terça-feira, 1 de julho de 2008

Saúde

“Beber, cair e levantar”

Adolescentes de Cachoeira aderem aos hits do momento e consomem bebidas alcoólicas

Daiane Arllin Caribé, Daniela Oliveira e Lorena Souza

Os jovens parecem estar cada vez mais embalados pelos hits mais tocados atualmente nas rádios, como “vamo simbora, pro bar, beber, cair e levantar”, ou “ alô... tô num bar, chego já...”. Muitos adolescentes fazem dessas músicas uma filosofia de vida, um exemplo a ser seguido.
O uso de drogas lícitas e ilícitas é cada vez mais precoce. A média de idade do primeiro contato com o álcool e com o tabaco é de aproximadamente 12,5 anos, segundo pesquisa realizada pela Secretaria Nacional Antidrogas e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Em muitos bares, os jovens não encontram nenhuma resistência para a compra de bebidas. Quanto mais cedo o uso dessas substâncias, maiores são as chances de que o adolescente apresente algum tipo de dependência na fase adulta. Segundo especialistas, o consumo causa problemas na aprendizagem e até mentais. A maior parte dos alcoólatras começou a sua dependência ainda na adolescência.
L.H.C., de 13 anos, nunca encontrou dificuldades para comprar álcool, principalmente em bares do bairro onde mora. Ele acrescenta que, geralmente, bebe quando está com os pais ou familiares. Um outro jovem, de 16 anos, afirma que começou a beber em companhia dos pais e não encontra dificuldade ao comprar qualquer tipo de bebida alcoólica. A.P.M., da mesma idade, também nunca teve problemas para conseguir comprar cerveja. “Meus pais sabem que nunca vou fazer nada de errado por causa disso”, diz.
Donos de bares da cidade dizem que seguem as leis e até colam os cartazes emitidos pelo Conselho Tutelar. Cristovaldo Sacramento da Silva, funcionário do Bar Night and Day, diz não vender aos menores de idade, nem mesmo quando eles alegam que a bebida será para consumo dos pais. Já Francine Torres, proprietária do bar Bazar Vale do Paraguaçu, admite não pedir documento de identidade e nem questionar a idade do adolescente. Mas ressalta: “Não vendo para crianças”.
LEGISLAÇÃO - Segundo o conselheiro Luis Nascimento Amorim, as fiscalizações realizadas na cidade de Cachoeira acontecem anualmente e são intensificadas em épocas de festa, com advertências verbais e portarias expedidas pelo juiz, inclusive com a colagem de cartazes de alerta em todos os bares da cidade. O Conselho Tutelar é responsável apenas pela parte burocrática, fazendo um trabalho de fiscalização e advertência. Se houver reincidência, é enviada uma queixa ao Ministério Público, o que pode ocasionar uma notificação aos pais dos adolescentes e o fechamento do bar.
O alcoolismo pode causar perdas restritas de memória, demência, alucinações, delírios e mudanças de humor. Por isso, o uso abusivo de bebidas e o consumo do tabaco, entre os jovens, são os fatores que mais preocupam a saúde pública. Além, é claro, do uso também afetar o índice de acidentes de carro, atropelamentos e brigas.
O artigo 243 do Estatuto da Criança e do Adolescente diz que quem vender ou fornecer, de qualquer forma, produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica nas crianças ou adolescentes, pode ser condenado a uma pena de dois a quatro anos de detenção. Se o fato não constitui crime mais grave, uma multa pode ser emitida.

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