelos reparos na ponte que interliga as duas cidades. Porém, a obra está parada. Segundo o técnico do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em Cachoeira, Aníbal Garrido, não houve, por parte do órgão, um embargo à reforma. Segundo ele, a empresa tem que respeitar um prazo de 30 meses, ou seja, até o final de 2009 para finalizar a obra, pois o projeto apresentado pela FCA foi aprovado por esse instituto.
Outra questão abordada é que a FCA estava realizando uma troca dos dormentes (lastros) de madeira por placas metálicas. Segundo Garrido, seria para prováveis testes de resistência do material usado. Pelo que foi investigado, essas placas metálicas ainda estão no trecho da ponte em que foram colocadas pela FCA durante sua obra ainda inacabada. Uma reportagem feita pelo jornal A Tarde, em abril de 2004, mostrou um relatório do corpo técnico da FCA, que alertava sobre o grande fluxo de automóveis de alta tonelagem sobre a ponte. Constava no relatório que o trânsito constante de carretas de 20 a 25 toneladas poderia acarretar na ruptura da estrutura. A ponte está em uma situação que inspira cuidados, é notável que em seu percurso existam deficiências que causam, muitas vezes, acidentes como dormentes já soltos e apodrecidos que formam buracos que dificultam a passagem de pedestres e o tráfego de carros. Segundo a assessoria de imprensa da empresa mineira existe um projeto de restauração e reforço estrutural no local. No ano de 2007, começou a ser executada a primeira etapa da referida obra, com a instalação das placas metálicas. A assessoria ainda informa que a FCA, está concluindo o processo de contratação de uma nova empresa para finalizar a próxima etapa da obra.
OPINIÃO PÚBLICA – A população ainda desconhece os reais motivos da possível suspensão das obras. Muitos concordam que seria viável uma reforma na ponte, pois já presenciaram alguns acidentes envolvendo pedestres e motoristas no local. “A reforma está boa, mas agora parou tudo aí, porque o patrimônio não quer deixar”, acredita o ambulante Luis Alberto de Jesus, 58, que trabalha nas proximidades da ponte há dois anos. Ele ainda disse que já viu muitos carros furando pneus e quedas de motos na ponte.
Mariluce Dayube, 54, já se envolveu em um acidente com seu carro na ponte. “Fiquei com trauma, até hoje não dirijo”, disse. Marcos Antonio da Silva, 65, é a favor da troca das madeiras pelas placas de metal. “A melhor reforma que teve foi aquela placa de ferro”, opina.
O guarda municipal da cidade da Cachoeira, Roberto Carlos, que trabalha no controle do tráfego na ponte há seis anos, informou que pela atual condição, a ponte merece uma reforma. “Já vi muitos carros batendo, a tábua levanta, buracos que ficam no meio da ponte. Começaram a colocar as chapas de ferro, mas pararam não sei o porquê”. Segundo ele, a paralisação da obra pode ter ocorrido por que existiam empresas interessadas em fazer a reforma e estava havendo um processo de licitação.
DESCARACTERIZAÇÃO – A Imperial Ponte Dom Pedro II, tombada em 1971 como parte do conjunto arquitetônico de Cachoeira, foi moldada na Inglaterra e inaugurada no Brasil em 1885, época do II Reinado. A razão de ser desse patrimônio é que, na época, não existia nenhuma ligação entre as cidades de Cachoeira e São Félix e, como já havia trilhos na cidade, foi necessário construir uma ponte para dar continuidade à ferrovia. Ela possui o comprimento total de 365 metros e largura de aproximadamente 9 metros. As vigas, que hoje encontram-se enferrujadas são fabricadas em treliças de banzos paralelos, com múltiplas diagonais em dois sentidos.
O técnico do IPHAN, Aníbal Garrido, diz que há uma preocupação de muitos com a descaracterização da ponte com a troca dos dormentes de madeira. Para ele, isso não afetaria o aspecto visual do patrimônio. Ele lembra que já existiram muitas substituições de dormentes, ou seja, o aspecto original da ponte já foi descaracterizado, ainda que indiretamente. Para os cachoeiranos e sanfelistas que utilizam essa passagem que atravessa o rio Paraguaçu em seu dia-a-dia, a recuperação, de uma forma ou de outra no local, é urgente. “O critério como deve se fazer a reforma eu não posso opinar porque eu não entendo, mas deveria ter mais segurança para os pedestres e motoristas”, diz a comerciante Mariluce Dayube.
Símbolo da importância econômica do Recôncavo no século XIX, a ponte Dom Pedro II, com seus 123 anos, continua sendo de importância fundamental para as cidades do Recôncavo, servindo como via de escoamento para os diversos produtos que ocupam os vagões de carga da FCA, e de via alternativa para as pessoas que precisam atravessá-la rumo ao seu trabalho ou suas casas.
terça-feira, 15 de abril de 2008
Matéria Reformulada - Futebol
Por falta de times na região, torcedores optam pelos clubes da capital
Calila Oliveira, Daniela de Oliveira e Mariana Cardoso
O Campeonato Baiano de Futebol é considerado relevante por ter sido o primeiro a ser organizado no Nordeste e o segundo no Brasil. A competição é realizada ininterruptamente há 103 anos e tem, como principais vencedores, o Esporte Clube Bahia – 43 títulos –, o Esporte Clube Vitória – 24 títulos – e o Esporte Clube Ypiranga – 10 títulos. Existem, em média, 54 equipes por edição, que preenchem as três divisões por ordem classificatória e representam todo o estado.
“Todo o estado? E onde está inserido o Recôncavo no Campeonato Baiano?” Não há equipes na primeira divisão, e são contados a dedo os times que participam da segunda e da terceira categoria, com atuações discretas e colocações finais intermediárias. A mesma população, que reclama do favorecimento da capital e do sul pelas autoridades políticas, não tem a preocupação de investir em seus clubes para participar da disputa.
Entretanto, a culpa não deve ser descarregada apenas no poder executivo dos municípios. Estes lugares costumam ter grupos - geralmente famílias - com grande poder aquisitivo, os quais fazem circular em seus estabelecimentos a maior parte da renda da população. A preocupação com o lucro é certa. Mas o compromisso social, onde fica?
Cachoeira, por exemplo, é uma cidade que tradicionalmente revela bons atletas, devido à existência de pessoas que, mesmo sem apoio financeiro, ainda se empenham para manter o esporte vivo no município. Gente como Altamirando Chaves, 72, presidente da Liga Cachoeirana de Desportos e atual diretor da Colônia Esportiva Cachoeirana - time nativo -, que acredita no esporte como um meio de desenvolvimento e reconhecimento do local.
Mas, infelizmente, não é só de boa vontade que se sustenta uma equipe de futebol e todos os profissionais envolvidos para o bom desenvolvimento de um clube. É preciso organização. Só que, para ela existir, é necessário fazer um investimento no setor esportivo. A inserção de uma cidade como Cachoeira num campeonato como o Baiano não significaria apenas uma maior visibilidade do município nos cenários estadual e nacional, por conta dos jogos televisionados, mas resultaria também numa mudança de vida de muitos jovens sem perspectivas, os quais ingressariam no mundo do futebol.
Segundo o secretário de Educação e Desportos, Alex Kaorner Simões, 40, não existe verba carimbada para esportes no município e os projetos executados são financiados com recursos próprios, disponibilizados pela prefeitura. “A iniciativa de desenvolvimento do futebol na cidade não pode partir apenas da prefeitura, os clubes poderiam tentar investir nas categorias de base”, afirma Kaomer.
A renda gerada em dias de jogos na cidade poderia ser investida em outros projetos sociais. Sem contar que, devido a essa ausência de times preparados e competentes, a população local acaba optando por torcer pelas equipes de maior tradição do estado e que, por coincidência ou não, são da capital: Bahia e Vitória.
Bate-bola: briga de cachorro grande
Diferente dos times do Recôncavo, Bahia e Vitória, hoje, são as equipes de maior respaldo no estado. Não somente os habitantes de Salvador criaram vínculos com os times da própria capital, mas também existem torcedores espalhados por toda a região.
Adroaldo Lafete, 48, e Alexandre Matos, 76, ambos residentes em Cachoeira, mostram-se torcedores fanáticos pelo Bahia e pelo Vitória, respectivamente. Serão vistos, a seguir, trechos da conversa descontraída, de ar provocativo, que foi realizada com cada um deles.
“A torcida atual é fanática, é a mais bonita do mundo. E olhe que torcida de verdade é aquela que vai ao estádio. O saldo de vitórias no BA x VI é de 51, eles vão ter que suar muito para encostar na gente. E as duas estrelas?”, provoca o torcedor tricolor. O rubro-negro, em resposta, afirma: “A torcida do Vitória é a mais bonita, e hoje cresceu muito. Agora voltamos à elite do futebol brasileiro: estamos na primeira divisão”.
O que o Recôncavo realmente precisa é de representação e investimento para que pessoas como Adroaldo e Alexandre possam ter orgulho e possam falar da mesma forma sobre os times nativos.
sábado, 12 de abril de 2008
MODA
Pérola Negra
Cachoeira, cidade histórica do Recôncavo Baiano, tem uma população de maioria afro-descendente. Segundo o site de pesquisa Wikipédia, a tal já foi conhecida como ‘Meca da Bahia’, pela grande influência malê sobre a cidade.
A região é bastante conhecida pela sua cultura afro-religiosa, abrigando inúmeros terreiros de candomblé. Mas essa não é a única herança deixada pelos negros. A moda afro está nos penteados, acessórios e vestimentas de muitos moradores.
Pelas ruas da cidade é possível constatar facilmente essa influência. Mulheres usando tranças é uma típica imagem que compõe o cenário da região. Não só as mulheres continuam seguindo essa tendência, os homens também trançam seus cabelos, fazem black powers ou dreads. Além disso, as contas de orixás colorem a cidade, seja nos braços ou pescoço de algum cachoeirano. As contas podem ser encontradas no comércio da mesma sem muito esforço, é o caso da Miscelânea Iemanjá. Em entrevista com a neta da dona, Idália Souza dos Santos, 19 anos, ela disse que todo tipo de pessoas vai ao estabelecimento, desde turistas a curiosos. O lucro é relativo, a depender da época do ano, e as vendas ajudam no orçamento.
Fonte de renda e Cultura
A moda afro é, contudo, uma fonte de renda para a população. Jacyara Santos Silvério Ferreira, 20 anos, é uma das mulheres da região que se beneficiam. Ela trança cabelos desde os 14 anos e disse que muitas pessoas procuram pelos seus serviços, o qual é sua única fonte de renda.
Apesar dos cabelos trançados representarem muito bem a cultura afro na Bahia, e especialmente na cidade de Cachoeira, há também quem não goste muito de usar esse tipo de penteado, e prefere os alisamentos, escovas e pranchinhas.
È o caso da estudante Cryhna Pereira de 18 anos, que diz alisar o cabelo por ser mais conveniente: “Acho que meu cabelo fica melhor liso, até por que quando faço tranças minha testa fica cheia de espinhas, já fiz tranças, mas prefiro dar escova. Por isso desde o ano passado eu dou alisante regularmente.
A questão da identidade com os cabelos trançados, também retoma a discussão do resgate e da valorização da auto-estima do negro, como afirmou Alan Félix, 21 anos estudante de História da UFRB: “Eu gosto do cabelo trançado, não só do ponto vista da estética da beleza mas é um ponto de afirmação de sua negritude, chama mais minha atenção o cabelo trançado por causa disso.Não tenho discriminação nem preconceito, com quem alisa, mas não me cativa.Acredito que ao alisar os cabelos crespos é uma forma de você buscar se enquadrar num padrão de beleza instituída pela sociedade. É uma beleza midiática. E você acaba esquecendo sua origem, e se apagando enquanto indivíduo e entrando num padrão geral.As tranças tem o caráter da afirmação da identidade, a mídia também esta se apoderando disso, com a “beleza negra”, e eu acho que desta forma está se perdendo esse caráter de identidade. Trançar deixar o cabelo black, era uma forma de contrapor essa sociedade e se auto afirmar enquanto negro, e dizer: eu sou negro e me aceito como eu sou.”
Essa opinião também é compartilhada por Adriana da Silva 14 anos, estudante do Colégio Estadual da Cachoeira: “Tranço meus cabelos desde pequena, meu cabelo é muito cheio, eu tranço pra arrumar, isso faz o cabelo crescer também. Apesar de alisar desde ano passado, me sinto muito mais representada como negra quando uso minhas tranças. Acho bonito e diferente, você pode colocar tranças vermelhas, de cores diferentes, acho que combina mais com a raça.”
Trançando ou alisando, é um fato que a moda é muito influenciada pela cultura afro, e podemos perceber isso a cada novo penteado, a cada trançado colorido, a cada inovação nos cabelos das mulheres negras.
Moda e religião
Há aqueles também que seguem o estilo afro sem ligações diretas a moda. A Irmandade da Boa Morte e o Terreiro do Caboclo Guarany de Oxóssi são exemplos disso. A indumentária originada dos africanos é utilizada no dia a dia e em festas. As negras da Boa Morte têm um vestuário para cada dia de festa da Irmandade, que acontece todos os anos, do dia 13 a 15 de agosto. Segundo Nilza Matias da Paixão, conhecida por Nini, no primeiro dia, as irmãs saem em procissão vestidas de branco, simbolizando luto pelo anúncio da morte de Maria. Nesse dia, elas também usam contas de orixás. No segundo dia elas vestem a beca ao contrário e carregam lenços em suas cabeças com outro lenço por cima chamado de bioco. O bioco é uma homenagem aos negros mulçumanos. No dia 15, último dia, elas celebram Maria usando a beca e uma farda, adicionada de jóias e bijuterias, com o intuito de “relembrar quando elas eram consideradas negras Partido Alto”, disse Valmir Pereira, administrador do Memorial da Irmandade da Boa Morte. Esses trajes são somente para ‘pessoal de santo’, pessoas ligadas ao candomblé.
Não é apenas na Irmandade que esse tipo de indumentária é usado. Em terreiros, a saia rodada de cor branca é uma veste comum. Márcia Maria de Lopes, mãe pequena do Terreiro do Caboclo Guarany de Oxóssi, disse que há dois tipos de roupa: a de ração e a de festa. Roupa de ração é aquela usada no dia a dia e, também, durante a iniciação. Ela é composta por uma saia branca, camisu (camisa de mangas curtas, retas ou fofas, com decote oval arrematado por renda, usada em geral pelas filhas-de-santo), pano de cabeça e, posteriormente à iniciação (após sete anos), pode complementar o traje com uma bata. Em dias festivos, elas usam saias rodadas, jóias e contas, cada qual com as contas de seu orixá. O pano na cabeça é uma peça em comum nos dois tipos de vestes.
sexta-feira, 11 de abril de 2008
Brincando de patrimoniar
Alanna Oliveira, Luciana Fernandes e Sandrine Souza
Um grupo de cachoeiranos que hoje vive em Salvador resolveu revigorar uma luta antiga que pleiteia o título de Patrimônio da Humanidade, concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura, a Unesco. O professor Manoel Passos e o jornalista Jorge Ramos estão encabeçando este movimento, que ainda está se organizando e busca a institucionalização.
Em entrevista, Manoel Passos afirma que o trabalho para conseguir o título é árduo e dispendioso e que, por isso, é de grande importância a mobilização de instituições e autoridades políticas. Inclusive comenta que a luta ficou incipiente durante algum tempo por falta de apoio e que só agora conseguiu aliados. Manoel fala também da grandiosidade do patrimônio de Cachoeira e da história da cidade.
O cachoeirano e agente de patrimônio David Rodrigues é contra a forma como as coisas estão sendo feitas. Ele diz que o movimento deveria começar pela conscientização da população através de educação patrimonial e do incentivo às manifestações culturais locais. “A população de Cachoeira não está preparada para o título, ela ainda considera o tombamento um atraso e este tipo de mentalidade já deu grandes prejuízos ao patrimônio da cidade, como o extermínio de irmandades e da maioria das cabeças-de-negro”, diz. Segundo ele, o movimento tem se restringido a reuniões fechadas e não tem levado em consideração o que a população pensa. Marcelino Gomes também chama atenção para este aspecto dizendo que, inclusive, há um movimento crescente para destombar Cachoeira.
David afirma existir um grande número de cachoeiranos que respondem ações judiciais por descumprir a legislação federal de preservação dos monumentos e ainda inclui o atual gestor da cidade, Fernando Antônio da Silva Pereira, nessa estatística. “Além de trazer trio-elétrico para a cidade, ele a pintou de amarelo e azul, o que desconfigura o ambiente e é contrário as regras de preservação. A falta de harmonia da iluminação pública, postes, fiação, barracas, placas comerciais e toldos formam uma poluição visual que quebra o clima do ambiente e é algo que também deve ser pensado”, completa David.
Com a inscrição da cidade na lista dos 851 sítios que são patrimônios do mundo, uma inegável conseqüência é o aumento do turismo, de atração de investimentos e, possivelmente, de acesso a um fundo de recursos internacional da Unesco. No entanto, a cidade não tem estrutura para receber um grande número de pessoas e o seu encaixe geográfico também não favorece o desenvolvimento do ramo hoteleiro. Durante a entrevista foi manifestada preocupação com este aspecto, pois a construção de parques hoteleiros poderia descaracterizar a cidade, já que nem mesmo a presença do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) tem conseguido evitar que isso aconteça. No entanto Manoel Passos diz que com o advento do título haverá um maior poder de conservação sobre pressão internacional e risco de perder o título. Quanto a isso Marcelino afirma que a utilização dos monumentos já existentes seria uma medida inicial.
O diretor do Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL), Xavier Vatin, analisa o aumento do turismo a partir de sua experiência como antropólogo. Ele teme que aconteça a “pelourização” de Cachoeira e chama a atenção para se pensar o desenvolvimento da cidade através de aspectos antropológicos, museológicos, que envolvam o patrimônio material, imaterial, cultural, arquitetônico, tangível e intangível, no intuito de evitar efeitos colaterais, como a criação de uma vitrine turística de prostituição internacional. “Eu voltei a Paris há dois anos e estava no metrô de lá quando vi uma propaganda da Bahiatursa mostrando a Bahia dividida em três partes; o Pelourinho, uma praia e no meio uma enorme bunda de mulher com fio dental. Depois eles não querem que façam o turismo sexual”, diz ele.
Cristina Ferreira, professora e museológa, diz que o curso de museologia da universidade já realizou alguns eventos na câmara de vereadores e no Hansen, inclusive com a participação do diretor do Instituto do Patrimônio Artístico Cultural da Bahia (IPAC), com o objetivo de conscientização da população através da educação patrimonial. Fala também que a universidade tem interesse em ser parceira neste processo.
Na opinião de Marcelino o IPAC está Empalhado em Cachoeira e as pessoas que defendem o patrimônio na cidade estão desempregadas, porque não há muitas possibilidades de trabalho e a prefeitura não emprega quem defende este posicionamento.
Foi possível perceber depois do contato com o movimento que ele ainda é imaturo, não tem projeto e propostas bem definidos e tenta transferir a sua condução para a universidade e que a questão é bastante polêmica e deve ser pensada com mais responsabilidade o processo. Segundo Xavier a universidade pode contribuir ajudando a pensar o processo.
Cachoeira foi batizada por índios com esse nome por significar, na língua deles, mar grande, devido a quantidade de águas e largura do Paraguaçu nesta região. Em 13 de março de 1531 é achada pelos portugueses e em 27 de dezembro de 1693 foi elevada à categoria de vila. Cachoeira torna-se o povoado mais próspero e populoso do Império exigindo que fosse ela promovida à categoria de cidade, o que aconteceu mediante a lei provincial nº 43, a então vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto de Cachoeira transformou-se finalmente em cidade com o nome Heróica Cidade de Cachoeira. Foi um importante entreposto comercial da época e um dos mais extensos municípios do Brasil. A sua importância político-econômica era fator indiscutível. Já nasce com coroa de cidade heróica, coroa esta que ostenta em sua bandeira. 34 anos depois tem seus monumentos inscritos nos livros de Tombo do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e recebeu o título de Patrimônio Nacional, o que permite em pleno séc. XXI ostentar a beleza da sua arquitetura barroca que nos remete a sua importância econômica nos séc. XVII e XVIII. Ela foi palco de vários conflitos entre brasileiros e portugueses e teve filhos que marcou o seu nome na história nacional.
Créditos: Sandrine Souza.
quinta-feira, 10 de abril de 2008
Em busca de qualidade na educação pública
Em busca de qualidade na educação pública
As cidades de São Felix e Cachoeira buscam transformação educacional .
Por: Anderson Silva, Carlindo Pinto e Toniel Costa.
A educação melhorou consideravelmente em cinco anos na cidade de São Felix, afirmou a Coordenadora Pedagógica Maria José (Mazé) do Colégio Estadual Rômulo Galvão (CERG) que é o único de ensino médio da cidade, e possui cerca de 1500 alunos e 55 professores. Segundo ela, a chegada da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) foi um dos fatores de grande importância para esta mudança,hoje, se vê que os alunos se preocupam com cursinhos e se dedicam mais aos estudos a fim de obterem uma vaga na UFRB,conclui.
A escola possui um convênio com o terreiro cultural desde 2006, em Cachoeira, onde seus alunos conhecem um pouco sobre o audiovisual. Além de parceria com a Votorantin, Conselho dos adolescentes, Associação dos moradores salva-vidas que oferece oficinas de meio ambiente, teatro, dança, futebol de salão, vôlei de praia e de quadra, basquete e canoagem. Além do projeto protagonismo juvenil, que possui mais de cinco anos, onde é trabalhado saúde e cidadania dos adolescentes.
Dentre os problemas que enfrenta o Rômulo está em possuir uma sala de informática devidamente instalada, a sala que abrigava os computadores sofreu por problemas de infiltração na rede elétrica. Mazé, como é conhecida a coordenadora, cita a falta desta sala como sendo o grande problema pedagógico da escola. Porém ressalta que não é o único problema, o laboratório de ciências que fora fornecido pelo Governo do estado encontra-se desativado, pois a secretaria não enviou técnico para instalá-lo. Temos o material, mas ele não funciona,explica. Além do problema que ela diz ser nacional que é falta de professores na área de química, biologia e física.
Já a Professora Gilsélia da Silva do CERG, comenta que os alunos tem se interessado pouco pelo ingresso na universidade e que são os professores e a coordenadora que incentivam bastante com relação a isso. Apesar de observar que há alguns são mais interessados do que outros o que lhes falta é a prática da leitura. È motivo de preocupação entre os professores motivarem os seus alunos para despertarem o desejo pelos livros. A qualidade da educação está boa, mas não excelente.
Porém a professora e coordenadora de núcleo do Sindicato dos Professores Licenciados do Estado da Bahia (APLB) Helena Maria Vasconcelos, diz que: “Ainda não temos uma escola de qualidade”. E segundo ela, a educação precisa ser resgatada, pois se encontra “capenga”. Há um descaso dos poderes públicos frente às dificuldades do colégio, cadê a verba da merenda escolar que deveria vir e ainda não chegou?Questiona. Eles precisam é investir na educação pública, todavia eles não querem alunos que disputem espaço “deles” no amanhã. Se isto acontecer viveremos uma transformação no processo educacional.
A aluna Julia Augusta Santos do 3º ano do ensino médio do Rômulo, pensa em fazer Serviço social na UFRB. Para ela, o colégio e os professores estão mais comprometidos em conscientizar os alunos quanto ao vestibular. Já Fabiana de Jesus que cursa também o 3º e possui 17 anos, ainda decide entre Ciências ou Serviço Social tem uma única certeza que é cursar a Federal do Recôncavo, a qual considera a causadora da mudança radical do
colégio. E apesar de ver tanta transformação confessa a falta de professores de Matemática, Química e Física. Jéferson Santana de Jesus de 16 anos que cursa o 3º no CERG diz optar por História por afinidade com área de humanas, salienta a importância da coordenadora pedagógica do colégio frente o incentivo aos alunos e conclui dizendo: “o Rômulo tem nos fornecido oportunidades”.
A Secretária de Educação da cidade de São Felix Professora Adelmira dos Santos Rodrigues, afirma que se comparando a alguns anos atrás atingiu-se um grau de qualidade na educação sanfelista.Havia escolas desorganizadas, onde sequer algumas delas eram regularizadas.Houve então todo um trabalho de regularização e organização das escolas. Segundo a secretária os recursos do governo eram insuficientes, a prefeitura então teve que assegurar o material escolar dos alunos, a gestão democrática foi outra medida tomada pela secretaria coma criação do Conselho Municipal de Educação e do Plano Municipal de Educação que dá diretriz para o município ter a sua educação dirigida por 10 anos. O plano foi aprovado em 2004 e entrou em vigor em 2005, só que existem problemas quanto ao recurso federal para as cidades pequenas, já que o Fundo Nacional da Educação Básica (FUNDEB) tem 70 % da verba destinada ao pagamento de professores. O Governo Federal tem intenção de melhorar a educação, mas a verba é insuficiente para esse objetivo, é o que diz a secretária. Que afirma vê a questão da qualidade da educação não como algo alcançado, mas como uma busca contínua.
Na cidade de Cachoeira, o vice-diretor do Colégio Estadual da Cachoeira (CEC) Inácio Tadeu, diz que tem faltado interesse por parte dos alunos para cursar o nível superior e que a cidade precisa despertar para tais questões. Um colégio como CEC com aproximadamente 2.000 alunos e 50 professores possui ainda um número bastante reduzido de aprovação no vestibular da UFRB, mas segundo o vice-diretor a tendência de aprovação dos alunos tende a crescer.O que tem faltado para o colégio é material humano a nível de funcionários e até mesmo para tomar conta da biblioteca, do laboratório de informática que fica no prédio cedido a UFRB, e outros.Ele considera a situação da educação tão difícil que um menino de 8 anos conseguiu ser aprovado no vestibular,exemplifica e diz que: “ A educação quis dar um passo adiante,mas teria que rever algumas coisas”.
A qualidade do ensino público ainda não é boa; tem ainda deficiência de professor e os alunos se queixam desta falta. Há alunos que chegam no 1º ano do ensino médio sem saber equação é o comenta o Professor de Química do CEC, Jair Pereira de Barros. Acontece a falta de professores ,mas há também o desinteresse por parte dos alunos se tira 3 ou 4 numa turma que se dedica, há maioria se encontra desinteressado o pior dentre os turnos é o noturno ,pois é onde se encontra os alunos que trabalham.Ele Diz: “Quando falo de vestibular a maioria fala que não está interessado que não passa de um diploma, eu diria se há 20% de interessado é muito.”
Segundo ele, o culpado é o sistema como um todo: é a escola, a direção quando se procura material e não tem, aqui mesmo é pouco usado o vídeo. E o laboratório de ciências, até hoje não funciona e o problema neste caso é do estado que não disponibiliza funcionário para o laboratório. Se tem as máquinas, porém não se tem como utilizá-las,comenta.
Luciano Silva aluno do 1º do CEC diz que a qualidade do ensino no estadual não é tão boa quanto nos outros e que tem dias que os professores sequer vão.E questiona obrigatoriedade do fardamento completo que compõe calça jeans, sapato, e a camisa do colégio.Ele Questiona: “E se tiver alguém que não tiver condições de vir de sapato?”
Uma pequena localidade e uma grande iniciativa
No distrito de Capoeiruçu pertencente à cidade de Cachoeira é possível presenciar na Escola Antonio Joaquim Pereira (AJP) algumas transformações na esfera educacional. O atual diretor e professor Claudionor Mendes da Cunha formado em Geografia pela Universidade do Estado da Bahia (Uneb) de Santo Antonio de Jesus. Ele conta que do ponto de vista administrativo encontrou uma escola muito bem organizada. Porém era uma escola que há muito tempo não experimentava uma reforma e do ponto de vista pedagógico a antiga diretora sempre declarou que não priorizou esta área e tal parte vivia um tanto solta. A professora Joelza Araújo declara que: “O colégio uns anos atrás era deplorável parede rachando, falta de material, mas há alguns anos vem melhorando”.
A partir deste momento começa-se então a viver mais intensamente as mudanças neste colégio que é considerado pelo corpo docente como um modelo a ser seguido pela região. As reuniões entre os professores começam a ocorrer de maneira mais constante a fim de ser sanada as dificuldades do colégio e suas carências. È feito então um trabalho de valorização do aluno e do professor fazendo com que eles entendam que são parte do processo.Os alunos do AJP que tinham um nível de auto-estima muito baixo começa a viver as mudanças que estão acontecendo no colégio. Foram matriculados 265 alunos e colégio terminou o ano com 214. Foi estabelecida pela direção que seriam matriculados 300 no ano de 2009,porém já em 2008 o colégio dispõe de 335 alunos.O que segundo Claudionor Mendes prova a credibilidade dos seus alunos.
A escola que recebeu da secretaria do estado, a cargo do senhor Adeum Sauer,R$10.401,00 para a reforma do colégio, uma verba que teve valor único para todas as escolas estaduais.Verba que o diretor da escola julga pequena para as reais necessidades da Instituição escolar.
Como na maior parte das escolas públicas, há no AJP uma carência de professores no caso da escola de Geografia,História e Inglês.Além dessa dificuldade existe também falta de um porteiro no matutino, uma bibliotecária no noturno.E considerado um dos maiores problemas que é a ausência da sala de informática.A empresa de Barreiras, Databyte, que ganhou a licitação para instalar os computadores não foi instalar.Eles até mandaram uma declaração para ser preenchida e devolvê-la declarando que já tem condição de recebê-los,porém apesar de ter sido preenchido o documento eles nada fizeram.
A sala de informática que se encontra devidamente instalada com 10 computadores que foram enviados pela Proinfo, rede lógica, rede elétrica, ar condicionado e até o dinheiro para aquisição das mesas e cadeiras já foi liberado. Falta tão e somente a empresa responsável, sendo redundante, assumir suas reais responsabilidades para com o colégio.
Matéria sobre Trabalho Infantil
Trabalho infantil não é brincadeira
Apesar das políticas que visam a erradicação , o uso da mão-de-obra de crianças e adolescentes ainda é uma realidade no município de Cruz das Almas.
Daniela Silva, Meire Fiúza, Patrícia Neves
Jucimaria Santos Cunha, 13anos, residente no bairro do Itapicuru, cursa 7ª série do ensino fundamental, sonha em ser professora. Ela freqüenta, desde o ano passado, o PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil) do governo federal. Antes de participar do programa, trabalhava vendendo doces e fazendo trabalhos domésticos ganhando apenas de três a cinco reais. A menina conta que tinha um baixo desempenho escolar, devido à falta de tempo para se dedicar aos estudos.
Segundo a assessoria da Secretaria de Trabalho e Ação Social, o PETI possui quatro núcleos, e atende 252 crianças na cidade de Cruz das Almas, estes por sua vez, devem obter no mínimo 85% de freqüência escolar, possuir idade entre 7 e 15 anos e 11 meses, e devem estar em situação de risco social.
Estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) mostra que 5,1 milhões de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos estavam inseridos no mercado de trabalho, em 2006. O número, que corresponde a 11,5% da população nessa faixa etária.
No estado da Bahia, a pesquisa constatou que em 2001, 17 mil crianças e adolescentes, entre 10 e 14 anos, atuavam como empregados domésticos, já em 2006, data da última Pnad, houve uma redução de 41%.
POLÍTICAS PÚBLICAS
Vera Lúcia Oliveira Souza, assessora da Secretaria de Trabalho e Ação Social, diz que a predominância de exploração da mão-de-obra infantil na cidade de Cruz das Almas, se concentra na área de escoamento e comercialização de mercadorias nas feiras livres, além do trabalho na agricultura, no recolhimento de latinhas e ferro velho. Ela ainda cita que o mais difícil de ser detectado e erradicado é o trabalho doméstico realizado pelas meninas, pelo fato de ser de fácil camuflagem.
A grande questão é: como combater a exploração da mão de obra infantil, se ainda há certa banalidade quanto a este assunto?
Ainda de acordo com a assessoria, no PETI ocorrem atividades socioeducativas, como por exemplo, reforço escolar, aulas recreativas, esportes e futuramente aulas de informática e música. Através da parceria entre o PETI e o CRAS (Centro de Referência da Assistência Social) também criado pelo governo federal, o objetivo é atender as pessoas com vínculos familiares fragilizados devido a situações de risco e vulnerabilidade social, e famílias com renda abaixo de ¼ de salário mínimo por pessoa. A prioridade é para quem é cadastrado no bolsa família ou no BPC (programa que garante renda mensal a pessoas idosos a partir de 65 anos e/ ou pessoas com deficiência de qualquer idade que comprovem não possuir meios de prover a própria subsistência ou de tê-la provida pela família). As famílias dessas crianças participam de projetos, criados com o intuito de proporcionar aos pais um acompanhamento e conscientização, disponibilizando cursos de artesanato e outros, que visam capacitá-los em atividades que possam gerar alguma lucratividade que venha acrescer a renda familiar.
Vera diz que a procura pelos programas tem sido grande, mas, ainda se observa no município muitas crianças em atividades penosas e degradantes.
Irene Batista, faxineira desempregada, quatro filhos, recebe bolsa família e busca o apoio no CRAS. Ela diz que sua filha de 9 anos que está no PETI tem tido melhoras tanto no âmbito escolar como no comportamental. “Antes ela era muito brava e vivia á toa na rua” diz.
INFÂNCIA PREJUDICADA
Everilda Santana Machado Souza, psicóloga do CRAS, diz que o trabalho infantil, tira a alegria e a vivacidade, exclui a criança das atividades normais que daria suporte para formação de um adulto saudável. Pode conduzir a delinqüência e a doenças como a depressão além de poder se tornar um adulto agressivo ou desiludido.
A assistente social, Adriana Brandão, diz que os prejuízos que o trabalho infantil traz a essas crianças primeiramente é constatado na estrutura física, pois a jornada de trabalho é intensa, e muitas não se alimentam da forma necessária para um bom desenvolvimento físico. Além dos problemas psicosociais, como o amadurecimento forçado. A criança que trabalha pode trazer até a sua fase adulta uma visão amarga da vida e também um desgaste emocional, pois ela cria uma responsabilidade precoce.
Nunca houve punição efetiva das pessoas que utilizam do trabalho infantil na cidade de Cruz das Almas, pois, muitas vezes a criança é coagida a exercer o trabalho, ou a sua própria família é conivente com a situação.
REPASSES FINANCEIROS
Segundo o site do governo federal (www.mds.gov.br) o Estado da Bahia recebe por ano do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, R$ 2,81 bilhões para execução de programas sociais. As ações nas áreas de transferência de renda, assistência social e segurança alimentar beneficiam 7,5 milhões de pessoas. O Bolsa Família, maior programa de transferência de renda do País, transfere por mês R$ 112,6 milhões para 1,4 milhão de famílias baianas. Para os programas de assistência social, o Ministério destinou de janeiro a dezembro R$ 188,2 milhões para realizar 1,4 milhão atendimentos na Bahia. O MDS investiu R$ 24,7 milhões no Programa para Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) no Estado, para tirar 128 mil crianças e adolescentes do trabalho entre janeiro e dezembro.
No Programa de Atenção Integral à Família (PAIF), os 336 Centros de Referência da Assistência Social (CRAS), também conhecidos como Casas das Famílias, oferecem atendimento psicológico e de assistência social para 875 mil pessoas com repasse de R$ 27,6 milhões.
COSCIENTIZAÇÃO
A Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente, promulgado em 1990, representaram uma inovação e uma importante brecha na luta pela erradicação do trabalho infantil.
A Constituição Federal proíbe o trabalho de menores de 16 anos, permitindo, no entanto, o trabalho a partir dos 16 anos de idade, desde que na condição de aprendiz, desde que não sejam em atividades insalubres, perigosas ou penosas, ou ainda, trabalhos que envolvam cargas pesadas, jornadas longas e em locais ou serviços, que lhes prejudicam o bom desenvolvimento psíquico, moral e social.
A assessoria informa que a Secretaria de Trabalho e Ação Social tem se esforçado na conscientização das famílias mostrando que as crianças devem ter direito a infância e todas as atividades recreativas e escolares. Também alerta que deve haver uma conscientização da população em geral, pois, somente os projetos não podem mudar tal situação.