sábado, 17 de maio de 2008

EDUCAÇÃO

Comunidade de Cachoeira fica de fora

Astrude Modesto, Caio Barbosa e Queila Oliveira

A universidade não está conseguindo manter um diálogo efetivo com a população.

A agenda cultural da cidade foi tomada por uma série de eventos acadêmicos com a chegada da UFRB. No entanto, esses eventos não estão sendo muito freqüentados. Cria-se um problema, já que uma das justificativas da implantação do campus universitário na cidade seria a de ampliar a relação do povo cachoeirano, de extrema riqueza cultural, com o mundo acadêmico.
No seminário A Celebração do Feminino, promovido no fim do mês de Abril, notou-se a presença de um grupo restrito de quatro pessoas de fora da universidade. Entre elas, esteve Sueli Rosário, 25, que desenvolve militância política. “Quero ser a primeira prefeita de Cachoeira e, como o seminário tratou da exaltação da mulher, eu não poderia deixar de estar aqui”, comentou Rosário.
Fábio Duarte Joly, professor do curso de História e um dos organizadores do seminário Cultura e Desenvolvimento, acredita que existe uma distância entre a comunidade e a academia. “Seria interessante abrir espaço nas mesas de discussão para pessoas da cidade. Dessa forma, poderíamos atrair um público maior”, afirmou Joly.
O Seminário de Literatura, Linguagem & Expressão, realizado no início do ano, é apontado como o evento que mais contou com a participação dos cachoeiranos. Os organizadores inovaram, fugindo dos espaços geralmente utilizados para as apresentações. Poesias foram recitadas ao ar livre, na Praça Dr. Milton. O cordelista Antônio Carlos Barreto atraiu um grande público através da poesia de linguagem popular.

RELAÇÃO COM ESCOLAS

“Os alunos do ensino médio parecem ter medo da universidade”, relatou Luiz Fernando Saraiva, também professor do curso de História. Existe certo preconceito da população em acreditar que só pessoas mais letradas – doutores, universitários, etc – têm espaço nos eventos acadêmicos.
Valter Fraga, futuro professor da universidade, sente falta de uma ligação maior com os professores dos colégios. Ele acredita que essa ligação poderia acabar com o medo que os alunos secundaristas parecem ter dos universitários.
A coordenadora do Colégio Estadual da Cachoeira, Maria do Rosário, também se incomoda com o afastamento que existe entre professores da universidade e do colégio. De acordo com ela, a universidade poderia ampliar os horizontes dos alunos, orientando atividades, pesquisas, projetos.
“Muita gente daqui tem o que acrescentar aos eventos da UFRB – os professores Carneirinho (Edvaldo), Luíza Lima, Roque Mendes e outros”, comentou Gerônima Leal (Geo do bar), 43. Ela diz que não freqüenta os eventos por falta de tempo.

DIVULGAÇÃO

A comunidade fica sabendo dos eventos através das rádios locais, a Rádio Paraguassu principalmente. Faz-se uso também de serviços de auto-falante e, mais recentemente, de cartazes espalhados nos estabelecimentos comerciais.
“Os veículos de comunicação deveriam ter uma linguagem mais atrativa, mostrando a importância desses eventos para a população”, comentou Elton Vitor Coutinho. Estudante de Jornalismo da UFRB, Coutinho é um dos responsáveis pela divulgação dos eventos da universidade.
Elton acredita que existe um forte embate entre a comunidade acadêmica da UFRB e a população. “As pessoas acabam se sentindo acanhadas em estar participando desses eventos, acreditando que não são capazes de dominar os temas apresentados”, concluiu.

ORGANIZAÇÃO

Falhas técnicas dificultam a compreensão do público. “O som estava ruim. Eu não ouvi muita coisa direito por causa do eco do microfone”, afirma Néia Costa, 22, aluna do cursinho A Cidadã. Ela esteve presente na palestra A Crise do Sistema Colonial e a Abertura dos Portos realizada em Maio no Conjunto do Carmo. O espaço é muito amplo e não houve uma disposição adequada do equipamento de som.
Os encontros geralmente começam com grandes atrasos. O seminário Cultura e Desenvolvimento, por exemplo, deveria ter início às 10 da manhã e aconteceria em dois turnos. No momento da apresentação, que começou uma hora mais tarde, os palestrantes anunciaram que a programação seria reduzida a um turno apenas, porque um dos convidados não estava presente.
Não costumam montar os equipamentos com antecedência. Os aparelhos, que ficam guardados na faculdade, são transportados para o local do evento no horário das apresentações.
Se a universidade repensasse as propostas dos eventos, conquistaria um público cachoeirano maior. Os temas escolhidos devem ser inseridos no contexto da cidade. A divulgação tem que deixar de ser um simples convite e atrair realmente a comunidade. É necessário que o público esteja representado nas discussões.

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