sexta-feira, 16 de maio de 2008

Lyra: 138 anos de “Airosas Passeatas”

Filarmônica cachoeirana completa dia 13 de maio mais um ano de existência, enriquecendo a cultura, a história e favorecendo a inclusão social.

Por Palloma Braga

A Sociedade Cultural Opheica Lyra Ceciliana, fundada pelo maestro Abolicionista Tranquilino Bastos em 1870, comemora no dia 13 de maio 138 anos de existência. Patrimônio cultural vivo da cidade da Cachoeira e uma das mais antigas Filarmônicas da Bahia e do Brasil, a Lyra abre as comemorações com uma missa em ação de graças na igreja de Nossa Senhora do Rosário. Após a missa, a centenária Filarmônica segue pelas principais ruas da Cachoeira em uma tradicional passeata, cultivada desde tempos do seu fundador, com parada na Colina do Monte para reverenciar a memória do mesmo. Em seguida, se dirige para a sede da Filarmônica onde acontece a sessão solene e um coquetel de confraternização. As comemorações dos 138 anos serão efetivamente encerradas no próximo dia 24, às 20:00 hs com um concerto na Igreja da Ordem Terceira do Carmo e na oportunidade a Lyra estará gravando um cd e dvd com músicas do Maestro abolicionista.
Há exatos 120 anos a Lyra Ceciliana, regida pelo maestro da Abolição Tranquilino Bastos, conduzia mais de 2 mil pessoas pelas ruas da Cachoeira, em sua maioria recém-libertos, em uma “Airosa Passeata” comemorando a assinatura da Lei Áurea , segundo Walter Fraga era composta de uma multidão nunca vista na região do recôncavo. Tranquilino, além de ser um maestro negro Abolicionista ferrenho, era autodidata e de um exímio talento musical, o que o fez reconhecido nacional e internacionalmente. Sendo homenageado até mesmo pela famosa casa de sax de Paris, fabrica fundada pelo inventor do saxofone.
Muito antes da Abolição já escrevia artigos e peças musicais que faziam transparecer a sua aspiração por liberdade como o dobrado Navio Negreiro, homenagem ao poeta dos escravos Castro Alves, assim também como o dobrado Airosa Passeata, que retrata o momento em que ele conduzia a Lyra pelas ruas de cachoeira comemorando a Lei áurea, a polaca Rosas de Maio e o Hino Abolicionista. Autor de 500 composições Bastos, segundo Juvino Alves, músico, professor e pesquisador das obras do maestro, junto com Vila Lobos é um dos mais importantes compositores de banda do Brasil.

Inclusão social - Jessé do Carmo,27, músico, professor da escola de música da Lyra e do conservatório da Faculdade Adventista da Bahia e também maestro da Banda Sinfônica da mesma faculdade , é um dos exemplos de superação e de inclusão social proporcionada pelo trabalho desenvolvido pela Lyra. Hoje o mesmo à frente da escola Irineu Sacramento atende mais ou menos 50 crianças e jovens carentes da comunidade e salienta que a função da escola de música é de formar músicos para a Banda, mas que esta formação possibilita ao aprendiz se tornar profissional na área como tem acontecido com alguns. Outro exemplo dessa oportunidade oferecida pela Lyra é o jovem Paulo Vitor Mascarenhas, 21, que há 8 anos é músico da Filarmônica e diz que esta é muito importante em sua vida. “A Lira me deu oportunidade de aprender um instrumento secular e de outra forma me ensinou uma profissão, já que eu praticamente ganho da musica, trabalho com a música e amo a música”. Todo esse trabalho social feito pela Lyra Ceciliana, como também por outras filarmônicas do Recôncavo, é gratuito, como enfatiza a jornalista Alzira Costa, “O menino tem a oportunidade de aprender música, ter acesso a um instrumento gratuitamente, isso só acontece na Bahia, no Recôncavo”.

Revelando Talentos – “A Lyra que toca a liberdade”, como diz Luiz Antonio diretor cultural da Lyra, além de promover a inclusão social de jovens e crianças carentes, tem revelado alguns talentos para a música. Nilton Azevedo é um destes e que tem se destacado. Aos 14 anos o estudante fez o dobrado Zé Cutia, homenagem ao maestro da Lyra Orlando José, que foi o vencedor do concurso de dobrados 11ª Festifir, festival de Filarmônicas do Recôncavo, promovido pelo Centro Cultural Dannemann da cidade de São Felix. Tendo o seu primeiro dobrado já gravado em um cd. Hoje aos 16 anos Nilton tem13 composições de sua autoria que se divide em dobrado, marchas, polaca e chorinhos. Junto com alunos e ex alunos da Lyra o jovem músico formou o grupo Chorões do Recôncavo, que executa chorinhos, e já fez apresentações em eventos em São Paulo e Recife. Nilton diz que após concluir o ensino médio fará vestibular para Musica na UFBA, onde já toma um curso de flauta oferecido pelo professor Lucas Robatto.

A Filarmônica conta com aproximadamente 40 músicos que se apresentam em festividades cívicas e religiosas e em festivais.A Lyra tem contado para suprir as sua necessidades, como instrumentos, fardamentos, salário do professor da escola, com o apoio financeiro de 3 salários mínimos oferecido pela a prefeitura através de um convênio, com o aluguel da parte térrea do prédio e com os cachês de tocatas extras. Mas, segundo o presidente da mesma estes recursos ainda não são suficientes para suprir todas as necessidades, inclusive preservação, deste patrimônio.

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