Morrem os heróis, mas os mitos permanecem. 68 continua refletindo sua ideologia.
A minissaia não foi a única rebeldia da década de 60. O simbólico ano de 68, em especial, eclodiu em vários acontecimentos que marcaram uma geração inteira e reflete até os dias atuais.
Há 40 anos o mundo assistia estudantes eufóricos, lutando por uma sociedade menos capitalista e mais justa, segundo Edgar Morin era a ‘afirmação da adolescência’. Era uma crítica excêntrica à sociedade de consumo, ao totalitarismo, buscando uma quebra do conservadorismo moral e uma afirmação de individualidade...Era liberdade e crítica ao mesmo tempo.
Mas o que tornou 68 esse ano mítico? Qual foi o estopim da revolução? Não podemos falar de 68 sem dizer o que levou a acontecer tantos eventos marcantes neste ano. Toda essa movimentação política e cultural não aconteceu do nada. Segundo o poeta Geraldo Maia, o homem estava traumatizado com o militarismo, com as guerras, “resquícios da guerra causaram uma angústia no ser humano, ele passa a buscar soluções diferentes do militarismo, do terror da guerra. Começa a haver uma tendência ao rompimento vindo a explodir em 68”. A sociedade da década de 60 era uma geração cansada; cansada com a I e II Guerra Mundial, cansada com a iniciada Guerra Fria. Era uma geração que não aceitava a Guerra do Vietnã, que não engolia mais o falso socialismo soviético já tão desgastado, aborrecida com o machismo e o conservadorismo religioso.
Eles queriam mais. Queriam liberdade de expressão, liberdade sexual, liberdade de escolha. Seus ídolos eram Che Guevara, Luther King. Proclamavam a auto-afirmação, democratização da sociedade, da arte. E dessa sede por mudança, por quebra de tabus, cresce um vivo movimento estudantil. Na França, esse movimento consolidou-se a partir das universidades, transformando-se no famoso maio de 68. Já no Brasil, o movimento estudantil foi uma luta contra o regime militar. Na tentativa de conter a expressão subversiva dos universitários, a polícia mata o estudante inocente, Edson Luís. Era o que faltava para desencadear uma série de manifestações contra a ditadura em todo país, com a simbólica frase “Poderia ser meu filho”. Uma das manifestações mais importantes foi a Passeata dos 100 mil. Para a professora Lucileide Cardoso, uma das organizadoras do evento 68+40, “existe grande ênfase aos protestos estudantis, especialmente nos meios de comunicação, e um silêncio com relação a radicalidade do movimento operário. No meu modo de ver, o AI-5 instaurado em 13 de dezembro de 1968, serviu especialmente para reprimir a grande força das greves operárias de Osasco (SP) e Contagem (MG), ameaçadoras aos interesses do grande capital, base de sustentação dos governos militares. No entanto, não se pode minimizar a importância da onda de protestos estudantis, mas devemos pensar nos seus limites dentro da própria ordem ditatorial instituída pós-64. A bem dizer, 1968 no Brasil e no mundo, não se explica apenas pela revolta estudantil, proveniente do ethos universitário ou secundarista, mas compreende também a adesão de diferentes categorias de trabalhadores que juntos atuaram no processo de ruptura com a ordem estabelecida”.
68 não se limita ao maio francês. Nesse ano, na Tchecoslováquia, um grande movimento é liderado por intelectuais reformistas do Partido Tcheco. O objetivo era ‘desestanilizar’ o país, mudando a estrutura econômica, política e social. A proposta era liderada por Alexander Dubcek e tinha a promessa de abertura política, liberdade de imprensa, tolerância religiosa e direitos civis, sendo apoiada pela sociedade. Como resposta, a União Soviética prendeu Dubcek, que mais tarde renunciou, e interrompeu as reformas no país. O regime antigo continuou a vigorar na Tchecoslováquia, levando a Jan Palach atear fogo ao próprio corpo como símbolo d
e protesto. Esse movimento ficou conhecido como a Primavera de Praga.
Nesse contexto de ruptura, há uma valorização da cultura em todo mundo, ela passa a carregar uma simbologia de ‘ferramenta política’ nas mãos dos artistas. A produção cultural de 68 foi uma ‘quebra da narrativa linear da arte’. Era inteligente e sutil. Havia uma liberdade de criação, uma crescente busca pela popularização artística. Temos nesse cenário nomes como Andy Warhol e sua Pop Art e, aqui no Brasil, o efervescente movimento Tropicalista, composto por grandes músicos como Gilberto Gil, Gal Costa, Caetano Veloso e Tom Zé. O Tropicalismo valorizava o popular e fazia oposição à ditadura aqui instaurada.
Os jovens não queriam mais seguir o conservadorismo religioso, muito menos as suas doutrinas machistas e fálicas. Eles ambicionavam o ‘amor livre’ (ainda mais após a descoberta da pílula anticoncepcional), eles desejavam o prazer sexual. Dentro desse fervor libidinoso, o Feminismo e as religiões orientais ganham força ideológica. Começa a haver a aceitação do homossexualismo e o homem passa a ter uma percepção de pureza diferente da sua visão anterior. A idéia de que em um mesmo lugar há verdades e mentiras, de que o ser humano é plural, multifacetico adquire uma grande aceitação.
Sem dúvida, 68 nos influencia até hoje, seja politicamente ou culturalmente. Para Almícar Baiardi, “o legado de 68 seria a rebeldia, a construção de novos valores políticos e uma certa intercionalização da política”. Era uma mistura do lúdico mais o racional, “imaginação no poder” era o lema francês dos estudantes e operários lutando contra o governo de Charles de Gaulle. O professor Luiz Nova acredita que “maio de 68 é um momento único por uma razão: apesar de efêmero quanto a ato político e social, representou a união mais perfeita entre ação política de vanguarda e cultura libertária”.
A elite intelectual brasileira comemora e relembra essa data através de diversos eventos nas universidades de todo o país. A UFRJ, por exemplo, lançou um calendário comemorativo enfatizando a participação dos estudantes da instituição nos movimentos de 68. Na Bahia, onde o movimento estudantil foi atuante na época, as federais UFBA E UFRB promovem eventos acadêmicos ao longo do ano, 68+40. Sua abertura foi no dia 06 de maio de 2008, em Salvador, que contou com a participação do deputado José Dirceu e do economista Vladimir Palmeira, ambos estiveram inseridos de forma atuante nos movimentos estudantis da época. Para Dirceu, o poder de luta e organização para conquistar o que se quer foram as maiores heranças de 68. “Movimento estudantil na vida cultural e política brasileira foi decisivo, igualitário, libertário... organizado nas classes, mudou a forma de luta”, diz o deputado.
Na visão de Palmeira, é impossível discutir 68 sem antes analisarmos 64. Para ele, a ditadura implantada no nosso país não deve ser encarada apenas de maneira negativa, ele acredita que foi graças a ela que atingimos e alcançamos reformas que não conseguiram ser atingidas anteriormente. O economista acredita que as nossas heranças deixadas por esse ano foram as universidades públicas, a geração de esquerda e o movimento esquerdista.
A UFRB, no campus de Cachoeira, também promoveu mesas redondas e debates sobre o tema, inclusive relacionando o movimento estudantil de 68 com a invasão do campus da UFBA em 2001, exibindo o documentário “Choque”. A programação de 68+40 se estenderá até dezembro deste ano, contando com palestras, documentários e debates acerca do tema.
“Vão ser precisos anos e anos para se entender o que se passou”.Essa afirmação de Edgar Morin foi retirada do livro ‘1968 O ano que não terminou’, de Zuenir Ventura. Passaram 40 anos e até hoje tentamos entender o que realmente foi 68, sem dúvida, este ano causou grandes mudanças em toda estrutura social. Segundo Vladimir Palmeira: “Foi o espetáculo mais impressionante que eu vi em minha vida”.
A minissaia não foi a única rebeldia da década de 60. O simbólico ano de 68, em especial, eclodiu em vários acontecimentos que marcaram uma geração inteira e reflete até os dias atuais.
Há 40 anos o mundo assistia estudantes eufóricos, lutando por uma sociedade menos capitalista e mais justa, segundo Edgar Morin era a ‘afirmação da adolescência’. Era uma crítica excêntrica à sociedade de consumo, ao totalitarismo, buscando uma quebra do conservadorismo moral e uma afirmação de individualidade...Era liberdade e crítica ao mesmo tempo.
Mas o que tornou 68 esse ano mítico? Qual foi o estopim da revolução? Não podemos falar de 68 sem dizer o que levou a acontecer tantos eventos marcantes neste ano. Toda essa movimentação política e cultural não aconteceu do nada. Segundo o poeta Geraldo Maia, o homem estava traumatizado com o militarismo, com as guerras, “resquícios da guerra causaram uma angústia no ser humano, ele passa a buscar soluções diferentes do militarismo, do terror da guerra. Começa a haver uma tendência ao rompimento vindo a explodir em 68”. A sociedade da década de 60 era uma geração cansada; cansada com a I e II Guerra Mundial, cansada com a iniciada Guerra Fria. Era uma geração que não aceitava a Guerra do Vietnã, que não engolia mais o falso socialismo soviético já tão desgastado, aborrecida com o machismo e o conservadorismo religioso.
Eles queriam mais. Queriam liberdade de expressão, liberdade sexual, liberdade de escolha. Seus ídolos eram Che Guevara, Luther King. Proclamavam a auto-afirmação, democratização da sociedade, da arte. E dessa sede por mudança, por quebra de tabus, cresce um vivo movimento estudantil. Na França, esse movimento consolidou-se a partir das universidades, transformando-se no famoso maio de 68. Já no Brasil, o movimento estudantil foi uma luta contra o regime militar. Na tentativa de conter a expressão subversiva dos universitários, a polícia mata o estudante inocente, Edson Luís. Era o que faltava para desencadear uma série de manifestações contra a ditadura em todo país, com a simbólica frase “Poderia ser meu filho”. Uma das manifestações mais importantes foi a Passeata dos 100 mil. Para a professora Lucileide Cardoso, uma das organizadoras do evento 68+40, “existe grande ênfase aos protestos estudantis, especialmente nos meios de comunicação, e um silêncio com relação a radicalidade do movimento operário. No meu modo de ver, o AI-5 instaurado em 13 de dezembro de 1968, serviu especialmente para reprimir a grande força das greves operárias de Osasco (SP) e Contagem (MG), ameaçadoras aos interesses do grande capital, base de sustentação dos governos militares. No entanto, não se pode minimizar a importância da onda de protestos estudantis, mas devemos pensar nos seus limites dentro da própria ordem ditatorial instituída pós-64. A bem dizer, 1968 no Brasil e no mundo, não se explica apenas pela revolta estudantil, proveniente do ethos universitário ou secundarista, mas compreende também a adesão de diferentes categorias de trabalhadores que juntos atuaram no processo de ruptura com a ordem estabelecida”.
68 não se limita ao maio francês. Nesse ano, na Tchecoslováquia, um grande movimento é liderado por intelectuais reformistas do Partido Tcheco. O objetivo era ‘desestanilizar’ o país, mudando a estrutura econômica, política e social. A proposta era liderada por Alexander Dubcek e tinha a promessa de abertura política, liberdade de imprensa, tolerância religiosa e direitos civis, sendo apoiada pela sociedade. Como resposta, a União Soviética prendeu Dubcek, que mais tarde renunciou, e interrompeu as reformas no país. O regime antigo continuou a vigorar na Tchecoslováquia, levando a Jan Palach atear fogo ao próprio corpo como símbolo d

Nesse contexto de ruptura, há uma valorização da cultura em todo mundo, ela passa a carregar uma simbologia de ‘ferramenta política’ nas mãos dos artistas. A produção cultural de 68 foi uma ‘quebra da narrativa linear da arte’. Era inteligente e sutil. Havia uma liberdade de criação, uma crescente busca pela popularização artística. Temos nesse cenário nomes como Andy Warhol e sua Pop Art e, aqui no Brasil, o efervescente movimento Tropicalista, composto por grandes músicos como Gilberto Gil, Gal Costa, Caetano Veloso e Tom Zé. O Tropicalismo valorizava o popular e fazia oposição à ditadura aqui instaurada.
Os jovens não queriam mais seguir o conservadorismo religioso, muito menos as suas doutrinas machistas e fálicas. Eles ambicionavam o ‘amor livre’ (ainda mais após a descoberta da pílula anticoncepcional), eles desejavam o prazer sexual. Dentro desse fervor libidinoso, o Feminismo e as religiões orientais ganham força ideológica. Começa a haver a aceitação do homossexualismo e o homem passa a ter uma percepção de pureza diferente da sua visão anterior. A idéia de que em um mesmo lugar há verdades e mentiras, de que o ser humano é plural, multifacetico adquire uma grande aceitação.
Sem dúvida, 68 nos influencia até hoje, seja politicamente ou culturalmente. Para Almícar Baiardi, “o legado de 68 seria a rebeldia, a construção de novos valores políticos e uma certa intercionalização da política”. Era uma mistura do lúdico mais o racional, “imaginação no poder” era o lema francês dos estudantes e operários lutando contra o governo de Charles de Gaulle. O professor Luiz Nova acredita que “maio de 68 é um momento único por uma razão: apesar de efêmero quanto a ato político e social, representou a união mais perfeita entre ação política de vanguarda e cultura libertária”.
A elite intelectual brasileira comemora e relembra essa data através de diversos eventos nas universidades de todo o país. A UFRJ, por exemplo, lançou um calendário comemorativo enfatizando a participação dos estudantes da instituição nos movimentos de 68. Na Bahia, onde o movimento estudantil foi atuante na época, as federais UFBA E UFRB promovem eventos acadêmicos ao longo do ano, 68+40. Sua abertura foi no dia 06 de maio de 2008, em Salvador, que contou com a participação do deputado José Dirceu e do economista Vladimir Palmeira, ambos estiveram inseridos de forma atuante nos movimentos estudantis da época. Para Dirceu, o poder de luta e organização para conquistar o que se quer foram as maiores heranças de 68. “Movimento estudantil na vida cultural e política brasileira foi decisivo, igualitário, libertário... organizado nas classes, mudou a forma de luta”, diz o deputado.
Na visão de Palmeira, é impossível discutir 68 sem antes analisarmos 64. Para ele, a ditadura implantada no nosso país não deve ser encarada apenas de maneira negativa, ele acredita que foi graças a ela que atingimos e alcançamos reformas que não conseguiram ser atingidas anteriormente. O economista acredita que as nossas heranças deixadas por esse ano foram as universidades públicas, a geração de esquerda e o movimento esquerdista.
A UFRB, no campus de Cachoeira, também promoveu mesas redondas e debates sobre o tema, inclusive relacionando o movimento estudantil de 68 com a invasão do campus da UFBA em 2001, exibindo o documentário “Choque”. A programação de 68+40 se estenderá até dezembro deste ano, contando com palestras, documentários e debates acerca do tema.
“Vão ser precisos anos e anos para se entender o que se passou”.Essa afirmação de Edgar Morin foi retirada do livro ‘1968 O ano que não terminou’, de Zuenir Ventura. Passaram 40 anos e até hoje tentamos entender o que realmente foi 68, sem dúvida, este ano causou grandes mudanças em toda estrutura social. Segundo Vladimir Palmeira: “Foi o espetáculo mais impressionante que eu vi em minha vida”.
Carol Oliveira,Daniela Oliveira e Daiane Arllin
Nenhum comentário:
Postar um comentário