terça-feira, 20 de maio de 2008
Materia Overmundo-Edson Gomes
Recicla Recôncavo
Lise Lobo, Lorena Souza, Lorena Braga, Elsa Filgueiras e Carine Costa
O retorno da matéria-prima ao ciclo de produção é denominado reciclagem, embora o termo já venha sendo utilizado popularmente para designar o conjunto de operações envolvidas. O vocábulo surgiu na década de 1970, quando as preocupações ambientais passaram a ser tratadas com maior rigor, especialmente após o primeiro choque do petróleo, quando reciclar ganhou importância estratégica. As indústrias recicladoras são também chamadas secundárias, por processarem matéria-prima de recuperação. Na maior parte dos processos, o produto reciclado é completamente diferente do produto inicial. “Não se faz reciclagem em Cachoeira”, afirma Carlos Osvaldo Ferreira, mais conhecido como Badinho. A deficiência encontrada na coleta e tratamento do lixo das cidades de Cachoeira e São Félix levanta a questão do porquê da falta de investimentos nesse setor.Segundo José Cláudio, assistente do secretário de obras de Cachoeira, Antônio Cláudio Reis Andrade, já existiram lixeiras de coleta seletiva, porém alega que a população destruía os compartimentos ou não separava corretamente o lixo. Ele afirma, ainda, que a prefeitura pretende recolocar as lixeiras, mas que é necessário um projeto que eduque as pessoas a manejarem o lixo de forma correta. A coleta é realizada pela manhã e no final da tarde, e o lixo é despejado posteriormente no aterro Recôncavo Sul, entre Mangabeira e Muritiba. Com a preocupação do destino desse lixo, algumas pessoas vêm desenvolvendo, de forma independente ou não, projetos de reciclagem. Badinho é um dos idealizadores desses projetos. A ONG Fundação Verde Arte – Aprendendo a viver com a natureza, sediada na cidade da Cachoeira e fundada por ele em 2001, em parceria com a Associação do Alto do Cucuí de Brito, bairro do mesmo município, desenvolveu um trabalho com crianças e adolescentes voltado para aproveitamento de material reciclável. Através da reciclagem, a ONG, além da conscientização e do cuidado com o meio ambiente, promoveu o distanciamento dos jovens da marginalidade. Porém, por falta de incentivo dos órgãos públicos e da própria comunidade, suas atividades foram suspensas. A Secretaria de Educação de São Félix realizou em 2007 o Projeto Arte/Educação, desenvolvido por Carina Silva Falcão, articuladora pedagógica, com o monitoramento da artista plástica e diretora do Departamento de Cultura Ana Maria Fraga, onde todas as turmas das escolas municipais da educação infantil à 8ª série participaram produzindo objetos com materiais recicláveis, doados pela comunidade e trazidos pelos próprios alunos. “A escolha da utilização de materiais recicláveis surgiu para mostrar aos alunos os benefícios que essa atitude traz para o meio ambiente, além do custo zero”, diz Carina. Todos os trabalhos foram expostos na Praça José Ramos e na Casa da Cultura, tendo pouco público, o que comprova o desinteresse da população diante de uma iniciativa importante. Em outubro de 2008, o projeto terá continuidade com a Bienal Infantil, ainda sem data definida. Os alunos trabalharão com a Arte Contemporânea, produzindo obras inspiradas nos autores deste movimento, utilizando materiais recicláveis. “Vão aprender a dar importância ao que muitos não acham importante, o lixo” afirma Ana Maria. Com a evidente necessidade de um projeto para tratar o lixo de forma coerente, foi criada por Nilton Stein e desenvolvida por Badinho a Recicôncavo, que seria uma usina de tratamento de lixo do Recôncavo, implantada em Cachoeira. Preservação do Meio Ambiente a partir de coleta, separação e reaproveitamento de material seria o principal foco, além de gerar empregos e movimentar o comércio local. Segundo Badinho, o projeto foi arquivado devido a conflitos internos entre os membros do projeto e a falta de incentivo da prefeitura.
Pequena informação EDSON GOMES
Nascido em Cachoeira de São Félix, na Bahia, Edson Gomes partiu em 82 para São Paulo, depois de ganhar alguns festivais de música na cidade. Seis anos depois gravou o disco "Reggae e Resistência", de onde saiu seu primeiro hit nacional, "Samarina". Nesse trabalho já estava delineado seu estilo: um roots reggae engajado, profundamente inspirado por Bob Marley e Jimmy Cliff. Em 90, sai "Recôncavo", seu segundo cd e, em seguida, "Campo de Batalha", que emplacou, especialmente no nordeste, a música que dá título ao disco. O quarto disco, "Resgate fatal", chega em 95. Ainda gravou "Apocalipse", pela EMI, antes de partir para o trabalho independente.
Abraços a vcs!
Sayonara Moreno!
segunda-feira, 19 de maio de 2008
São Félix inaugura Faculdade de Música EAD e traz novas possibilidades para a população da região.
No dia 22 de abril foi inaugurada em São Félix a Faculdade de Licenciatura Plena em Música no sistema EAD (Educação à distância). O curso é resultado da parceria entre a UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), a UFBA (Universidade Federal da Bahia) e a prefeitura municipal, e visa suprir a carência de professores de música nas escolas públicas.
O projeto foi idealizado pela UFRGS e aprovado pelo Ministério da Educação, hoje encontra-se implantado em seis estados: Espírito Santo, Rondônia , Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso e na Bahia, que têm pólos de atuação em Salvador, Irecê, Cristópolis e São Félix.
A implantação da Faculdade de Música aparece como uma alternativa à carência de áreas de trabalho para a juventude de São Félix e Cachoeira. Estas Cidades, que tiveram um momento econômico favorecido pela produção fumageira, registram atualmente uma acentuada apatia econômica. Deste modo, o curso de Licenciatura em Música vem como a UFRB (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia) possibilitar à população da região o ingresso numa universidade pública.
ESTRUTURA DO CURSO- Das 60 vagas existentes no curso, apenas 22 foram preenchidas, ao contrário da cidade de Irecê, onde a primeira turma é formada por 140 alunos. Todos tiveram um contato prévio com a área de música ou educação, entretanto, o processo seletivo deste curso, que terá a duração de quatros anos e meio, foi semelhante ao da UFBA onde ocorre primeiro uma prova de conhecimentos gerais que é seguida de uma prova de aptidão.
Desde o início o curso tem enfrentado algumas dificuldades: as aulas virtuais estão sendo realizadas no Infocentro de São Félix, onde faltam alguns elementos como caixas de som, espaço amplo e, a principal delas: o ainda recorrente preconceito no que se refere à cursos realizados à distância. Segundo Nara Rúbia, tutora que orienta as aulas virtuais dos alunos, tal visão é resultado da idéia de que os cursos à distância são pouco rigorosos e eficientes. Ela é graduada em Música pela UFBA; tem especialização em Fundamentos do Ensino da Arte pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), e também é consultora de Cultura e Arte da Unesco na Bahia, realizou concurso público para assumir esta função.
A Faculdade de música de São Félix possui um diferencial em relação aos demais cursos realizados à distância, isso se deve ao fato das aulas serem realizadas durante todos os dias da semana. O acompanhamento e orientação da tutora são constantes, exceto na sexta-feira, onde os alunos complementam as suas atividades na sua própria residência. Nos outros dias da semana, cada aluno tem a obrigatoriedade de acessar a Plataforma virtual do curso durante quatros horas. “O curso é a distância entre aspas”, diz a tutora.
PARTICIPAÇÃO EFETIVA- Os alunos vêem bastante seriedade no curso. Leandro dos Santos Leite toca saxofone e destaca o comprometimento que o curso exige por parte do corpo discente. O maior diferencial, segundo ele, são as aulas realizadas diariamente. A professora de ensino infantil Marijane Oliveira também é aluna e diz que está sendo um desafio. Ela, que se considerava “leiga” na área musical por não conhecer nenhum instrumento, fez uso da voz no teste de aptidão. Para ela curso está superando suas expectativas e destaca o rigor das atividades e o clima familiar criado entre o grupo.
Os alunos ainda aguardam a chegada de instrumentos musicais, que está prevista para serem entregues em junho, pois são uma concessão da UFBA. Na parceria que possibilitou a implantação da faculdade em são Félix, a UFBA ainda é responsável por ceder os computadores necessários às aulas e alguns professores que realizarão os seminários presencias existentes no curso. Cabe à UFRGS a remuneração dos professores e tutores e o pagamento, juntamente ao FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) de uma bolsa de incentivo aos alunos no valor de 100 reais. Já a contrapartida do município diz respeito ao espaço da estrutura física da faculdade, o corpo de funcionários ali presentes e o pagamento da hospedagem da tutora.
Nara Rúbia ressalta o empenho da prefeitura de São Félix na aquisição da Faculdade de Música para o município, já que o pólo estava sendo assediado por várias cidades. Bastante otimista, ela destaca o empenho dos alunos, a boa estrutura e a seriedade do curso. “Melhor ainda é saber que, depois de concluído o curso, estes alunos estarão capacitados a ministrar aulas de músicas nas escolas de São Félix e de outras localidades.” Ela também ressalta as relações de companheirismos entre os alunos e professores o que facilita o aprendizado.Uma das mudanças apontadas por ela é de que a avaliação é feita através de conceito e não de notas.
A TRADIÇÃO SOBREVIVE- Não há dúvidas que a aquisição da Faculdade de Música pelo município de São Félix irá fortalecer a tradição musical característica da região do Recôncavo. Nos séculos XIX e XX, as filarmônicas participaram ativamente da construção desta identidade, sobretudo as filarmônicas do Recôncavo que, a despeito das adversidades, vêm criando formas de sobrevivência e conservação de nosso passado musical.
É também por este motivo que, desde o mês de março, foi iniciado em São Félix o Curso de Formação de Compositores e Maestros. O curso é financiado pelo Fundo de Cultura da Bahia e conta com a contribuição da Oficina de Frevos e Dobrados, Filarmônica União dos Ferroviários Bonfinenses e Centro Cultural Dannemann.
O diretor do Centro de Artes Humanidades e Letras, Xavier Vantin, diz que a UFRB não faz parte dessa empreitada, porém apóia a iniciativa e ressalta que o Recôncavo tem músicos de talento inegável, e que a direção CAHL pretende criar curso de música popular, com atividades de extensão, valorizando assim a cultura musical da região. Ele diz também que seria possível a criação de um festival de inverno para divulgar a música do recôncavo e atrair turistas para região.
PALAVRA DE MAESTRO - Segundo o professor e maestro Fred Dantas o objetivo deste curso é oferecer capacitação nas áreas de composição, regência, história e teoria musical para mestres, contramestres e músicos-líderes das filarmônicas. Abrangendo regiões distintas do estado, o Curso de Compositores e Maestros tem por objetivo injetar ânimo e vitalidade no mundo das filarmônicas. Muitos destes alunos, depois de concluído o curso, serão mobilizados para localidades onde a tradição musical esta deficiente e esquecida.
Além de São Félix, o curso também é ministrado em Salvador e em Senhor do Bonfim, e estende-se a alunos de cidades circunvizinhas. No que diz respeito ao andamento do curso, algumas dificuldades ainda precisam ser sanadas. No caso de Senhor do Bonfim o problema é manter um fluxo de professores em um lugar distante de Capital. Em Salvador, por sua vez, a dificuldade é a manutenção do próprio espaço, pois a sede da oficina, cujo aluguel, luz, água e telefone não podem ser pagos com dinheiro deste convênio e, em São Félix, a principal dificuldade está na rotatividade, no revezamento dos alunos que compromete o andamento dos trabalhos. As aulas são ministradas pelos professores Fred Dantas, etnomusicólogo, compositor e regente, trombonista; Celso Benedito, doutorando em Educação Musical pela UFBA e trompista; Pedro Amorim, compositor formado pela UFBA e professor de teoria musical em algumas instituições.Quando perguntado se o curso pode fortalecer a identidade musical no Recôncavo o professor e categórico: “Claro! Se aí está o berço da filarmônica brasileira. Em outros lugares, como Minas, existem corporações mais antigas, mas a música de Tranquillino me parece ser a primeira manifestação da banda brasileira, enquanto música.” Fred Dantas faz menção ao maestro Manoel Tranquilino Bastos, autor da música do Hino da Cachoeira e fundador da Sociedade Orpheica Lyra Ceciliana que é uma das mais antigas da região. No ano passado, foi premiada com o primeiro lugar no XII Festival de Filarmônicas do Recôncavo (Festfir), que é realizado de dois em dois anos no Centro Cultural Dannemann.
sábado, 17 de maio de 2008
SOBRE EDSON GOMES
Como havia falado na aula, elaborei um projeto sobre 'A origem do reggae' e encontrei alguns sites interessantes na internet sobre Edson Gomes. Caso tenham interesse, aí estão.
- Surforeggae http://surforeggae.ig.com.br/banda.asp%20%20Cat=31&Estilo=Reggae&CodBanda=5
- Wikipédia http://pt.wikipedia.org/wiki/Edson_gomes
- TV Cultura http://www.tvcultura.com.br/bembrasil/programacao.asp?progid=9
Está marcada a entrevista no dia 05/06 com Edson Gomes ás 15 horas.
Confirmarei em breve.
Abraço a todos.
Calila Oliveira
EDUCAÇÃO
Astrude Modesto, Caio Barbosa e Queila Oliveira
A universidade não está conseguindo manter um diálogo efetivo com a população.
A agenda cultural da cidade foi tomada por uma série de eventos acadêmicos com a chegada da UFRB. No entanto, esses eventos não estão sendo muito freqüentados. Cria-se um problema, já que uma das justificativas da implantação do campus universitário na cidade seria a de ampliar a relação do povo cachoeirano, de extrema riqueza cultural, com o mundo acadêmico.
No seminário A Celebração do Feminino, promovido no fim do mês de Abril, notou-se a presença de um grupo restrito de quatro pessoas de fora da universidade. Entre elas, esteve Sueli Rosário, 25, que desenvolve militância política. “Quero ser a primeira prefeita de Cachoeira e, como o seminário tratou da exaltação da mulher, eu não poderia deixar de estar aqui”, comentou Rosário.
Fábio Duarte Joly, professor do curso de História e um dos organizadores do seminário Cultura e Desenvolvimento, acredita que existe uma distância entre a comunidade e a academia. “Seria interessante abrir espaço nas mesas de discussão para pessoas da cidade. Dessa forma, poderíamos atrair um público maior”, afirmou Joly.
O Seminário de Literatura, Linguagem & Expressão, realizado no início do ano, é apontado como o evento que mais contou com a participação dos cachoeiranos. Os organizadores inovaram, fugindo dos espaços geralmente utilizados para as apresentações. Poesias foram recitadas ao ar livre, na Praça Dr. Milton. O cordelista Antônio Carlos Barreto atraiu um grande público através da poesia de linguagem popular.
RELAÇÃO COM ESCOLAS
“Os alunos do ensino médio parecem ter medo da universidade”, relatou Luiz Fernando Saraiva, também professor do curso de História. Existe certo preconceito da população em acreditar que só pessoas mais letradas – doutores, universitários, etc – têm espaço nos eventos acadêmicos.
Valter Fraga, futuro professor da universidade, sente falta de uma ligação maior com os professores dos colégios. Ele acredita que essa ligação poderia acabar com o medo que os alunos secundaristas parecem ter dos universitários.
A coordenadora do Colégio Estadual da Cachoeira, Maria do Rosário, também se incomoda com o afastamento que existe entre professores da universidade e do colégio. De acordo com ela, a universidade poderia ampliar os horizontes dos alunos, orientando atividades, pesquisas, projetos.
“Muita gente daqui tem o que acrescentar aos eventos da UFRB – os professores Carneirinho (Edvaldo), Luíza Lima, Roque Mendes e outros”, comentou Gerônima Leal (Geo do bar), 43. Ela diz que não freqüenta os eventos por falta de tempo.
DIVULGAÇÃO
A comunidade fica sabendo dos eventos através das rádios locais, a Rádio Paraguassu principalmente. Faz-se uso também de serviços de auto-falante e, mais recentemente, de cartazes espalhados nos estabelecimentos comerciais.
“Os veículos de comunicação deveriam ter uma linguagem mais atrativa, mostrando a importância desses eventos para a população”, comentou Elton Vitor Coutinho. Estudante de Jornalismo da UFRB, Coutinho é um dos responsáveis pela divulgação dos eventos da universidade.
Elton acredita que existe um forte embate entre a comunidade acadêmica da UFRB e a população. “As pessoas acabam se sentindo acanhadas em estar participando desses eventos, acreditando que não são capazes de dominar os temas apresentados”, concluiu.
ORGANIZAÇÃO
Falhas técnicas dificultam a compreensão do público. “O som estava ruim. Eu não ouvi muita coisa direito por causa do eco do microfone”, afirma Néia Costa, 22, aluna do cursinho A Cidadã. Ela esteve presente na palestra A Crise do Sistema Colonial e a Abertura dos Portos realizada em Maio no Conjunto do Carmo. O espaço é muito amplo e não houve uma disposição adequada do equipamento de som.
Os encontros geralmente começam com grandes atrasos. O seminário Cultura e Desenvolvimento, por exemplo, deveria ter início às 10 da manhã e aconteceria em dois turnos. No momento da apresentação, que começou uma hora mais tarde, os palestrantes anunciaram que a programação seria reduzida a um turno apenas, porque um dos convidados não estava presente.
Não costumam montar os equipamentos com antecedência. Os aparelhos, que ficam guardados na faculdade, são transportados para o local do evento no horário das apresentações.
Se a universidade repensasse as propostas dos eventos, conquistaria um público cachoeirano maior. Os temas escolhidos devem ser inseridos no contexto da cidade. A divulgação tem que deixar de ser um simples convite e atrair realmente a comunidade. É necessário que o público esteja representado nas discussões.
sexta-feira, 16 de maio de 2008
Matéria sobre a questão fundiária da UFRB
60 anos de ocupação e demais irregularidades em Cruz das Almas
Por Alanna Oliveira, Sandrine Souza e Taísa Silveira.
Uma mistura de negligência administrativa somada a uma série de fatores corroborou para ocupações irregulares no Campus de Cruz das Almas da UFRB (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia) e para a situação ilícita quanto à posse oficial da terra onde está localizado. As conseqüências são uma média de 300 famílias vivendo no espaço da universidade, muitas delas em condições subumanas e a pressão a qual está submetida a instituição para legalizar com urgência a posse.
Onde hoje funciona a UFRB, primeiramente foi a Escola Agronômica da Bahia, que surgiu a partir da desapropriação de minifúndios. Em 1967 o território passa a pertencer a UFBA( Universidade Federal da Bahia) e finalmente em 2006 passa a UFRB. Estão regularizados 1466 ha no cartório de São Félix em nome do estado da Bahia. Os problemas começam aí. O governo federal só constrói em espaços da União e existe uma diferença de 494 ha de quando houve a desapropriação até hoje.
A universidade está em processo de implantação dentro de uma perspectiva de REUNI (Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), serão abertas novas vagas em cursos já existentes e outros estão sendo criados. Isso significa o aumento da demanda por estrutura física. Porém, no mês passado a construção de prédios em Cruz foi interrompida e até que o território passe efetivamente para a governo federal nada mais será construído. Onde o reitor vai colocar tantos estudantes? Paulo Gabriel Nacif afirma que se as verbas para construção deixarem de vir que não vai permitir as entradas propostas no REUNI-UFRB. Este problema é global, pois nenhum dos campi da universidade tem a posse do espaço físico legitimada em cartório. Mas, ele diz que está tudo sob controle e que a comunidade acadêmica não deve se preocupar.
A questão da irregularidade das terras da UFRB, conta com uma equação complicada e de difícil resolução. O problema além de ser legal decorrente da falta de registro dos papéis em cartório, possui um elemento que transcende a justiça pura e simples: a ocupação ilegal dessas terras por pessoas físicas.
“No processo de construção da escola agronômica foi criada uma estrutura para que os funcionários e os professores pudessem ter condições de moradia no campus, na medida que essas pessoas fossem se aposentando elas teriam que ir saindo e outras viriam para ficar nas casas e ir substituindo-as, o que não ocorreu”, diz o professor José Aécio, que elaborou em 1995 depois de pesquisas e análises uma proposta para reordenamento do campus.
Da mesma forma os homens que vieram trabalhar na construção dos prédios também se fixaram na periferia do campus. Com o passar dos anos, continuaram a ocupar as terras, gerando núcleos de habitações irregulares, que vivem basicamente da agricultura de subsistência, aposentadoria e programas assistencialistas do governo. Existem duas comunidades principais nessa situação de ocupação ilegal: a Sapucaia e Baixa da Linha. Algumas pessoas foram fazendo construções na área da universidade como se não houvesse dono. O prof. Geraldo Sampaio, um dos idealizadores de uma proposta de estudos para o reordenamento físico, afirma que a expressão ouvida certa vez Fazenda Santa Fé, todo mundo põe o pé, caricata bem o campus.
O que fazer com essas pessoas que vivem a tantos anos nessas comunidades? É necessário perceber que se trata de seres humanos e da subjetividade ligada ao lugar onde vivem. Em 2004, quando houve o rumor de que eles teriam que sair das terras da universidade um morador da Linha suicidou-se, afirma Ciro, estudante de Agronomia da UFRB.
HISTÓRIAS- Gimalra e Edmando, casaram-se e foram viver na Baixa da Linha há oito anos. Têm quatro filhos, Hélio, Henrique, Jucimara e Henia. A última mora com sua avó. Gimalra estudou até a quinta série e seu marido até a terceira. Quando chegamos ela lavava roupas sobre uma lona com um balde cheio d’água ao lado e, os seus os filhos ao redor. Ao fundo ouvia-se uma música internacional. O pai estava dentro do barraco onde moram e ao notar a presença de estranhos saiu para falar conosco. Eles disseram viver ali por falta de escolha. Os dois estão desempregados, comem com o dinheiro dos “bicos” que Edmando consegue esporadicamente e com os auxílios do governo federal. Os moradores não têm acesso a saneamento básico, não há escolas, nem segurança pública. A eletricidade chegou a pouco tempo e para se ter água é necessário trazer da fonte com um balde sobre a cabeça. Geraldo Sampaio diz que essa região é a Etiópia da UFRB.
José Mário mora a 50 anos na Baixa da Linha. Ele nasceu na comunidade e teve 60 filhos. Mora numa casa de taipa com chão de terra e sem divisões, dentro da casa só uma amontoado de coisas velhas. Um fogão antigo, uma cortina suja e pedaços de papelão pelo chão. Diz já ter trabalhado como vaqueiro e eletricista, mas que o que queria mesmo era trabalhar com a terra. As dificuldades enfrentadas no dia-a-dia parecem não abalar seu encantamento pela vida. Ele é um homem altivo, com um riso forte sempre no rosto e olhar alegre. Mostrou com uma felicidade transparente uma madeira desenhada: “Essa é a minha arte”, diz ele, com olhos marejados.
Nem todos os que vão morar na universidade o faz por não ter condição de ir para outro lugar, alguns simplesmente aproveitam a falta de fiscalização e a corrupção de outros. Aécio afirmou que inclusive servidores envolveram terras da universidade em campanhas políticas. Moradores da Sapucaia afirmam que tiveram o consentimento de diretores do campus, enquanto ainda pertencia a UFBA, para construir casas.
“Tem uma figura que é ex-funcionário da Leste, aposentado e ganha, dizem, entre três e quatro mil reais, que construiu uma casa de alvenaria aqui e botou a mulher, aí brigou com a mulher, construiu outra casa de alvenaria e botou a amante, aí brigou com a amante, aí vem pra cá, para o diretor, que era Paulo na época, tomar uma das casas dele, que estavam com as mulheres. Esse cara vai ter o mesmo tratamento que os outros que foram marginalizados que foram segregados da sociedade civil, que estavam a baixo da linha de pobreza? Essa realidade está aí também.” Geraldo é contra a expulsão irresponsável dos moradores, mas chama a atenção que as diferenças acima devem ser levadas em consideração.
Na Sapucaia estavam Natalina Fernandes, 58, moradora de lá a cerca de 30 anos. Ela tem 11 filhos que foram criados lá e 19 netos. Trabalhou na roça, mas já não trabalha com a terra. Disse que foi morar na Sapucaia para não pagar imposto, o que ela considera fora de moda. No fim da conversa, ela pergunta a nós com tom hostil, que estávamos no carro da universidade, se queríamos tirar eles de lá. Outras pessoas não quiseram falar sobre o assunto.
Aécio diz que o nível de escolaridade dos posseiros é muito baixo, principalmente os da Linha, e que é muito triste ver essa realidade dentro da universidade. Ele alerta que apesar de toda complexidade da situação se não forem tomadas medidas corretivas o problema irá aumentar cada vez mais. No levantamento feito pelo prof. Amílcar Baiardi em 2004, já foi perceptível o aumento de famílias em relação aos dados coletados em 95. Para completar alguns ocupantes querem a posse das terras.
Aécio é contra a doação das terras aos posseiros. Ele diz que uma hipótese seria ceder uma terra ao município para que o órgão que realmente tem como resolver o problema e assistir a população o faça e aproveitar a demanda dos que querem trabalhar com a terra para viabilizar a pesquisa e a extensão através da capacitação rotativa dos mesmos. Ainda ressalta a importância de ouvir o que estas pessoas querem, o que ele não fez na sua pesquisa.
Nacif diz que a questão fundiária é uma preocupação da reitoria e que também não é a favor de doação de terras da universidade para os posseiros. “Eu acho que dentro das resoluções dos problemas, podemos inclusive determinar que alguma parte da área, eventualmente, sirva para algum tipo de assentamento modelo, assentamento pequeno, mas não é possível simplesmente desmembrar tudo e dar a posse aos posseiros, só para vocês terem uma idéia, temos algo em torno de 300 famílias ocupando a UFRB. Se nós dermos 5 hectares a cada uma dessas famílias, que é uma área pequena, somariam 1500 hectares, que seria a área da UFRB”, diz.
Há uma outra comunidade que vive nas dependências do campus de Cruz, a Volta Terra. A idéia inicial era fazer uma rotatividade, onde os trabalhadores do campo marginalizados nas periferias das cidades passariam um tempo na terra aprendendo técnicas de plantio e depois voltariam ao lugar de origem. O projeto já tem 18 anos e não houve esta rotatividade. O presidente da comunidade, Josué, fala das dificuldades enfrentadas e reinvidica a posse da terra, alegando que eles só podem receber um incentivo federal de R$ 1.500 e que com a posse teriam acesso a outros mecanismos de incentivo ao produtor rural. Com o apoio do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) eles pressionam a reitoria. No entanto, a universidade não tem o poder de doar terra, até mesmo porque não tem a posse dela. Essa é uma outra questão delicada que envolve o Campus de Cruz das Almas. Geraldo propôs um questionamento: Se o Volta Terra que está a 18 anos alega o direito à terra outras pessoas que trabalham a mais tempo na universidade poderiam alegar esse direito também?
O reitor disse que ceder terra a esta comunidade não é possível. “Trata-se da terra mais valorizada da UFRB e para onde nós estamos encaminhando o nosso crescimento, nós temos sensibilidade, temos ações concretas em direção a resolução dos problemas e é importante dizer que todas as questões serão resolvidas tendo o principio básico de que se trata de um problema que envolve questões sociais seríssimas. Não é o caso de polícia. Quanto às ameaças desse pessoal, nós não vamos trabalhar sobre ameaça. Não temos medo do MST, nem do Volta a Terra, nem de nada, nós vamos ter uma comissão trabalhando para propor soluções técnicas e no devido momento discutiremos com a comunidade, agora nós não vamos aceitar ultimato de ninguém por que estamos na nossa casa, essa é a nossa universidade, nós cumprimos nossas funções sociais e nós respeitamos todos esses movimentos, queremos também respeito à instituição, diz ele.
Novas perspectivas musicais para o Recôncavo
São Félix inaugura Faculdade de Música EAD e traz novas possibilidades para a população da região.
Kelma Costa , Meire Fiuza, Patrícia Neves
No dia 22 de abril foi inaugurada
O projeto foi idealizado pela UFRGS e aprovado pelo Ministério da Educação, hoje encontra-se implantado em seis estados: Espírito Santo, Rondônia , Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso e na Bahia, que têm pólos de atuação em Salvador, Irecê, Cristópolis e São Félix.
A implantação da Faculdade de Música aparece como uma alternativa à carência de áreas de trabalho para a juventude de São Félix e Cachoeira. Estas Cidades, que tiveram um momento econômico favorecido pela produção fumageira, registram atualmente uma acentuada apatia econômica. Deste modo, o curso de Licenciatura em Música vem como a UFRB (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia) possibilitar à população da região o ingresso numa universidade pública.
ESTRUTURA DO CURSO- Das 60 vagas existentes no curso, apenas 22 foram preenchidas, ao contrário da cidade de Irecê, onde a primeira turma é formada por 140 alunos. Todos tiveram um contato prévio com a área de música ou educação, entretanto, o processo seletivo deste curso, que terá a duração de quatros anos e meio, foi semelhante ao da UFBA onde ocorre primeiro uma prova de conhecimentos gerais que é seguida de uma prova de aptidão.
Desde o início o curso tem enfrentado algumas dificuldades: as aulas virtuais estão sendo realizadas no Infocentro de São Félix, onde faltam alguns elementos como caixas de som, espaço amplo e, a principal delas: o ainda recorrente preconceito no que se refere à cursos realizados à distância. Segundo Nara Rúbia, tutora que orienta as aulas virtuais dos alunos, tal visão é resultado da idéia de que os cursos à distância são pouco rigorosos e eficientes. Ela é graduada em Música pela UFBA; tem especialização em Fundamentos do Ensino da Arte pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), e também é consultora de Cultura e Arte da Unesco na Bahia, realizou concurso público para assumir esta função.
A Faculdade de música de São Félix possui um diferencial em relação aos demais cursos realizados à distância, isso se deve ao fato das aulas serem realizadas durante todos os dias da semana. O acompanhamento e orientação da tutora são constantes, exceto na sexta-feira, onde os alunos complementam as suas atividades na sua própria residência. Nos outros dias da semana, cada aluno tem a obrigatoriedade de acessar a Plataforma virtual do curso durante quatros horas. “O curso é a distância entre aspas”, diz a tutora.
PARTICIPAÇÃO EFETIVA
Os alunos ainda aguardam a chegada de instrumentos musicais, que está prevista para serem entregues em junho, pois são uma concessão da UFBA. Na parceria que possibilitou a implantação da faculdade
Nara Rúbia ressalta o empenho da prefeitura de São Félix na aquisição da Faculdade de Música para o município, já que o pólo estava sendo assediado por várias cidades. Bastante otimista, ela destaca o empenho dos alunos, a boa estrutura e a seriedade do curso. “Melhor ainda é saber que, depois de concluído o curso, estes alunos estarão capacitados a ministrar aulas de músicas nas escolas de São Félix e de outras localidades.” Ela também ressalta as relações de companheirismos entre os alunos e professores o que facilita o aprendizado.Uma das mudanças apontadas por ela é de que a avaliação é feita através de conceito e não de notas.
A TRADIÇÃO SOBREVIVE- Não há dúvidas que a aquisição da Faculdade de Música pelo município de São Félix irá fortalecer a tradição musical característica da região do Recôncavo. Nos séculos XIX e XX, as filarmônicas participaram ativamente da construção desta identidade, sobretudo as filarmônicas do Recôncavo que, a despeito das adversidades, vêm criando formas de sobrevivência e conservação de nosso passado musical.
É também por este motivo que, desde o mês de março, foi iniciado
O diretor do Centro de Artes Humanidades e Letras, Xavier Vantin, diz que a UFRB não faz parte dessa empreitada, porém apóia a iniciativa e ressalta que o Recôncavo tem músicos de talento inegável, e que a direção CAHL pretende criar curso de música popular, com atividades de extensão, valorizando assim a cultura musical da região. Ele diz também que seria possível a criação de um festival de inverno para divulgar a música do recôncavo e atrair turistas para região.
PALAVRA DE MAESTRO - Segundo o professor e maestro Fred Dantas o objetivo deste curso é oferecer capacitação nas áreas de composição, regência, história e teoria musical para mestres, contramestres e músicos-líderes das filarmônicas. Abrangendo regiões distintas do estado, o Curso de Compositores e Maestros tem por objetivo injetar ânimo e vitalidade no mundo das filarmônicas. Muitos destes alunos, depois de concluído o curso, serão mobilizados para localidades onde a tradição musical esta deficiente e esquecida.
Além de São Félix, o curso também é ministrado em Salvador e em Senhor do Bonfim, e estende-se a alunos de cidades circunvizinhas. No que diz respeito ao andamento do curso, algumas dificuldades ainda precisam ser sanadas. No caso de Senhor do Bonfim o problema é manter um fluxo de professores em um lugar distante de Capital. Em Salvador, por sua vez, a dificuldade é a manutenção do próprio espaço, pois a sede da oficina, cujo aluguel, luz, água e telefone não podem ser pagos com dinheiro deste convênio e,
Quando perguntado se o curso pode fortalecer a identidade musical no Recôncavo o professor e categórico: “Claro! Se aí está o berço da filarmônica brasileira. Em outros lugares, como Minas, existem corporações mais antigas, mas a música de Tranquillino me parece ser a primeira manifestação da banda brasileira, enquanto música.” Fred Dantas faz menção ao maestro Manoel Tranquilino Bastos autor da música do Hino da Cachoeira e fundador da Sociedade Orpheica Lyra Ceciliana que é uma das mais antigas da região. No ano passado, foi premiada com o primeiro lugar no XII Festival de Filarmônicas do Recôncavo (Festfir), que é realizado de dois em dois anos no Centro Cultural Dannemann.
O diretor do Centro de Artes Humanidades e Letras, Xavier Vantin, diz que a UFRB não faz parte dessa empreitada, porém apóia a iniciativa e ressalta que o Recôncavo tem músicos de talento inegável, e que a direção CAHL pretende criar curso de música popular, com atividades de extensão, valorizando assim a cultura musical da localidade. Ele diz também que seria possível a criação de um festival de inverno para divulgar a música do recôncavo e atrair turistas para região.
CULTURA
O conhecimento escrito, cada vez mais priorizado, colabora para a depreciação do saber manifestado através da memória oral.
Anderson Silva,Daniela Silva e Toniel Costa.
O conhecimento oral transmitido entre as diversas gerações, que se baseia na capacidade mental, visual e auditiva e nas experiências de vida, está sendo desvalorizado, devido á influência e credibilidade do conhecimento escrito, principalmente daquele propagado na academia. Porém a oralidade tem características tão amplas quanto o saber escrito; e isso se vê manifesto através da figura do Griot.
A oralidade era a única forma de propagação de saberes antes do surgimento da escrita. A memória auditiva e a visual eram recursos fundamentais que permitiam ás culturas orais passar ensinamentos para as gerações futuras. Em muitas culturas, a identidade do grupo estava sob a guarda de contadores de histórias, cantores e outros tipos de arautos, que na prática eram autenticamente os portadores da memória da comunidade. Este é o caso do papel desempenhado na África Ocidental pelos Griots.
O termo francês Griot (pronuncia-se griô), serve para designar pessoas que possuem conhecimentos orais, transmitidos por antepassados. São exemplos de Griot: rezadeiras, parteiras, oradores públicos, músicos, curandeiros, pessoas que conhecem o passado histórico de uma comunidade. O conhecimento que eles possuem é amplo e vasto e não se limita a uma área específica, ou seja, um griot que na comunidade indica folhas para uso medicinal, ao mesmo tempo pode ser uma espécie de conselheiro sentimental e ainda conhecer profundamente a história da localidade onde vive. Seus saberes estão totalmente guardados na mente.
FONTE DE CONHECIMENTO ORAL - Residente no município de São Félix, Edelzuita Sá Conceição, 74, parteira, também realiza curativo, mede pressão arterial e indica folhas para tratamento médico. De acordo com as suas contas, já fez mais de dois mil partos. “Nunca morreu uma mulher de parto na minha mão”, diz.
Dona Edelzuita desde a infância tinha vontade de trabalhar na área medicinal. “Quando eu era pequena e morava na fazenda, minha prima tinha algum ferimento e eu logo pegava uma folha parecida á uma pimenta-camarim. Ela dizia que não ia funcionar, mas acabou sarando. Daí eu descobri que tinha esse dom”, relata. Ela também usa folhas de banana para tratar de queimaduras.
A parteira, diz que em apenas dois casos não fez o parto porque eram situações em que a melhor solução para preservar a vida da mãe e do bebê era a cesariana. Dona Edelzuita descreve uma ocasião em que até um médico solicitou que ela fizesse o parto. “O primeiro parto perigoso que eu fiz aqui em São Félix foi o de uma moça que trabalhava em uma fábrica e tinha caído. A mãe e a filha estavam entre a vida e a morte, devido a uma infecção. O Dr.Fernando Lopes me deu a autorização para fazer esse parto, pois ele ia trabalhar em Conceição da Feira. Eu perguntei a ele se eu ficaria com a culpa caso a moça morresse? Ele me respondeu dizendo que eu tinha capacidade para fazer esse parto. No fim deu tudo certo; ela está em São Paulo e seu filho já está rapaz”.
ESCRITA: DONA DA VERDADE?– Dona Edelzuita ainda salienta que a parteira deve ter muita agilidade e atenção, pois no trabalho de parto tudo acontece de forma muito rápida e salienta que “pra fazer esse tipo de trabalho é preciso não agir com violência com a parturiente, não ser cruel com os familiares que estão ansiosos nesse momento e agir com a sua consciência”. Dona Edelzuita ainda comenta que muitos erros que acontecem em alguns partos atualmente seriam facilmente solucionados com o conhecimento que pessoas como ela possui, mas infelizmente é desprezado.
A escrita hoje tem fundamental valor quando se trata de transmissão de conhecimento. Ela garante veracidade em quase totalidade dos casos relacionados principalmente á pesquisa histórica de uma comunidade ou de alguém como um Griot.
Alguns acadêmicos questionam a credibilidade da oralidade, como fonte histórica e cultural, devido á possibilidades de omissão ou mentira com relação á fatos, autocelebração e até criação de uma trajetória artificial. Por outro lado, outros argumentam que, na realidade, os documentos, na verdade, são relatos orais passados para o papel por homens, que estão sujeitos ás mesmas falhas.
ASPECTOS INFLUENTES - É necessário enxergar o grande poder que a escrita exerce atualmente, através de uma visão bem mais ampla do que a habitual, pois questões econômicas e religiosas também contribuem para que o saber oral seja desvalorizado.
A cultura oral é uma característica do continente africano, que não exerce grande influência econômica no mundo, enquanto a escrita é oriunda do continente europeu que é economicamente superior. Temos como exemplo o modo de vida do brasileiro. Sendo que o nosso país é constituído etnicamente por três culturas: a portuguesa, a africana e a indígena, somente prevaleceu os costumes que a primeira deixou e que, nos dias atuais, os norte-americanos nos transmitem através de seus produtos.
A questão religiosa também tem influência neste caso, pois a cultura religiosa africana passada é baseada em conhecimentos orais, enquanto o cristianismo, difundido no Ocidente está fundamentado na Bíblia, as escrituras sagradas, ou seja, é valorizado aquilo que está escrito. Segundo o professor Emanoel Luís Roque Soares, doutorando em Filosofia da Educação pela Universidade Federal do Ceará, o processo de desvalorização da oralidade se dá devido á preconceitos religiosos e “por puro marketing”.
HISTÓRIA ORAL E CULTURA ORAL – De acordo com o professor, existe uma diferença entre a história oral e cultura oral ou oralidade. Sendo que a segunda é passada verbalmente, através do diálogo comunitário, pois é uma forma de não se perder o conhecimento, enquanto a primeira se trata de uma prática acadêmica de colher dados muito usada atualmente.
Recém integrado ao corpo docente da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), no campus de Amargosa, o professor afirma também que é possível ter apenas uma noção aproximada da palavra Griot. “A forma afrodescendente de ser Griot é diferente da africana, desde as questões de gênero uma vez que na África os Griots eram sempre masculinos, passando pela descendência e a maneira poética na qual o Griot africano se expressava. Aqui no Brasil o matriarcado além da não relevância dos laços sangüíneos diferencia em muito o Griot afrodescendente do africano”, explica.
O professor que também ministra aulas de Metodologia de Pesquisa para estudantes da UFRB, bolsistas do programa Conexões de Saberes, salienta que o Griot possui como principais características a oralidade, a ludicidade, a sabedoria e fundamentalmente, a ação publica uma vez que o Griot sempre visa à comunidade e o coletivo, ao invés do individual. “Além expressar uma nova possibilidade do conhecimento, diferente do acadêmico, o respeito ao coletivo, á velhice e a ancestralidade são traços fundamentais que os Griots passam para nossa sociedade”, diz ele que também cita que, nas comunidades onde o Estado e o saber acadêmico não são acessíveis, os Griots ainda são bastante reconhecidos e solicitados. “As coisas mudaram mais as necessidades das comunidades mais carentes, principalmente as quilombolas e as favelas que são quilombos urbanos tornam eles tão importantes quanto eram antes e em alguns casos até mais. Quem nunca precisou de uma bezendeira, parteira ou nunca tomou um chá de folha em uma comunidade carente?”, esclarece.
Em relação ao conflito entre o conhecimento acadêmico e a oralidade, o professor prefere manter um posicionamento equilibrado. “Os dois se completam, uma vez que são diferentes, e por isso não são adversários. O que existe é um preconceito de alguns acadêmicos que não perceberam ainda que a diferença é a melhor coisa que pode acontecer ao conhecimento”, relata o professor Emanoel.
Lyra: 138 anos de “Airosas Passeatas”
Por Palloma Braga
A Sociedade Cultural Opheica Lyra Ceciliana, fundada pelo maestro Abolicionista Tranquilino Bastos em 1870, comemora no dia 13 de maio 138 anos de existência. Patrimônio cultural vivo da cidade da Cachoeira e uma das mais antigas Filarmônicas da Bahia e do Brasil, a Lyra abre as comemorações com uma missa em ação de graças na igreja de Nossa Senhora do Rosário. Após a missa, a centenária Filarmônica segue pelas principais ruas da Cachoeira em uma tradicional passeata, cultivada desde tempos do seu fundador, com parada na Colina do Monte para reverenciar a memória do mesmo. Em seguida, se dirige para a sede da Filarmônica onde acontece a sessão solene e um coquetel de confraternização. As comemorações dos 138 anos serão efetivamente encerradas no próximo dia 24, às 20:00 hs com um concerto na Igreja da Ordem Terceira do Carmo e na oportunidade a Lyra estará gravando um cd e dvd com músicas do Maestro abolicionista.
Há exatos 120 anos a Lyra Ceciliana, regida pelo maestro da Abolição Tranquilino Bastos, conduzia mais de 2 mil pessoas pelas ruas da Cachoeira, em sua maioria recém-libertos, em uma “Airosa Passeata” comemorando a assinatura da Lei Áurea , segundo Walter Fraga era composta de uma multidão nunca vista na região do recôncavo. Tranquilino, além de ser um maestro negro Abolicionista ferrenho, era autodidata e de um exímio talento musical, o que o fez reconhecido nacional e internacionalmente. Sendo homenageado até mesmo pela famosa casa de sax de Paris, fabrica fundada pelo inventor do saxofone.
Muito antes da Abolição já escrevia artigos e peças musicais que faziam transparecer a sua aspiração por liberdade como o dobrado Navio Negreiro, homenagem ao poeta dos escravos Castro Alves, assim também como o dobrado Airosa Passeata, que retrata o momento em que ele conduzia a Lyra pelas ruas de cachoeira comemorando a Lei áurea, a polaca Rosas de Maio e o Hino Abolicionista. Autor de 500 composições Bastos, segundo Juvino Alves, músico, professor e pesquisador das obras do maestro, junto com Vila Lobos é um dos mais importantes compositores de banda do Brasil.
Inclusão social - Jessé do Carmo,27, músico, professor da escola de música da Lyra e do conservatório da Faculdade Adventista da Bahia e também maestro da Banda Sinfônica da mesma faculdade , é um dos exemplos de superação e de inclusão social proporcionada pelo trabalho desenvolvido pela Lyra. Hoje o mesmo à frente da escola Irineu Sacramento atende mais ou menos 50 crianças e jovens carentes da comunidade e salienta que a função da escola de música é de formar músicos para a Banda, mas que esta formação possibilita ao aprendiz se tornar profissional na área como tem acontecido com alguns. Outro exemplo dessa oportunidade oferecida pela Lyra é o jovem Paulo Vitor Mascarenhas, 21, que há 8 anos é músico da Filarmônica e diz que esta é muito importante em sua vida. “A Lira me deu oportunidade de aprender um instrumento secular e de outra forma me ensinou uma profissão, já que eu praticamente ganho da musica, trabalho com a música e amo a música”. Todo esse trabalho social feito pela Lyra Ceciliana, como também por outras filarmônicas do Recôncavo, é gratuito, como enfatiza a jornalista Alzira Costa, “O menino tem a oportunidade de aprender música, ter acesso a um instrumento gratuitamente, isso só acontece na Bahia, no Recôncavo”.
Revelando Talentos – “A Lyra que toca a liberdade”, como diz Luiz Antonio diretor cultural da Lyra, além de promover a inclusão social de jovens e crianças carentes, tem revelado alguns talentos para a música. Nilton Azevedo é um destes e que tem se destacado. Aos 14 anos o estudante fez o dobrado Zé Cutia, homenagem ao maestro da Lyra Orlando José, que foi o vencedor do concurso de dobrados 11ª Festifir, festival de Filarmônicas do Recôncavo, promovido pelo Centro Cultural Dannemann da cidade de São Felix. Tendo o seu primeiro dobrado já gravado em um cd. Hoje aos 16 anos Nilton tem13 composições de sua autoria que se divide em dobrado, marchas, polaca e chorinhos. Junto com alunos e ex alunos da Lyra o jovem músico formou o grupo Chorões do Recôncavo, que executa chorinhos, e já fez apresentações em eventos em São Paulo e Recife. Nilton diz que após concluir o ensino médio fará vestibular para Musica na UFBA, onde já toma um curso de flauta oferecido pelo professor Lucas Robatto.
A Filarmônica conta com aproximadamente 40 músicos que se apresentam em festividades cívicas e religiosas e em festivais.A Lyra tem contado para suprir as sua necessidades, como instrumentos, fardamentos, salário do professor da escola, com o apoio financeiro de 3 salários mínimos oferecido pela a prefeitura através de um convênio, com o aluguel da parte térrea do prédio e com os cachês de tocatas extras. Mas, segundo o presidente da mesma estes recursos ainda não são suficientes para suprir todas as necessidades, inclusive preservação, deste patrimônio.
IMAGINAÇÃO NO PODER
A minissaia não foi a única rebeldia da década de 60. O simbólico ano de 68, em especial, eclodiu em vários acontecimentos que marcaram uma geração inteira e reflete até os dias atuais.
Há 40 anos o mundo assistia estudantes eufóricos, lutando por uma sociedade menos capitalista e mais justa, segundo Edgar Morin era a ‘afirmação da adolescência’. Era uma crítica excêntrica à sociedade de consumo, ao totalitarismo, buscando uma quebra do conservadorismo moral e uma afirmação de individualidade...Era liberdade e crítica ao mesmo tempo.
Mas o que tornou 68 esse ano mítico? Qual foi o estopim da revolução? Não podemos falar de 68 sem dizer o que levou a acontecer tantos eventos marcantes neste ano. Toda essa movimentação política e cultural não aconteceu do nada. Segundo o poeta Geraldo Maia, o homem estava traumatizado com o militarismo, com as guerras, “resquícios da guerra causaram uma angústia no ser humano, ele passa a buscar soluções diferentes do militarismo, do terror da guerra. Começa a haver uma tendência ao rompimento vindo a explodir em 68”. A sociedade da década de 60 era uma geração cansada; cansada com a I e II Guerra Mundial, cansada com a iniciada Guerra Fria. Era uma geração que não aceitava a Guerra do Vietnã, que não engolia mais o falso socialismo soviético já tão desgastado, aborrecida com o machismo e o conservadorismo religioso.
Eles queriam mais. Queriam liberdade de expressão, liberdade sexual, liberdade de escolha. Seus ídolos eram Che Guevara, Luther King. Proclamavam a auto-afirmação, democratização da sociedade, da arte. E dessa sede por mudança, por quebra de tabus, cresce um vivo movimento estudantil. Na França, esse movimento consolidou-se a partir das universidades, transformando-se no famoso maio de 68. Já no Brasil, o movimento estudantil foi uma luta contra o regime militar. Na tentativa de conter a expressão subversiva dos universitários, a polícia mata o estudante inocente, Edson Luís. Era o que faltava para desencadear uma série de manifestações contra a ditadura em todo país, com a simbólica frase “Poderia ser meu filho”. Uma das manifestações mais importantes foi a Passeata dos 100 mil. Para a professora Lucileide Cardoso, uma das organizadoras do evento 68+40, “existe grande ênfase aos protestos estudantis, especialmente nos meios de comunicação, e um silêncio com relação a radicalidade do movimento operário. No meu modo de ver, o AI-5 instaurado em 13 de dezembro de 1968, serviu especialmente para reprimir a grande força das greves operárias de Osasco (SP) e Contagem (MG), ameaçadoras aos interesses do grande capital, base de sustentação dos governos militares. No entanto, não se pode minimizar a importância da onda de protestos estudantis, mas devemos pensar nos seus limites dentro da própria ordem ditatorial instituída pós-64. A bem dizer, 1968 no Brasil e no mundo, não se explica apenas pela revolta estudantil, proveniente do ethos universitário ou secundarista, mas compreende também a adesão de diferentes categorias de trabalhadores que juntos atuaram no processo de ruptura com a ordem estabelecida”.
68 não se limita ao maio francês. Nesse ano, na Tchecoslováquia, um grande movimento é liderado por intelectuais reformistas do Partido Tcheco. O objetivo era ‘desestanilizar’ o país, mudando a estrutura econômica, política e social. A proposta era liderada por Alexander Dubcek e tinha a promessa de abertura política, liberdade de imprensa, tolerância religiosa e direitos civis, sendo apoiada pela sociedade. Como resposta, a União Soviética prendeu Dubcek, que mais tarde renunciou, e interrompeu as reformas no país. O regime antigo continuou a vigorar na Tchecoslováquia, levando a Jan Palach atear fogo ao próprio corpo como símbolo d

Nesse contexto de ruptura, há uma valorização da cultura em todo mundo, ela passa a carregar uma simbologia de ‘ferramenta política’ nas mãos dos artistas. A produção cultural de 68 foi uma ‘quebra da narrativa linear da arte’. Era inteligente e sutil. Havia uma liberdade de criação, uma crescente busca pela popularização artística. Temos nesse cenário nomes como Andy Warhol e sua Pop Art e, aqui no Brasil, o efervescente movimento Tropicalista, composto por grandes músicos como Gilberto Gil, Gal Costa, Caetano Veloso e Tom Zé. O Tropicalismo valorizava o popular e fazia oposição à ditadura aqui instaurada.
Os jovens não queriam mais seguir o conservadorismo religioso, muito menos as suas doutrinas machistas e fálicas. Eles ambicionavam o ‘amor livre’ (ainda mais após a descoberta da pílula anticoncepcional), eles desejavam o prazer sexual. Dentro desse fervor libidinoso, o Feminismo e as religiões orientais ganham força ideológica. Começa a haver a aceitação do homossexualismo e o homem passa a ter uma percepção de pureza diferente da sua visão anterior. A idéia de que em um mesmo lugar há verdades e mentiras, de que o ser humano é plural, multifacetico adquire uma grande aceitação.
Sem dúvida, 68 nos influencia até hoje, seja politicamente ou culturalmente. Para Almícar Baiardi, “o legado de 68 seria a rebeldia, a construção de novos valores políticos e uma certa intercionalização da política”. Era uma mistura do lúdico mais o racional, “imaginação no poder” era o lema francês dos estudantes e operários lutando contra o governo de Charles de Gaulle. O professor Luiz Nova acredita que “maio de 68 é um momento único por uma razão: apesar de efêmero quanto a ato político e social, representou a união mais perfeita entre ação política de vanguarda e cultura libertária”.
A elite intelectual brasileira comemora e relembra essa data através de diversos eventos nas universidades de todo o país. A UFRJ, por exemplo, lançou um calendário comemorativo enfatizando a participação dos estudantes da instituição nos movimentos de 68. Na Bahia, onde o movimento estudantil foi atuante na época, as federais UFBA E UFRB promovem eventos acadêmicos ao longo do ano, 68+40. Sua abertura foi no dia 06 de maio de 2008, em Salvador, que contou com a participação do deputado José Dirceu e do economista Vladimir Palmeira, ambos estiveram inseridos de forma atuante nos movimentos estudantis da época. Para Dirceu, o poder de luta e organização para conquistar o que se quer foram as maiores heranças de 68. “Movimento estudantil na vida cultural e política brasileira foi decisivo, igualitário, libertário... organizado nas classes, mudou a forma de luta”, diz o deputado.
Na visão de Palmeira, é impossível discutir 68 sem antes analisarmos 64. Para ele, a ditadura implantada no nosso país não deve ser encarada apenas de maneira negativa, ele acredita que foi graças a ela que atingimos e alcançamos reformas que não conseguiram ser atingidas anteriormente. O economista acredita que as nossas heranças deixadas por esse ano foram as universidades públicas, a geração de esquerda e o movimento esquerdista.
A UFRB, no campus de Cachoeira, também promoveu mesas redondas e debates sobre o tema, inclusive relacionando o movimento estudantil de 68 com a invasão do campus da UFBA em 2001, exibindo o documentário “Choque”. A programação de 68+40 se estenderá até dezembro deste ano, contando com palestras, documentários e debates acerca do tema.
“Vão ser precisos anos e anos para se entender o que se passou”.Essa afirmação de Edgar Morin foi retirada do livro ‘1968 O ano que não terminou’, de Zuenir Ventura. Passaram 40 anos e até hoje tentamos entender o que realmente foi 68, sem dúvida, este ano causou grandes mudanças em toda estrutura social. Segundo Vladimir Palmeira: “Foi o espetáculo mais impressionante que eu vi em minha vida”.
UNIVERSIDADE
Estudantes do CEC utilizam os insuficientes computadores do CAHL, ocasionando disputas pelas maquinas.
Hamurabi Dias, Rosivaldo Mercês, Gustavo Medeiros e Deyvson Oliveira
Ultimamente, os alunos do Colégio Estadual da Cachoeira (CEC) são vistos acessando sites de jogos e relacionamentos nas máquinas do Centro de Artes Humanidades e Letras (CAHL), cuja utilidade seria voltada para a pratica da pesquisa acadêmica. Algumas medidas foram cogitadas, como a criação de um domínio codificado, ou seja, baseado em senha e login de uso particular para cada aluno da universidade. “Isso já foi solicitado, mas nunca foi implementado porque em Cruz das Almas (sede da UFRB) tem apenas um funcionário responsável para essa tarefa”, diz Andre Itaparica, vice-diretor do CAHL. Itaparica também relata que não existe a possibilidade de proibir os estudantes secundários de acessar as maquinas, para ele seria necessário somente separar uma parte para esses estudantes. “A proibição não é a melhor saída, por causa da troca que está sendo estabelecida. Certamente precisamos apenas separar a parte do Estadual e a parte da universidade”, afirma o vice-diretor do CAHL. Deivisson Leão, 28, assistente administrativo do campus de Cachoeira aponta a centralização que ocorre no núcleo técnico da universidade como um fator de empecilho na resolução desse problema. “Quando se tem uma se uma estrutura como a multicampi, o ideal é que você tenha os setores responsáveis descentralizados, mas quando eu cheguei aqui e assumi o núcleo técnico a idéia que eu tinha era que cada núcleo técnico seria um braço do CPD (Coordenadoria de Processamento de Dados) da sede da universidade, não teria tanta dependência de Cruz das Almas assim, mas não é isso, eles estão centralizando bastante”, lamenta Deivisson. Ele relata ainda que o laboratório parou por um dia para verificar todas as maquinas, registrar os endereços mais visitados e bloqueá-los, mas os estudantes ainda burlam com sites alternativos.
Além disso, em se tratando de espaço físico, o local cedido pelo Colégio Estadual para o campus de Cachoeira deveria propiciar, para os secundaristas, um ambiente voltado para as atividades de cunho estudantil, diz Inácio Tadeu, vice-diretor do CEC. Mas a relação não ocorre dessa maneira, sendo constatado diariamente o contrario nas dependências do prédio anexo, onde os estudantes são encontrados utilizando os computadores para finalidades que não sejam de pesquisa. “Há um funcionário que regula toda a situação.” reitera Tadeu. Esse funcionário chama-se Lourival Neto, 19, técnico de informática, responsável pelo controle dos alunos secundaristas no uso das maquinas. “O que temos é o controle visual, mas não temos como controlar todo mundo. E o que foi discutido é: não acessar paginas de relacionamento como Orkut e também programas de messenger”, informa Neto. Ele afirma que apesar dos equipamentos do CEC não serem novos, eles servem para o uso com pesquisas e realização de trabalhos escolares. Ainda revela que tem um projeto para ser realizado na informatização do colégio. Sua idéia consiste em colocar os vinte dois computadores que são da escola, e que não estão em uso, em rede e monitorar o sistema através de um programa. Será codificado tendo cada aluno sua senha. Ele diz que não o colocou em pratica, pois a banda larga (internet de alta velocidade) é baixa, 128 Kb, e o colégio não possui espaço para isso.
Entre os discentes do CAHL, há uma concordância para que o espaço seja utilizado de maneira harmônica, contanto que haja regras para o uso entre as duas partes. “Deve ser democratizado o espaço, só tem que existir regras para gerir o uso dos computadores. Nesse momento improvisado, eu acho que seria interessante continuar compartilhando os computadores, existindo limites discutidos e implantados”, afirma Washington Andrade, 30, estudante do curso de História. “Tem que ter organização. Tem como eles usarem e os alunos da faculdade também. Assim como o colégio cedeu o prédio para a universidade, acho justo que eles usem os computadores, desde que seja para realizar trabalhos escolares”, opina a estudante de Jornalismo, Carine Costa, 22.
SITUAÇÃO “A situação atual não é ideal e nunca foi a desejada”, salienta André Itaparica. O campus de Cachoeira ocupa provisoriamente as instalações do prédio anexo do CEC enquanto não há uma conclusão nas obras do Quarteirão Leite Alves, o que segundo previsões do vice-diretor do CAHL ocorrerá em agosto de 2008, existindo assim por parte da administração do Centro uma retribuição ao colégio permitindo dessa forma o uso das maquinas pelos estudantes.
O laboratório de informática dispõe atualmente de 14 computadores, que são utilizados pelos aproximadamente 320 discentes do Centro e também pela maioria dos 1896 alunos, segundo o último censo anual realizado no educandário em maio de 2007, do Colégio Estadual. Deivisson queixa-se do numero de maquinas disponíveis e do espaço em que está localizado o laboratório. “A quantidade de computadores não é suficiente, o espaço também não é suficiente”, reclama. Na atual circunstância a proporção alunos/micro ocasiona, alem da super ocupação das maquinas e do espaço, a origem de um clima de disputa entre os alunos das partes, em que por varias vezes há a necessidade da saída de algum aluno do colégio para ceder a maquina para determinado universitário, toda vez que aquele não esteja desenvolvendo suas atividades escolares. Condição constatada devido à desorganização que se observa no espaço, onde falta a delimitação do numero de computadores a serem ocupados pelas entidades.
Maioria dos alunos do CEC não possuem computadores em seus domicílios, o que leva os secundaristas a procurarem esse recurso no CAHL. A estudante Íris Silva, 16, aluna do 1º ano, relata que usa as maquinas para pesquisas, trabalhos escolares e também para acessar seus e-mails. Ela não possui computador pessoal. “Se a escola não tem, temos que ir onde tem, eu estou estudando onde tem”, disse Íris enquanto utilizava um dos micros.
Na cidade de Cachoeira existe o Identidade Digital, uma iniciativa do governo do Estado com a prefeitura municipal, que visa levar pessoas da zona rural e de baixa renda a ter seu primeiro contato com um computador. “O objetivo é a inclusão digital, é pegar aquela pessoa mais carente do município e da zona rural que não tem condições de ter acesso a informática em outro lugar e aqui o acesso é gratuito”, explica Antonio Barbosa, 38, funcionário da Secretaria de Educação e monitor do infocentro. Ele relata que recebe 60 pessoas em média nos dias de terça, quarta e sexta-feira, sendo que nos dias de segunda e sexta o número chega dobrar pelo motivo que o acesso a internet nessas ocasiões é livre, com paginas de relacionamento liberadas para o uso. “A finalidade disso aqui é que não vire uma lan house” alerta. A faixa etária que mais utiliza esse serviço são pessoas de 15 e 16 anos. Mas Barbosa expõe que idosos também freqüentam o espaço que ele monitora. Ele diz que o infocentro promove oficinas de inclusão social, oficina de jogos, alem de dar cursos de informática básica. O Identidade Digital ainda tem convênio com a APAE, recebendo-os todas as terças e quintas.
O espaço disponibiliza dez computadores conectados a internet, sendo que cada maquina pode ser utilizada por duas pessoas. O local, que também funciona aos fins de semana, é aberto também a alunos com o desejo de realizar suas atividades. Cada usuário dependendo da sua necessidade, tem direito a uma hora ou até uma hora e meia de uso. Barbosa informa que a divulgação do espaço é feita através das FMs da localidade e também nos jornais. Esse ambiente é o único da cidade pertencente ao projeto homônimo, existindo outros nos distritos a exemplo do de Capoeruçu, que é de ação do município. O monitor do Identidade aponta para a necessidade de outro local como esse. “O secretario de educação já esta correndo atrás de outro infocentro para o município, que vai ser instalado no Colégio Aurelino Maia”, prevê. Ele diz que a Bahia é o terceiro estado a adotar espaços como esses, copiando a idéia de São Paulo e Rio de Janeiro. Os baianos já possuem aproximadamente 362 infocentros, sendo que 65% dos municípios têm pelo menos um local com esse. Ações como essas alem de inserir pessoas no mundo digital, funcionam também como um caminho para solucionar o problema enfrentado pelo CAHL, onde a insuficiente quantidade de computadores torna inviável que o alto contingente de usuários continuem utilizando esse recurso.
Fogos de artifício não iluminam a vida de quem os produzem
No dia 11 de dezembro de 1998, Santo Antônio de Jesus ficou conhecida internacionalmente como a “Terra do Fogo”. Essa denominação foi ocasionada pela explosão de uma fábrica clandestina de fogos de artifício, no bairro Juerana – afastado do centro da cidade - matando 64 pessoas, sendo elas, mulheres, jovens e crianças. As 10 tendas que explodiram pertencia ao empresário Osvaldo Prazeres Bastos, conhecido como “Vardo dos Fogos”, que armazenava material explosivo ilegalmente e produzia incendiários improvisados sem condições de segurança para as pessoas que trabalhavam com o fabrico. Dez anos se passaram e o que se vê é a mesma cena: carreteiros – indivíduos que distribuem ilegalmente a mercadoria (pólvora) – passando para os produtores, que recebem a pólvora ilegal para o fabrico de fogos de artifício em locais inadequados, como fábricas sem autorização para funcionamento ou em fundos de quintais nas residências dos próprios trabalhadores, sem qualquer tipo de proteção e submetidos a sérios riscos de explosões. “Esses indivíduos encontram-se nas suas casas fabricando, em garagens ou tendas, recebem o material e estocam na própria moradia, podendo ocorrer explosões matando um contingente maior de pessoas, pois esses lugares são locais próximos a outras residências, se tornando uma bomba-relógio”, fala José Laércio Poli, Tenente da 6ª Delegacia do Serviço Militar do Exército de Santo Antônio de Jesus.
A maioria dos fabricantes são moradores do bairro carente Irmã Dulce, próximo à saída da cidade. Mesmo sabendo de toda a história e dos problemas que podem ter, alegam que o motivo pelo qual continuam no fabrico de explosivos ilegal é o desemprego intenso no município. Acreditam também que a dificuldade de encontrarem emprego é a imagem marginalizada do bairro, conhecido também por Mutum, onde possui um número grande de assaltantes. “Sabemos que o lugar onde moramos é excluído pela sociedade, porém, não é motivo para que os moradores continuem trabalhando para pessoas como Vardo dos Fogos, que enriquecem as nossas custas, pagando R$1,00 por milheiro de traque. Eu ficaria mais feliz se as pessoas me dissessem que cataria lixo para não produzir mais fogos”. Diz a moradora Maria Madalena Santos Rocha, 56 anos, e líder do Movimento 11 de Dezembro.
ASSOCIAÇÃO 11 DE DEZEMBRO: “Perdi minhas filhas há 10 anos, mais eu lutarei por justiça até acabarem minhas forças e isso eu dedico a elas”. Evidencia dona Maria Madalena, quando fala de suas três filhas – Mônica, 22, Adriana, 15 e Fabiana, 14 - que morreram com a explosão na fábrica clandestina. A partir de pessoas como a presidente Maria Madalena, outros familiares das vítimas e pessoas que se recusam esquecer a tragédia, participam da associação, fundada principalmente com o objetivo de lutar por justiça. Maria Madalena ressalta dos obstáculos que ainda não conseguiram combater, como a clandestinidade e o trabalho infantil existente, dizendo que não são só responsabilidade dos agentes fiscalizadores, mas, da população que não se mobiliza para combater o fabrico de fogos na cidade e região.
Existe também a falta de engajamento dos poucos associados, onde não há uma organização na busca de um espaço físico para acontecerem às reuniões, sendo utilizado provisoriamente a Creche 11 de dezembro, no bairro Irmã Dulce. “Sem um espaço para discutir os problemas e criar soluções definitivas, fica muito difícil para os componentes realizarem projetos voltados para a repressão da clandestinidade dos fogos de artifício”, diz Maria Madalena.
Após anos de espera por uma forma de amenizar a situação das crianças órfãs que perderam suas mães no dia da explosão, foi delegado ao Exército Brasileiro, no dia 03 de janeiro 2007, pagar uma indenização no valor de um salário mínimo, para ajudar nas despesas das crianças até ficarem adultas. As crianças que já completaram a maioridade penal receberam um retroativo para compensar os danos. “Depois da audiência, em 2006, realizada em Washington – Estados Unidos – o Estado Brasileiro assumiu a responsabilidade na explosão da fábrica e iniciou um processo de solução amistosa, para reparar danos morais e materiais. A incumbência do Exército Brasileiro foi de cadastrar 37 crianças que perderam suas mães na explosão da fábrica de fogos e pagar uma pensão no valor de um salário mínimo”. Explica o tenente José Laércio Poli.
AGENTES FISCALIZADORES: Aconteceu no dia 13 de maio, o I Seminário Regional de Alternativas Seguras à Produção de Fogos de Artifício em Santo Antônio de Jesus, no colégio Luis Eduardo Magalhães e foi promovido pela Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos. Tendo como objetivo apontar ações seguras para a fabricação de fogos nas regiões em que este tipo de atividade é a principal fonte de renda familiar. A principal meta deste evento foi discutir os riscos de explosão nas áreas de produção de fogos, noções básicas de como os locais podem ser prevenidos de incêndio e qual a situação real da região no que diz respeito ao comércio de venda de fogos. “Eventos como este tem a intenção de prevenir através da conscientização dos riscos que essa atividade expõe no dia-a-dia, tanto para fábricas legalizadas, quanto as informais”. Diz a Doutora Luciélia Lopes, promotora de Justiça da Comarca de Santo Antônio de Jesus.
No seminário estavam presentes todos os órgãos fiscalizadores de combate ao fabrico clandestino de artefatos, explosivos e incendiários improvisados: Justiça Global, Polícia Rodoviária Federal, Corpo de Bombeiros, Polícia Civil, Batalhão de Bombeiros de Santo Antônio de Jesus, Ministério Público do Estado da Bahia, Defesa Civil, Movimento do Trabalho e Emprego, Fórum de Direitos Humanos, Ministério Público do Trabalho e o DTE - Delegacia de Tóxicos e Entorpecentes. Todos apresentaram um painel de segurança, prevenção e alternativas para o trabalho seguro com explosivos.
Para diminuir a intensificação da fabricação de fogos próximos ao São João, o Tenente Marcos Magno, comandante do 3° Subgrupamento de Bombeiros Militar, diz estar fazendo uma vistoria nas fábricas legais e clandestinas nas cidades que tem grande ativação na produção de fogos de artifício: “No dia 08 de maio, visitamos os estabelecimentos comerciais de explosivos e artefatos pirotécnicos nas cidades de Santo Antônio de Jesus, Sapeaçu e Cruz das Almas, com o intuito de intervir o trabalho infantil e permitir que as pessoas que fabricam nestes locais, tenham um mínimo de segurança”.
Outro órgão fiscalizador é o Exército Brasileiro, que é responsável pela fiscalização das fábricas legalizadas e cadastradas de produtos controlados no Recôncavo Baiano, tendo 28 municípios na qual são responsáveis. Em Santo Antônio de Jesus existem três fábricas legalizadas cadastradas ao Exército: A Big Fire Works, Brasilian Fire Works e Boa Vista. A atividade principal do exercito é de observar o movimento do material que essas fábricas recebem, quanto consomem por mês e se tem nota fiscal que comprova a legalidade. Os estabelecimentos são obrigados a enviar mensalmente o mapa de estocagem, que vem acompanhado de uma guia de tráfico, que controla o que o produtor vai comercializar. “A partir destas provas, controlamos a distribuição, para evitar problemas como ocorreu no dia 26 de fevereiro de 2008” diz o tenente José Laércio Poli. Onde, Jerferson Ramos Santana, 14 anos e Roberto Barbosa, 34 anos, moradores do povoado de Bom Conselho, zona rural de Santo Antônio de Jesus, morreram por fabricarem explosivos numa fábrica clandestina.
PROJETO FÊNIX: Criado em 1999, com o intuito de orientar os produtores a cursos profissionalizantes e treinamentos para total segurança na fabricação de fogos, após 10 anos, o projeto só tem apenas 5% em vigor, onde duas fábricas estão funcionando e duas desativadas. O tenente José Laércio Poli, diz que se as fábricas irregulares participassem deste projeto e criassem uma cooperativa, saindo da irregularidade, muitas pessoas não trabalhariam mais com o risco de explosões. Ele ressalta também que a lucratividade da clandestinidade é maior, onde não se pagam impostos para o governo nem carteira assinada para os produtores. Para finalizar ele diz: “O que queremos é descobrir quem fornece esse material irregular, e é só questão de tempo para a força tarefa apanhar essas pessoas que não se importam com a vida desses indivíduos”.
JULGAMENTO: Dia 27 de junho de 2007 estava previsto o julgamento do réu Osvaldo Prazeres Bastos, que iria ao júri popular na comarca de Santo Antônio de Jesus. O advogado de defesa justificadamente não compareceu, deixando para apresentar no dia anterior da seção no Tribunal do júri os seus motivos, não revelados pelo Tribunal de Justiça. Depois desta ocasião foi marcada pelos familiares das vítimas no dia, 18 de Julho de 2007, uma reunião com o Ministério Público, para pedir o desaforamento do caso – pedido de mandato para o réu ser julgado fora da comarca de Santo Antônio de Jesus. O Ministério Público atendeu o anseio dos familiares das vítimas, e encaminhou a solicitação para o Tribunal de Justiça que conduziu o julgamento para a comarca de Salvador. “O motivo do desaforamento foi a indução e influência política e econômica do réu na cidade e região”. Diz a Promotora Luciélia Lopes.
Ficou marcado um novo julgamento para novembro de 2007, só que a defesa entrou com um recurso de embargo de declaração contra o acordo que decidiu o pedido de desaforamento. Isso impede que seja marcado outro júri até que se resolva este impasse. “Teremos uma longa trajetória até lá, mais não estamos medindo esforços para que isso venha logo a ser resolvido”. Expõe a Doutora Luciélia Lopes.
AVANA CAVALCANTE.
Créditos: Avana Cavalcante
Texto: Avana Cavalcante
Chapéu: Social
quinta-feira, 15 de maio de 2008
RELIGIÃO
Em Cachoeira, observa-se que a religião desempenha um papel econômico, especialmente no candomblé. Entretanto, há um tempo essa religião sofria um preconceito acentuado, pois é fruto de manifestações culturais afro-descendentes e foi mantida no Brasil devido ao sincretismo.
Segundo a docente do curso de História da Universidade Estadual de Feira de Santana, Mayra Paniago, o candomblé foi proibido enquanto religião até o governo de Getúlio Vargas, em 1934. Ela ressalta o fato do sincretismo ter surgido com a necessidade de simbolizar as divindades africanas por conta da imposição religiosa aplicada pela Igreja Católica.
A partir do momento que o candomblé passou a ser visto como religião e os pais de santo começaram a cobrar para realizarem os trabalhos e obrigações, a discriminação foi acentuada. Para o babalorixá, Idelson Sales do terreiro Ilê Axé Ogumjá, “o preconceito é fruto do passado, aliado a isso em Cachoeira e São Félix, o Candomblé tornou-se um comércio. Essa visão vai para fora como se os pais de santo fossem pessoas exploradoras, o que não é verdade.”
De acordo com ele, o Candomblé na verdade é uma das religiões mais caras pelas suas vestes e materiais para fazer trabalho. A cobrança para o jogo de búzios é necessária porque gasta-se com velas, cachaça, farinha e dendê, entre outros elementos que são usados para alimentar os orixás, portanto o dinheiro é revertido para isso.
Hoje em dia muitos pais de santo sobrevivem graças ao candomblé, mas nem sempre foi assim. Por carregar consigo a herança da falta de oportunidade conferida aos negros, muitos adeptos dessa religião sustentavam o terreiro com a venda de produtos na feira, como animais, grãos, temperos e tecidos.
OUTRAS RELIGIÕES
A prática religiosa associada ao aspecto econômico está presente em todas as religiões. A Igreja Católica e a Igreja Protestante, por exemplo, também cobram pelo exercício de suas atividades. Em ambas existe o pagamento do dizímo mensal revertido em prol da conservação da estrutura da igreja e pagamento dos funcionários e líderes, além da oferta voluntária e sem valor definido.
É importante ressaltar que para a Igreja Católica, o pagamento do dízimo, apesar de obrigatório, não tem um valor fixo e para a Igreja Protestante, o valor de dez por cento é tido como uma das obrigações ratificada com a opinião do presbito Carmerino Santos: “Está escrito na palavra de Deus.”
Apesar de Cachoeira ser uma cidade pequena, existe um número exagerado de Igrejas Protestantes o que resulta numa inexpressividade de fiéis. Devido a isso, a relação economia/religião não possui visibilidade no cenário econômico da cidade.
Em contraposição, o catolicismo e o candomblé, especialmente quando têm seus aspectos religiosos fundidos, movimentam grande parte da renda. Existe uma relação de sobrevivência mútua pelas duas religiões na região. No candomblé, por exemplo, há uma obrigação, que quando termina a feitura do orixá, tem que visitar Senhor dos Passos. Isso simboliza um novo passo, uma vida nova.
Contribuições para as despesas de manutenção são válidas em qualquer crença. Para o professor de história Augusto Spínola “muita gente se aproveita da religião para se amparar financeiramente, e, a partir do momento que se cobra, deixa de ser religião. Você não pode ser sustentado pela fé dos outros”.
Olho: “Hoje eu vivo do Candomblé.”
Calila Oliveira, Mariana Cardoso, Maurício Miranda e Vívian Aguiar
Saúde
Por medo de sofrer preconceito e descriminação, portadores do vírus de Cachoeira e São Felix, buscam tratamento em outras cidades
Camila Moreira, Daiane Dória, Danielle Souza e Talita Costa
Comum não só nos grandes centros, a AIDS tem se proliferado também em pequenas cidades, como é o caso de Cachoeira e São Félix, que possuem apenas quinze casos notificados. O pequeno número de notificações é justificado pelo fato destas serem obrigatórias apenas em casos de gestantes, crianças e pessoas que manifestam doenças ou infecções provocadas pela presença do vírus, as chamadas doenças oportunistas. Caso contrário o número de portadores registrados seria bem maior.
A Aids, Acquired Immune Deficiency Syndrome, que em português quer dizer Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, é uma doença causada pela infecção do organismo humano pelo vírus da Imunodeficiência Humana, mas conhecida como HIV, sigla também do inglês, Human Immunodeficiency Virus. O HIV destrói os linfócitos, que são células responsáveis pela defesa do nosso organismo, fazendo com que as pessoas infectadas fiquem vulneráveis a outras doenças e infecções. Relações sexuais com pessoas infectadas, sem o uso de camisinha, são consideradas entre outros, um comportamento de risco que pode ocasionar na infecção pelo vírus da AIDS (HIV). Além disso, pode ser citado o compartilhamento de seringas e agulhas, principalmente, no uso de drogas injetáveis; transfusão de sangue contaminado pelo HIV, reutilização de objetos perfuro-cortantes com presença de sangue ou fluidos contaminados pelo HIV. Ao contrário do que muitos acreditam a Aids não é transmitida através do beijo na boca, abraços e aperto de mãos e picadas de inseto. Segundo a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia, já foram notificados 8.263 casos de infecção pelo HIV, dos quais, 2.514 faleceram de Aids.
A coordenadora de vigilância epidemiológica de Cachoeira, Marcele Deutsch afirma que dos oito portadores existentes na cidade, sete estão em tratamento e um em processo de negação. Dentre os que fazem tratamento, está uma criança, a única entre os notificados, que teve como transmissora a própria mãe. Ela esta sendo encaminhada ao Conselho Tutelar porque seu pai, também portador do vírus não aceita que ela tenha o tratamento adequado, e nessas condições a Secretaria de Saúde não pode intervir diretamente.
Marcele Deutsch diz que há uma alta incidência de soro positivos em Cachoeira, mas o preconceito e a discriminação existentes os levam a buscar tratamento em centros de referencia de outras cidades, como é o caso do Hospital Roberto Santos, e o Creaids (Centro de Referencia Estadual de Aids), ambos em Salvador. Ela declara que na cidade há somente um infectologista trabalhando voluntariamente uma vez por mês na Santa Casa de Misericórdia.
Assistente Social – Atuante no Centro de Saúde Integral João Paulo II, em São Félix, Andréia Silva diz que o processo de negação, fase em que o paciente não aceita a doença, é constante e muitas vezes duradouro. O trabalho de abordagem é feito por uma assistente social em conjunto com uma psicóloga, daí, se necessário, os pacientes são encaminhados a outros centros de tratamento. A depender da necessidade do paciente, ele pode receber um suporte alimentar e um valor em dinheiro para ir à Salvador ou Feira de Santana, onde exames que não são feitos aqui possam ser realizados. Apesar do registro de apenas sete casos, em que um veio a óbito ainda esse ano e dois estão em processo de negação, a assistente social acredita na existência de muitos casos na cidade, desconhecidos por boa parte da população. Por isso defende a idéia da divulgação dos nomes dos soro positivos, mesmo que estes não apresentem as doenças oportunistas, porque, segundo a mesma, os portadores em maioria não se conscientizam sobre a problemática que o cercam e acabam por disseminar a doença, contaminando as pessoas que desconhecem a presença do vírus.
Questionada sobre a discriminação que cercaria o cidadão com o nome divulgado, Andréia Silva diz que o maior preconceito parte dos próprios portadores. “A Aids não tem cara, não dá pra confiar nas pessoas hoje em dia”, relata a assistente. Segundo ela os órgãos públicos estão fazendo a sua parte no que diz respeito a esclarecer a população sobre os riscos de contaminação. Todos que procuram os postos de saúde recebem o auxílio necessário e indispensável no tratamento, mas ela compreende que há um certo limite que não pode ser ultrapassado, e relata uma ocasião em que foi obrigada a desistir do caso. “Ela me disse se eu continuasse com as abordagens ela cometeria suicídio, eu tive que desistir”, diz Andréia Silva.
Geraldo Santana Leite – Conhecido como Bidú, 44 anos, natural da cidade de São Felix e portador do vírus da Aids há quatro anos, conta que não sabe quem foi seu transmissor. Homossexual tem dúvidas entre três parceiros com os quais teve relações sexuais na época em que adquiriu o vírus. Bidú é um exemplo de superação, descobriu que tinha o vírus através de um ferimento no seu corpo que não cicatrizava. Submetido a exames mais complexos acabou descobrindo que era portador, nesse momento relata que foi muito difícil, pois a cidade de São Felix, onde ele mora, é pequena e por motivos desconhecidos por ele o resultado de seu exame confirmatório caiu no conhecimento popular antes mesmo dele saber. Nesse instante, para Bidú foi essencial total apoio de sua família e amigos que permaneceram ao seu lado no momento mais dramático de sua vida. Esteve entre a vida e a morte, chegou a pesar apenas 43 quilos, mas conseguiu se recuperar. Hoje leva uma vida normal, pratica esportes, trabalha como paisagista, arbitro, produtor de moda e é candidato a vereador. Segundo ele o vírus causa limitações, mas nada que o impeça de levar uma vida ativa e digna como qualquer outro. “Sou esportista, jogo vôlei, basquete, apito jogo e sou respeitado normalmente pelos 22 homens em campo” conta Geraldo Leite.
Bidú foi e ainda é vitimas de preconceitos, já foi apontado nas ruas, mas não se sente inferior por isso, pelo contrário, tenta a cada dia conscientizar mais pessoas sobre a necessidade da preservação. “Só transo com camisinha e aviso aos parceiros sobre o vírus”. Acredita ser o preconceito a causa principal das pessoas portadoras do vírus não buscarem tratamento, diz que o fato de ter aceitado a doença fez dele uma pessoa melhor e mais feliz. “Outro dia peguei um táxi, era até conhecido meu, mas ele não aceitou fazer a corrida por causa da doença”, diz Bidú e entre risos acrescenta “quando as pessoas me olham atravessado eu solto beijos”.
Elogiado pelas assistentes sociais, Bidú é tido como um exemplo a ser seguido, “Bidú é uma vitória significativa, sem contar que o relato dele é emocionante,muito responsável ate mesmo no que diz respeito às relações,ele tem muito cuidado porque não quer levar adiante o que passaram para ele” declara Andréia Silva.
“Fique Sabendo” – Programa de saúde realizado em São Félix no ano de 2007, com o intuito de promover exames e conversas com pessoas que estavam em dúvidas se portavam ou não o vírus da Aids. Na ocasião não houveram resultados indicando a presença do vírus nos examinados. A idéia do projeto foi criar uma consciência nas pessoas que passariam pelo exame, para que caso o vírus fosse constatado, estas não entrassem no desespero, comum entre os despreparados e não esclarecidos ao receberem a confirmação. Márcia Schmalb, psicóloga e coordenadora do Unapsi (Unidade de Apoio Psicossocial), em São Félix, foi uma das mentoras do projeto. Ela afirma que a maior e principal preocupação do “Fique Sabendo” foi fazer com que as pessoas compreendessem a importância da preservação não apenas por medo, mas por entender que é fundamental manter seus corpos saudáveis e assim também proteger seus parceiros.
A coordenadora do Unapsi relata que os órgãos públicos têm tentado criar uma consciência de preservação na população, através de campanhas, visitas constantes de assistentes sociais e acompanhamento psicológico, tudo gratuitamente. Para ela falta uma consciência pessoal que pode estar ligada à idade e à maneira como a sociedade age. “As pessoas e principalmente os jovens agem como se só o momento valesse a pena”, diz Schmalb.
A banalização do sexo é um dos maiores problemas visto pela coordenadora. Jovens se envolvendo cada vez mais cedo, com pessoas desconhecidas, os deixam em situações de risco. Além de existirem mitos em torno dos preservativos, como por exemplo, que eles incomodam, geram desconforto e diminuem o prazer. Mitos estes que segundo Márcia Schmalb não tem qualquer fundamento.