A FÉ QUE MOVE O DINHEIRO
Em Cachoeira, observa-se que a religião desempenha um papel econômico, especialmente no candomblé. Entretanto, há um tempo essa religião sofria um preconceito acentuado, pois é fruto de manifestações culturais afro-descendentes e foi mantida no Brasil devido ao sincretismo.
Segundo a docente do curso de História da Universidade Estadual de Feira de Santana, Mayra Paniago, o candomblé foi proibido enquanto religião até o governo de Getúlio Vargas, em 1934. Ela ressalta o fato do sincretismo ter surgido com a necessidade de simbolizar as divindades africanas por conta da imposição religiosa aplicada pela Igreja Católica.
A partir do momento que o candomblé passou a ser visto como religião e os pais de santo começaram a cobrar para realizarem os trabalhos e obrigações, a discriminação foi acentuada. Para o babalorixá, Idelson Sales do terreiro Ilê Axé Ogumjá, “o preconceito é fruto do passado, aliado a isso em Cachoeira e São Félix, o Candomblé tornou-se um comércio. Essa visão vai para fora como se os pais de santo fossem pessoas exploradoras, o que não é verdade.”
De acordo com ele, o Candomblé na verdade é uma das religiões mais caras pelas suas vestes e materiais para fazer trabalho. A cobrança para o jogo de búzios é necessária porque gasta-se com velas, cachaça, farinha e dendê, entre outros elementos que são usados para alimentar os orixás, portanto o dinheiro é revertido para isso.
Hoje em dia muitos pais de santo sobrevivem graças ao candomblé, mas nem sempre foi assim. Por carregar consigo a herança da falta de oportunidade conferida aos negros, muitos adeptos dessa religião sustentavam o terreiro com a venda de produtos na feira, como animais, grãos, temperos e tecidos.
OUTRAS RELIGIÕES
A prática religiosa associada ao aspecto econômico está presente em todas as religiões. A Igreja Católica e a Igreja Protestante, por exemplo, também cobram pelo exercício de suas atividades. Em ambas existe o pagamento do dizímo mensal revertido em prol da conservação da estrutura da igreja e pagamento dos funcionários e líderes, além da oferta voluntária e sem valor definido.
É importante ressaltar que para a Igreja Católica, o pagamento do dízimo, apesar de obrigatório, não tem um valor fixo e para a Igreja Protestante, o valor de dez por cento é tido como uma das obrigações ratificada com a opinião do presbito Carmerino Santos: “Está escrito na palavra de Deus.”
Apesar de Cachoeira ser uma cidade pequena, existe um número exagerado de Igrejas Protestantes o que resulta numa inexpressividade de fiéis. Devido a isso, a relação economia/religião não possui visibilidade no cenário econômico da cidade.
Em contraposição, o catolicismo e o candomblé, especialmente quando têm seus aspectos religiosos fundidos, movimentam grande parte da renda. Existe uma relação de sobrevivência mútua pelas duas religiões na região. No candomblé, por exemplo, há uma obrigação, que quando termina a feitura do orixá, tem que visitar Senhor dos Passos. Isso simboliza um novo passo, uma vida nova.
Contribuições para as despesas de manutenção são válidas em qualquer crença. Para o professor de história Augusto Spínola “muita gente se aproveita da religião para se amparar financeiramente, e, a partir do momento que se cobra, deixa de ser religião. Você não pode ser sustentado pela fé dos outros”.
Olho: “Hoje eu vivo do Candomblé.”
Calila Oliveira, Mariana Cardoso, Maurício Miranda e Vívian Aguiar
quinta-feira, 15 de maio de 2008
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Um comentário:
A palavra certa é Presbitero,só contribuindo para a matéria de vc's
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