sexta-feira, 16 de maio de 2008

Novas perspectivas musicais para o Recôncavo


São Félix inaugura Faculdade de Música EAD e traz novas possibilidades para a população da região.


Kelma Costa , Meire Fiuza, Patrícia Neves

No dia 22 de abril foi inaugurada em São Félix a Faculdade de Licenciatura Plena em Música no sistema EAD (Educação à distância). O curso é resultado da parceria entre a UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), a UFBA (Universidade Federal da Bahia) e a prefeitura municipal, e visa suprir a carência de professores de música nas escolas públicas.

O projeto foi idealizado pela UFRGS e aprovado pelo Ministério da Educação, hoje encontra-se implantado em seis estados: Espírito Santo, Rondônia , Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso e na Bahia, que têm pólos de atuação em Salvador, Irecê, Cristópolis e São Félix.

A implantação da Faculdade de Música aparece como uma alternativa à carência de áreas de trabalho para a juventude de São Félix e Cachoeira. Estas Cidades, que tiveram um momento econômico favorecido pela produção fumageira, registram atualmente uma acentuada apatia econômica. Deste modo, o curso de Licenciatura em Música vem como a UFRB (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia) possibilitar à população da região o ingresso numa universidade pública.

ESTRUTURA DO CURSO- Das 60 vagas existentes no curso, apenas 22 foram preenchidas, ao contrário da cidade de Irecê, onde a primeira turma é formada por 140 alunos. Todos tiveram um contato prévio com a área de música ou educação, entretanto, o processo seletivo deste curso, que terá a duração de quatros anos e meio, foi semelhante ao da UFBA onde ocorre primeiro uma prova de conhecimentos gerais que é seguida de uma prova de aptidão.

Desde o início o curso tem enfrentado algumas dificuldades: as aulas virtuais estão sendo realizadas no Infocentro de São Félix, onde faltam alguns elementos como caixas de som, espaço amplo e, a principal delas: o ainda recorrente preconceito no que se refere à cursos realizados à distância. Segundo Nara Rúbia, tutora que orienta as aulas virtuais dos alunos, tal visão é resultado da idéia de que os cursos à distância são pouco rigorosos e eficientes. Ela é graduada em Música pela UFBA; tem especialização em Fundamentos do Ensino da Arte pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), e também é consultora de Cultura e Arte da Unesco na Bahia, realizou concurso público para assumir esta função.

A Faculdade de música de São Félix possui um diferencial em relação aos demais cursos realizados à distância, isso se deve ao fato das aulas serem realizadas durante todos os dias da semana. O acompanhamento e orientação da tutora são constantes, exceto na sexta-feira, onde os alunos complementam as suas atividades na sua própria residência. Nos outros dias da semana, cada aluno tem a obrigatoriedade de acessar a Plataforma virtual do curso durante quatros horas. “O curso é a distância entre aspas”, diz a tutora.

PARTICIPAÇÃO EFETIVA- Os alunos vêem bastante seriedade no curso. Leandro dos Santos Leite toca saxofone e destaca o comprometimento que o curso exige por parte do corpo discente. O maior diferencial, segundo ele, são as aulas realizadas diariamente. A professora de ensino infantil Marijane Oliveira também é aluna e diz que está sendo um desafio. Ela, que se considerava “leiga” na área musical por não conhecer nenhum instrumento, fez uso da voz no teste de aptidão. Para ela curso está superando suas expectativas e destaca o rigor das atividades e o clima familiar criado entre o grupo.

Os alunos ainda aguardam a chegada de instrumentos musicais, que está prevista para serem entregues em junho, pois são uma concessão da UFBA. Na parceria que possibilitou a implantação da faculdade em são Félix, a UFBA ainda é responsável por ceder os computadores necessários às aulas e alguns professores que realizarão os seminários presencias existentes no curso. Cabe à UFRGS a remuneração dos professores e tutores e o pagamento, juntamente ao FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) de uma bolsa de incentivo aos alunos no valor de 100 reias. Já a contrapartida do município diz respeito ao espaço da estrutura física da faculdade, o corpo de funcionários ali presentes e o pagamento da hospedagem da tutora.

Nara Rúbia ressalta o empenho da prefeitura de São Félix na aquisição da Faculdade de Música para o município, já que o pólo estava sendo assediado por várias cidades. Bastante otimista, ela destaca o empenho dos alunos, a boa estrutura e a seriedade do curso. “Melhor ainda é saber que, depois de concluído o curso, estes alunos estarão capacitados a ministrar aulas de músicas nas escolas de São Félix e de outras localidades.” Ela também ressalta as relações de companheirismos entre os alunos e professores o que facilita o aprendizado.Uma das mudanças apontadas por ela é de que a avaliação é feita através de conceito e não de notas.

A TRADIÇÃO SOBREVIVE- Não há dúvidas que a aquisição da Faculdade de Música pelo município de São Félix irá fortalecer a tradição musical característica da região do Recôncavo. Nos séculos XIX e XX, as filarmônicas participaram ativamente da construção desta identidade, sobretudo as filarmônicas do Recôncavo que, a despeito das adversidades, vêm criando formas de sobrevivência e conservação de nosso passado musical.

É também por este motivo que, desde o mês de março, foi iniciado em São Félix o Curso de Formação de Compositores e Maestros. O curso é financiado pelo Fundo de Cultura da Bahia e conta com a contribuição da Oficina de Frevos e Dobrados, Filarmônica União dos Ferroviários Bonfinenses e Centro Cultural Dannemann.

O diretor do Centro de Artes Humanidades e Letras, Xavier Vantin, diz que a UFRB não faz parte dessa empreitada, porém apóia a iniciativa e ressalta que o Recôncavo tem músicos de talento inegável, e que a direção CAHL pretende criar curso de música popular, com atividades de extensão, valorizando assim a cultura musical da região. Ele diz também que seria possível a criação de um festival de inverno para divulgar a música do recôncavo e atrair turistas para região.

PALAVRA DE MAESTRO - Segundo o professor e maestro Fred Dantas o objetivo deste curso é oferecer capacitação nas áreas de composição, regência, história e teoria musical para mestres, contramestres e músicos-líderes das filarmônicas. Abrangendo regiões distintas do estado, o Curso de Compositores e Maestros tem por objetivo injetar ânimo e vitalidade no mundo das filarmônicas. Muitos destes alunos, depois de concluído o curso, serão mobilizados para localidades onde a tradição musical esta deficiente e esquecida.

Além de São Félix, o curso também é ministrado em Salvador e em Senhor do Bonfim, e estende-se a alunos de cidades circunvizinhas. No que diz respeito ao andamento do curso, algumas dificuldades ainda precisam ser sanadas. No caso de Senhor do Bonfim o problema é manter um fluxo de professores em um lugar distante de Capital. Em Salvador, por sua vez, a dificuldade é a manutenção do próprio espaço, pois a sede da oficina, cujo aluguel, luz, água e telefone não podem ser pagos com dinheiro deste convênio e, em São Félix, a principal dificuldade está na rotatividade, no revezamento dos alunos que compromete o andamento dos trabalhos. As aulas são ministradas pelos professores Fred Dantas, etnomusicólogo, compositor e regente, trombonista; Celso Benedito, doutorando em Educação Musical pela UFBA e trompista; Pedro Amorim, compositor formado pela UFBA e professor de teoria musical em algumas instituições.
Quando perguntado se o curso pode fortalecer a identidade musical no Recôncavo o professor e categórico: “Claro! Se aí está o berço da filarmônica brasileira. Em outros lugares, como Minas, existem corporações mais antigas, mas a música de Tranquillino me parece ser a primeira manifestação da banda brasileira, enquanto música.” Fred Dantas faz menção ao maestro Manoel Tranquilino Bastos autor da música do Hino da Cachoeira e fundador da Sociedade Orpheica Lyra Ceciliana que é uma das mais antigas da região. No ano passado, foi premiada com o primeiro lugar no XII Festival de Filarmônicas do Recôncavo (Festfir), que é realizado de dois em dois anos no Centro Cultural Dannemann.

O diretor do Centro de Artes Humanidades e Letras, Xavier Vantin, diz que a UFRB não faz parte dessa empreitada, porém apóia a iniciativa e ressalta que o Recôncavo tem músicos de talento inegável, e que a direção CAHL pretende criar curso de música popular, com atividades de extensão, valorizando assim a cultura musical da localidade. Ele diz também que seria possível a criação de um festival de inverno para divulgar a música do recôncavo e atrair turistas para região.

Um comentário:

BLOG DO SEBASTIÃO DA CRUZ disse...

Gostaria de saber as datas da realização do Festival de Filarmônicas de São Félix, no ano de 2009, pois gostaria de documentá-lo para divulgação em meu canal do Youtube.
sebastiao53@gmail.com
www.youtube.com.br/sebastiaodacruz