terça-feira, 1 de julho de 2008

Entrevista

Entre acordos, expectativas e defesas

Professor Borges diz porque abdicou de sua candidatura e defende Tato

Avana Cavalcante, Mariana Cardoso, Sayonara Moreno e Vivian Aguiar

O professor Pedro Borges dos Anjos, nesta entrevista, fala sobre a sua decisão de abrir mão da candidatura a prefeito de Cachoeira e sobre a atual polêmica envolvendo o prefeito da cidade, Fernando Antônio da Silva Pereira, o Tato. Borges tem 64 anos, é formado em Língua Inglesa pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Fez mestrado na School for International Training, nos EUA. Além disso, é bacharel em Teologia pela Faculdade Filadélfia Internacional e doutor em divindade pela mesma instituição.
REVERSO: Como é a sua relação com o prefeito Tato?
PEDRO BORGES: Já há algum tempo, o prefeito Tato tem uma boa relação comigo. Ele diz que tem respeito pela minha candidatura, mas gostaria que eu ficasse com ele por querer que eu participe do seu futuro governo. Tato vinha sempre me fazendo essa proposta e, realmente, ele está estourando nas pesquisas, com 78,3%, seguido por Raimundo Leite, com 8,3%, e eu mais abaixo ainda. Pensando nisso, vi que não ficaria bem sustentar uma candidatura minha sem expressão de competitividade. Ele mandou o Secretário de Educação vir aqui e eu fui até lá ao gabinete dele conversar, já que nós tínhamos algumas propostas de geração e ocupação de emprego e renda e a vinda da empresa Bonatec pra cá. Se ele aceitasse incluir isso no futuro governo dele, nós fecharíamos. Tato aceitou a proposta. Temos mais umas duas idéias em nível de educação, fechamos com ele e nosso partido – o PMN (Partido da Mobilização Nacional) - passou a integrar a coligação. O prefeito inclusive pediu que eu fosse candidato a vereador por eu ter possibilidade de eleição, por achar que a Câmara precisa de mim, mas eu ainda estou considerando essa possibilidade.
R.: A Bonatec é uma empresa de que?
P.B.: É uma empresa que produz peças de veículos lá de São Paulo. E 30% da produção desta empresa é aqui na Bahia. E o diretor já estava com um protocolo para instalá-la em Camaçari. Como ele é amigo de minha família, eu pedi que fosse aqui em Cachoeira
R.: Então, o PMN ele fez uma coligação com o partido do prefeito?
P.: Exatamente. São 19 partidos que entraram em coligação com o partido dele.
R.: No dia 25 de junho, vimos uma parte da população cachoeirana pedindo a candidatura do prefeito Tato. O senhor saberia nos explicar o que está acontecendo em torno do prefeito?
P.B.: O prefeito Tato foi eleito pelo PFL e é amigo do ex-governador Paulo Souto, que o ajudou muito, desde seu tempo como vereador. Praticamente, o prefeito Tato teve uma prefeitura paralela nesse período, porque o governador atendeu tudo o que ele pediu. Mas logo que ele foi eleito, e o governador Jacques Wagner também, ele teve a proposta de passar para o PMDB do ministro Geddel Lima, com promessas de que a mudança seria melhor pra ele. Ele acatou e passou para a base aliada do governador Wagner e vinha sustentando isso. Recentemente, o prefeito pediu apoio aos Democratas (novo PFL) e Paulo Souto concordou. Eles vieram aqui e nesse encontro foi oficializado o apoio dos Democratas ao Tato. Só que, quando foi fazer seu discurso, houve um momento em que ele disse que não tinha nenhum compromisso em apoiar os candidatos do PMDB, nem a vereador nem a deputado federal, e que sua obrigação era com o partido que o elegeu. Seus adversários pegaram essa gravação e levaram ao presidente do PMDB, Lúcio Lima, irmão de Geddel Lima. Ele ordenou a presidenta do PMDB de Cachoeira, sogra de Raimundo Leite, que entregasse os dígitos do partido ao seu adversário.
R.: Mas o senhor continua apoiando o prefeito Tato?
P.: Continuo apoiando-o, e, além disso, o seguinte: ele também foi expulso do PMDB. A executiva se reuniu em seguida e o expulsou. Ele agora se encontra sem partido. Mas Tato é uma pessoa de muitos recursos: recursos de oratória, recursos financeiros, por isso contratou bons advogados que estão buscando na Justiça que a convenção seja válida e a Justiça reconheça sua candidatura. O resultado está próximo de sair e, se tudo acontecer como se espera, ele sairá como candidato. Se ele não conseguir, o prefeito Tato tem nomes dentro desta coligação para apontar, e que terá grandes chances de ser bem sucedido nas eleições. Eu espero que recaia no meu.
R.: Iríamos perguntar justamente se o seu nome seria um dos possíveis de ser apontado...
P.B: Eu estou na coligação e espero realmente que o meu nome seja apreciado, porque evidentemente todos tem méritos mas, para a disputa, tem que se procurar um candidato cuja intelectualidade e o nível cultural esteja de acordo com o desenvolvimento de Cachoeira. Eu reconheço que tenho esses méritos. Eu quis ser candidato porque eu tenho certeza que posso ajudar Cachoeira no seu desenvolvimento.
R.: O que o senhor achou da manifestação de parte da população da cidade com relação ao prefeito?
P.B.: Eu achei muito válido que a população se manifeste, tendo em vista o prefeito que ele é, podemos observar as diversas obras que ele tem realizado na cidade. E é uma pessoa de mente aberta, se você chegar com uma sugestão para fazer, com certeza ele irá considerá-la para eventualmente incluí-la no seu plano. De modo que eu achei muito positiva a manifestação da população.
R.: Em contrapartida, existem rumores e acusações envolvendo o monopólio da família Pereira nas empresas da cidade. O que o senhor pode nos dizer sobre isso?
P.B.: Ele não pode impedir que sua família cresça com seus próprios recursos aqui. É uma família de fazendeiros muito rica e nada impede que seus empreendimentos continuem prosperando em Cachoeira.
R.: A oposição denuncia que as compras municipais são feitas nos estabelecimentos da família Pereira. O senhor poderia afirmar se isso realmente acontece?
P.B: Eu não tenho muito conhecimento a respeito disso, contudo, por mais que o prefeito não queira fazer essas compras, ele vai se sentir até obrigado a fazê-las. Os Pereira são donos de casas de material de construção, de supermercados, de postos de gasolina e muitos destes estabelecimentos não têm empresas concorrentes, ou seja, não dá pra comprar em outro lugar. Mas eu não tenho maiores detalhes para dar sobre o assunto.
R.: Outra denúncia que é feita é de que existem laranjas por trás da família, recentemente isso foi dito até relacionado à loja de conveniências Vieira...
P.B.: Eu venho acompanhando isso há algum tempo, sobre a administração dessas acusações. Mas uma coisa que me chama atenção é que os vereadores que falam sobre isso têm buscado na Justiça que o prefeito realmente seja punido, mas não existem provas. Então, se a Justiça sabe de tudo isso e não dá o passo para fazer a punição, ou a Justiça é irresponsável ou os vereadores estão fazendo falsas acusações.

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