terça-feira, 1 de julho de 2008

Patrimônio

Desafios da conservação

Manutenção dos prédios restaurados pelo Monumenta gera preocupação

Kelma Costa e Palloma Braga

Muitas propriedades, públicas ou privadas, que fazem parte da rica e colonial estrutura arquitetônica da cidade de Cachoeira se encontram em precárias condições de conservação. Isso não passa despercebido aos olhares de nativos e visitantes. Alguns imóveis, que antes apresentavam características de abandono e deteriorização, já foram contemplados pelo Monumenta. Entretanto, alguns prédios restaurados já apresentam sinais de desgastes. Logo, é pertinente a criação de mecanismos que possibilitem a conservação dessas estruturas.
Inicialmente, o Monumenta, programa do Ministério da Cultura com financiamento do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e apoio da Unesco, tinha como prioridade a realização de reformas em estruturas arquitetônicas públicas que fazem parte do acervo histórico da cidade. Posteriormente, os benefícios estenderam-se às propriedades privadas. A primeira ação efetuada pelo Monumenta foi a restauração da Capela Nossa Senhora D’Ajuda, construída entre os séculos XVI e XVII. A capela já apresenta indícios de degradação por conta da falta de conservação da sua estrutura. Em seguida, foram restaurados outros monumentos, como o Conjunto do Carmo e a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário.
PRESERVAÇÃO - Luydy Fernandes, professor do curso de Museologia da UFRB (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia), assinala a importância da conservação preventiva. Segundo ele, a conservação corretiva é muito mais cara, drástica e morosa, enquanto a intervenção preventiva é mais fácil e pode ser feita no dia-a-dia. Sanar uma infiltração, um problema no telhado e conservar a pintura são medidas de conservação preventiva. Para Luydy, a integridade do imóvel deve ser garantida pelo ocupante, sendo que as áreas tombadas da cidade estão sujeitas à intervenção do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
Lidiane Alves, administradora do Monumenta, salienta que os imóveis restaurados pelo programa do Ministério da Cultura têm a garantia de acompanhamento e novos reparos no prazo de cinco anos. Entretanto, ela afirma que a manutenção interior do imóvel deve ser mantida por quem o utiliza.
Geralmente, as grandes restaurações não são mantidas. Num curto espaço de tempo, a estrutura mostra-se novamente degradada, sendo necessário uma nova intervenção que exige maiores recursos financeiros. Exemplo disso foi a restauração do prédio que abrigava o Arquivo Público. Este, por encontrar-se em desuso, já que as autoridades ainda não decidiram qual será a sua finalidade, apresenta sinais de descaso, como lixo e vegetação na sua estrutura.
DIFICULDADES – De acordo com Jomar Lima, coordenador do Museu das Artes Sacras de Cachoeira, a maior dificuldade que a Igreja enfrenta para preservar o patrimônio é a carência de recursos para a sua manutenção. A Igreja Católica, que já vivenciou períodos de opulência, passou a sofrer, nos últimos tempos, dificuldades financeiras que também resultam na perda do prestígio de outrora. “No passado tinham pessoas abastadas. Se a igreja precisava mudar o telhado, essas pessoas vinham e bancavam. Esta realidade acabou. É muito raro ver hoje pessoas abnegadas que tiram do próprio bolso recursos para manter isso”, diz Jomar.
Uma saída para esse tipo de problema tem sido o empréstimo de alguns espaços da igreja no esforço de obter recursos financeiros. Essa experiência ocorre com a Pousada do Convento. Fundado pela Ordem dos Carmelitas, o antigo convento passava por sérios problemas de auto-sustentação. Por conta disso, o seu espaço foi cedido a terceiros que, além de zelar pela sua conservação, ainda pagam à ordem Carmelitana, que tem sede em Salvador e São Paulo.
Segundo a administradora do programa Monumenta, em Cachoeira, 141 imóveis privados foram beneficiados e esperam repasse do recurso emitido pela Caixa Econômica Federal. De acordo com a renda do proponente, o empréstimo pode ser pago em até 20 anos. Para obter recursos do Monumenta, o imóvel privado tem que estar dentro da área tombada ou próxima aos prédios públicos.
Zélia Dias do Nascimento teve o seu prédio reformado com recursos cedidos pelo Programa. Ela destaca a importância de estar com a documentação do imóvel em dias para a concessão do empréstimo. Reformada, a propriedade só pode ser vendida após toda a dívida com o projeto ser quitada.

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