Guerra de espadas: diversão perigosa
Queima de fogos atrai milhares de turistas a Cruz das Almas nas festas juninas
Daniela Silva, Meire Fiúza e Patrícia Neves
O São João de Cruz das Almas atrai cerca de 100 mil visitantes todos os anos, que dançam e se divertem ao som das bandas de forró, do tradicional pé-de-serra ao novo forró elétrico. Além do arraiá, outra atração que encanta moradores e turistas no São João da cidade é a tradicional guerra de espadas. Os fogos são queimados na maioria dos bairros. Os fogos são fabricados pelos próprios moradores, no quintal de suas casas. O material para confecção do produto.é providenciado desde o final de junho, quando terminam as festas.
Roberto Santos, 45 anos, diz que já faz espadas há 27 anos e explica passo a passo como fabrica o artifício, desde de a retirada do bambu, principal material para a fabricação, até a fase da queima. Os outros materiais, como pólvora, barro, limalha de ferro, salitro e cordão de sisal encerado fazem parte do conjunto que tem como arte final um show de beleza e perigo.
“Deve-se enrolar o cordão de sisal encerado em volta do bambu bem apertado para que ela não exploda”, afirma. A fabricação é muito detalhada e qualquer erro pode comprometer o uso da espada. Neste ano, a dúzia das espadas custava de R$ 70 a 100. Quando questionado sobre o perigo, Roberto diz que cada pessoa tem que ter cuidado com a fabricação, não colocar fogo e nem beber perto do material. Ele diz ainda que nunca sofreu nenhum acidente.
Apesar do custo alto e de muito trabalho, os espadeiros não deixam que a tradição das espadas acabe. Eles contam os meses para que possam participar desta manifestação que envolve diversão e perigo para quem toca (queima) e para quem se arrisca a assistir.
A maioria dos espadeiros acredita que a guerra atrai os turistas para a cidade, e a festa em si fica em segundo plano. “Bandas de forró têm em todos os lugares, até melhores das que tocam aqui, mas o povo vem mesmo é pra ver a batalha que é um espetáculo bonito e só tem aqui”, diz Sérgio Lopez, 48 anos, espadeiro desde os 12 anos. Lopez organiza, há 30 anos, o casamento (uma batalha de espadas que começa com um casamento da roça e termina com a queima dos fogos) do CEAT (Colégio Estadual Alberto Torres). Ele conta que tudo iniciou com um trabalho pedagógico realizado com o irmão, quando eles ainda eram estudantes do segundo grau. A brincadeira virou uma tradição que movimenta a cidade até hoje.
A cidade toda se envolve com a guerra. As fachadas das casas residenciais e comerciais são cobertas com papelões. Bares e quiosques cercam as suas áreas com tela e maderite para formar os camarotes e cobrar pela entrada no estabelecimento. Os comerciantes afirmam que o local é seguro e dá para ver a guerra à vontade.
O aposentado Eliel Santana diz que antigamente gostava que seus parentes viessem à sua casa para ver a guerra de espadas, mas, infelizmente, agora não se sente mais seguro em fazer isso. Há muita polêmica em torno desse assunto. Muitos moradores são contra a queima de espadas, pois ela suja as fachadas das casas, além de quebrar telhas e ferir muitas pessoas que não estão participando da festa. No último São João, Edson Teixeira, de seis anos, que residia na zona rural da cidade, morreu com queimaduras de terceiro grau na cabeça e no tórax porque estava em local com grande concentração de pólvora. Outro incidente também aconteceu quando uma espada entrou na sala de parto do hospital Santa Casa de Misericórdia, quebrou vidraças, aparelhos e espalhou pólvora e barro por todo local. Por sorte, o recém nascido já havia sido retirado do local, mas duas enfermeiras ficaram queimadas.
Além dos espadeiros, há os que defendem a tradição na cidade. Inclusive, moradores dos bairros com grande concentração de queima de espadas se divertem com o espetáculo. Nos dias em que acontecem as guerras, as pessoas saem mais cedo do trabalho por causa do perigo que o artifício proporciona.
A batalha principal acontece no dia 24 de junho na praça Senador Temístocles. Porém, outras acontecem nos bairros, organizadas pelos moradores. Em alguns locais é proibido queimar espadas, mas poucos espadeiros respeitam o decreto. Uma campanha, feita pela prefeitura, com nome “Espadeiro Consciente”, tenta controlar os fogueteiros para que eles não provoquem tantos acidentes. Neste ano, mais de 200 pessoas ficaram queimadas na guerra de espadas. Três ficaram em estado grave e foram encaminhadas para o Hospital Geral do Estado. Segundo os médicos da Santa Casa de Misericórdia, a maioria dos queimados ingere bebidas alcoólicas, o que provoca grande parte dos acidentes.
terça-feira, 1 de julho de 2008
Patrimônio
Desafios da conservação
Manutenção dos prédios restaurados pelo Monumenta gera preocupação
Kelma Costa e Palloma Braga
Muitas propriedades, públicas ou privadas, que fazem parte da rica e colonial estrutura arquitetônica da cidade de Cachoeira se encontram em precárias condições de conservação. Isso não passa despercebido aos olhares de nativos e visitantes. Alguns imóveis, que antes apresentavam características de abandono e deteriorização, já foram contemplados pelo Monumenta. Entretanto, alguns prédios restaurados já apresentam sinais de desgastes. Logo, é pertinente a criação de mecanismos que possibilitem a conservação dessas estruturas.
Inicialmente, o Monumenta, programa do Ministério da Cultura com financiamento do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e apoio da Unesco, tinha como prioridade a realização de reformas em estruturas arquitetônicas públicas que fazem parte do acervo histórico da cidade. Posteriormente, os benefícios estenderam-se às propriedades privadas. A primeira ação efetuada pelo Monumenta foi a restauração da Capela Nossa Senhora D’Ajuda, construída entre os séculos XVI e XVII. A capela já apresenta indícios de degradação por conta da falta de conservação da sua estrutura. Em seguida, foram restaurados outros monumentos, como o Conjunto do Carmo e a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário.
PRESERVAÇÃO - Luydy Fernandes, professor do curso de Museologia da UFRB (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia), assinala a importância da conservação preventiva. Segundo ele, a conservação corretiva é muito mais cara, drástica e morosa, enquanto a intervenção preventiva é mais fácil e pode ser feita no dia-a-dia. Sanar uma infiltração, um problema no telhado e conservar a pintura são medidas de conservação preventiva. Para Luydy, a integridade do imóvel deve ser garantida pelo ocupante, sendo que as áreas tombadas da cidade estão sujeitas à intervenção do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
Lidiane Alves, administradora do Monumenta, salienta que os imóveis restaurados pelo programa do Ministério da Cultura têm a garantia de acompanhamento e novos reparos no prazo de cinco anos. Entretanto, ela afirma que a manutenção interior do imóvel deve ser mantida por quem o utiliza.
Geralmente, as grandes restaurações não são mantidas. Num curto espaço de tempo, a estrutura mostra-se novamente degradada, sendo necessário uma nova intervenção que exige maiores recursos financeiros. Exemplo disso foi a restauração do prédio que abrigava o Arquivo Público. Este, por encontrar-se em desuso, já que as autoridades ainda não decidiram qual será a sua finalidade, apresenta sinais de descaso, como lixo e vegetação na sua estrutura.
DIFICULDADES – De acordo com Jomar Lima, coordenador do Museu das Artes Sacras de Cachoeira, a maior dificuldade que a Igreja enfrenta para preservar o patrimônio é a carência de recursos para a sua manutenção. A Igreja Católica, que já vivenciou períodos de opulência, passou a sofrer, nos últimos tempos, dificuldades financeiras que também resultam na perda do prestígio de outrora. “No passado tinham pessoas abastadas. Se a igreja precisava mudar o telhado, essas pessoas vinham e bancavam. Esta realidade acabou. É muito raro ver hoje pessoas abnegadas que tiram do próprio bolso recursos para manter isso”, diz Jomar.
Uma saída para esse tipo de problema tem sido o empréstimo de alguns espaços da igreja no esforço de obter recursos financeiros. Essa experiência ocorre com a Pousada do Convento. Fundado pela Ordem dos Carmelitas, o antigo convento passava por sérios problemas de auto-sustentação. Por conta disso, o seu espaço foi cedido a terceiros que, além de zelar pela sua conservação, ainda pagam à ordem Carmelitana, que tem sede em Salvador e São Paulo.
Segundo a administradora do programa Monumenta, em Cachoeira, 141 imóveis privados foram beneficiados e esperam repasse do recurso emitido pela Caixa Econômica Federal. De acordo com a renda do proponente, o empréstimo pode ser pago em até 20 anos. Para obter recursos do Monumenta, o imóvel privado tem que estar dentro da área tombada ou próxima aos prédios públicos.
Zélia Dias do Nascimento teve o seu prédio reformado com recursos cedidos pelo Programa. Ela destaca a importância de estar com a documentação do imóvel em dias para a concessão do empréstimo. Reformada, a propriedade só pode ser vendida após toda a dívida com o projeto ser quitada.
Manutenção dos prédios restaurados pelo Monumenta gera preocupação
Kelma Costa e Palloma Braga
Muitas propriedades, públicas ou privadas, que fazem parte da rica e colonial estrutura arquitetônica da cidade de Cachoeira se encontram em precárias condições de conservação. Isso não passa despercebido aos olhares de nativos e visitantes. Alguns imóveis, que antes apresentavam características de abandono e deteriorização, já foram contemplados pelo Monumenta. Entretanto, alguns prédios restaurados já apresentam sinais de desgastes. Logo, é pertinente a criação de mecanismos que possibilitem a conservação dessas estruturas.
Inicialmente, o Monumenta, programa do Ministério da Cultura com financiamento do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e apoio da Unesco, tinha como prioridade a realização de reformas em estruturas arquitetônicas públicas que fazem parte do acervo histórico da cidade. Posteriormente, os benefícios estenderam-se às propriedades privadas. A primeira ação efetuada pelo Monumenta foi a restauração da Capela Nossa Senhora D’Ajuda, construída entre os séculos XVI e XVII. A capela já apresenta indícios de degradação por conta da falta de conservação da sua estrutura. Em seguida, foram restaurados outros monumentos, como o Conjunto do Carmo e a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário.
PRESERVAÇÃO - Luydy Fernandes, professor do curso de Museologia da UFRB (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia), assinala a importância da conservação preventiva. Segundo ele, a conservação corretiva é muito mais cara, drástica e morosa, enquanto a intervenção preventiva é mais fácil e pode ser feita no dia-a-dia. Sanar uma infiltração, um problema no telhado e conservar a pintura são medidas de conservação preventiva. Para Luydy, a integridade do imóvel deve ser garantida pelo ocupante, sendo que as áreas tombadas da cidade estão sujeitas à intervenção do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
Lidiane Alves, administradora do Monumenta, salienta que os imóveis restaurados pelo programa do Ministério da Cultura têm a garantia de acompanhamento e novos reparos no prazo de cinco anos. Entretanto, ela afirma que a manutenção interior do imóvel deve ser mantida por quem o utiliza.
Geralmente, as grandes restaurações não são mantidas. Num curto espaço de tempo, a estrutura mostra-se novamente degradada, sendo necessário uma nova intervenção que exige maiores recursos financeiros. Exemplo disso foi a restauração do prédio que abrigava o Arquivo Público. Este, por encontrar-se em desuso, já que as autoridades ainda não decidiram qual será a sua finalidade, apresenta sinais de descaso, como lixo e vegetação na sua estrutura.
DIFICULDADES – De acordo com Jomar Lima, coordenador do Museu das Artes Sacras de Cachoeira, a maior dificuldade que a Igreja enfrenta para preservar o patrimônio é a carência de recursos para a sua manutenção. A Igreja Católica, que já vivenciou períodos de opulência, passou a sofrer, nos últimos tempos, dificuldades financeiras que também resultam na perda do prestígio de outrora. “No passado tinham pessoas abastadas. Se a igreja precisava mudar o telhado, essas pessoas vinham e bancavam. Esta realidade acabou. É muito raro ver hoje pessoas abnegadas que tiram do próprio bolso recursos para manter isso”, diz Jomar.
Uma saída para esse tipo de problema tem sido o empréstimo de alguns espaços da igreja no esforço de obter recursos financeiros. Essa experiência ocorre com a Pousada do Convento. Fundado pela Ordem dos Carmelitas, o antigo convento passava por sérios problemas de auto-sustentação. Por conta disso, o seu espaço foi cedido a terceiros que, além de zelar pela sua conservação, ainda pagam à ordem Carmelitana, que tem sede em Salvador e São Paulo.
Segundo a administradora do programa Monumenta, em Cachoeira, 141 imóveis privados foram beneficiados e esperam repasse do recurso emitido pela Caixa Econômica Federal. De acordo com a renda do proponente, o empréstimo pode ser pago em até 20 anos. Para obter recursos do Monumenta, o imóvel privado tem que estar dentro da área tombada ou próxima aos prédios públicos.
Zélia Dias do Nascimento teve o seu prédio reformado com recursos cedidos pelo Programa. Ela destaca a importância de estar com a documentação do imóvel em dias para a concessão do empréstimo. Reformada, a propriedade só pode ser vendida após toda a dívida com o projeto ser quitada.
Cultura
Produção cultural emperrada
Artistas e órgãos relacionados ao setor cultural de Cachoeira não dialogam
Astrude Modesto, Caio Barbosa, Queila Oliveira e Talita Costa
Cachoeira é apresentada para turistas de todas as partes como a cidade da riqueza histórico-cultural. Esse rótulo constrói a idéia de que o campo cultural da cidade está inserido num sistema extremamente organizado e que responde aos mais variados requisitos do mercado artístico contemporâneo. Não é esse o cenário para quem vive a cultura local mais de perto.
Os pintores irmãos Carlos e Juvenal Martfeld acreditam que viver de arte em Cachoeira é uma vergonha. “As pessoas não têm dinheiro nem cultura. Preferem dar vinte mil reais em carros, mas não dão nada para um quadro”, comentou Carlos. Ele está temporariamente em Cachoeira e já chegou a vender quadros nos Estados Unidos. Hoje, expõe seu trabalho no atelier do irmão Juvenal, localizado na Rua Ruy Barbosa.
Juvenal Martfeld diz morar em Cachoeira há muito tempo e que pinta quadros por gosto pessoal. Ele se queixa da desunião em que vivem os artistas cachoeiranos. “Existe até uma associação, mas ela não funciona de fato”, afirmou.
Outro problema levantado pelos irmãos Martfeld é quanto à questão dos direitos autorais das obras. Carlos afirma que só turistas entram no atelier. Muitos deles para fotografar. Os irmãos não se sentem à vontade com a idéia de terem suas pinturas fotografadas. “Os gringos tiram fotos e ampliam para vender fora do país”, comentam. Carlos afirma que um amigo já viu um de seus quadros, que nunca foi vendido por ele, exposto numa vitrine italiana.
O Secretário Municipal de Cultura, João de Moraes, se incomoda com a espetacularização da cultura cachoeirana, ao mesmo tempo em que acredita que os artistas da cidade precisam ter uma visão mais ampla do sistema mercadológico em que estão inseridos. De acordo com ele, os bens culturais não devem ser pensados apenas enquanto tradição nem tampouco exclusivamente como mercadoria.
Através do Seminário de Cultura e Turismo de Cachoeira, realizado em julho de 2008, a secretaria pretendia inserir na comunidade artística justamente a idéia de que a cultura tem acepções mais amplas que não somente as que tocam a idéia da arte enquanto produtor e produto.
Outro projeto é o de separação das secretarias municipais de cultura e turismo, uma vez que essas duas possuem metas distintas. Pretende-se criar o Conselho Municipal de Cultura de Cachoeira, que estará mantendo relações mais estreitas com o governo do Estado, em ações afirmativas para o setor cultural da cidade.
Moraes critica a conduta de alguns artistas cachoeiranos que desejam que algum órgão os adote e lhes conduza ao desenvolvimento. Muitas pessoas, por exemplo, consideram que o Centro Cultural Dannemann, localizado em São Félix, serve de palco apenas para artistas plásticos de outras localidades e que este fato evidencia um descaso para com a produção cultural local. Segundo Moraes, os próprios artistas não estão atentos aos requisitos necessários para a exposição de trabalhos nos eventos produzidos pelo Dannemann.
AUSÊNCIA DE DIÁLOGO - João de Moraes, que também é sócio da Associação dos Artistas, comentou que não existe um diálogo efetivo entre a organização e a Secretaria de Cultura. Cogitou-se, por exemplo, a idéia de execução de uma feira de artesanato durante o São João de 2008. A feira seria realizada na Praça 25 de Junho, um dos circuitos mais movimentados da festa de Cachoeira. Segundo Moraes, a Petrobras estaria patrocinando um evento diferenciado para aquele local. Só tocaria forró pé-de-serra, o que selecionaria um público mais alternativo e de poder aquisitivo maior, que provavelmente estaria comprando os produtos expostos pelos artesãos.
A idéia da feira não se concretizou. Segundo o secretário de Cultura, uma semana antes dos festejos juninos, a Associação dos Artistas alegou que os artesãos não tinham condições para expor os seus trabalhos. Eles precisavam de bancas para colocar as peças. A secretaria de Cultura, segundo Moraes, se ofereceu para conseguir algumas dessas bancas, mas a Associação dos Artistas não aceitou que o projeto fosse realizado daquela maneira.
Moraes via na realização da feira a possibilidade de dar uma visibilidade maior aos artistas cachoeiranos e, dessa forma, reunir fundos para a realização de uma feira mais estruturada em agosto, na festa da Boa Morte.
Outro indicativo da falta de articulação da área artística pôde ser verificado no dia 26 de junho, quando foi realizado, em Cachoeira, o Encontro Setorial da Funceb (Fundação Cultural do Estado da Bahia). O evento contou com a presença do secretário de Cultura do Estado da Bahia, Márcio Meirelles, e da diretora da Funceb, Gisele Nussbaumer. Na oportunidade, os artistas cachoeiranos deveriam estar presentes, já que no evento foram apresentados os editais de projetos para o desenvolvimento artístico-cultural da região. No entanto, estiveram no local apenas o representante da secretaria de Cultura do município e quatro artistas locais, entre eles Nei Pontão, idealizador dos projetos Giga Mundo e Muleki é Tu.
A Associação dos Artistas e Animadores Culturais da Cachoeira funciona na parte superior do prédio da Secretaria de Cultura e Turismo. O diretor, Fábio Pereira, foi procurado pela reportagem, mas não foi encontrado.
Artistas e órgãos relacionados ao setor cultural de Cachoeira não dialogam
Astrude Modesto, Caio Barbosa, Queila Oliveira e Talita Costa
Cachoeira é apresentada para turistas de todas as partes como a cidade da riqueza histórico-cultural. Esse rótulo constrói a idéia de que o campo cultural da cidade está inserido num sistema extremamente organizado e que responde aos mais variados requisitos do mercado artístico contemporâneo. Não é esse o cenário para quem vive a cultura local mais de perto.
Os pintores irmãos Carlos e Juvenal Martfeld acreditam que viver de arte em Cachoeira é uma vergonha. “As pessoas não têm dinheiro nem cultura. Preferem dar vinte mil reais em carros, mas não dão nada para um quadro”, comentou Carlos. Ele está temporariamente em Cachoeira e já chegou a vender quadros nos Estados Unidos. Hoje, expõe seu trabalho no atelier do irmão Juvenal, localizado na Rua Ruy Barbosa.
Juvenal Martfeld diz morar em Cachoeira há muito tempo e que pinta quadros por gosto pessoal. Ele se queixa da desunião em que vivem os artistas cachoeiranos. “Existe até uma associação, mas ela não funciona de fato”, afirmou.
Outro problema levantado pelos irmãos Martfeld é quanto à questão dos direitos autorais das obras. Carlos afirma que só turistas entram no atelier. Muitos deles para fotografar. Os irmãos não se sentem à vontade com a idéia de terem suas pinturas fotografadas. “Os gringos tiram fotos e ampliam para vender fora do país”, comentam. Carlos afirma que um amigo já viu um de seus quadros, que nunca foi vendido por ele, exposto numa vitrine italiana.
O Secretário Municipal de Cultura, João de Moraes, se incomoda com a espetacularização da cultura cachoeirana, ao mesmo tempo em que acredita que os artistas da cidade precisam ter uma visão mais ampla do sistema mercadológico em que estão inseridos. De acordo com ele, os bens culturais não devem ser pensados apenas enquanto tradição nem tampouco exclusivamente como mercadoria.
Através do Seminário de Cultura e Turismo de Cachoeira, realizado em julho de 2008, a secretaria pretendia inserir na comunidade artística justamente a idéia de que a cultura tem acepções mais amplas que não somente as que tocam a idéia da arte enquanto produtor e produto.
Outro projeto é o de separação das secretarias municipais de cultura e turismo, uma vez que essas duas possuem metas distintas. Pretende-se criar o Conselho Municipal de Cultura de Cachoeira, que estará mantendo relações mais estreitas com o governo do Estado, em ações afirmativas para o setor cultural da cidade.
Moraes critica a conduta de alguns artistas cachoeiranos que desejam que algum órgão os adote e lhes conduza ao desenvolvimento. Muitas pessoas, por exemplo, consideram que o Centro Cultural Dannemann, localizado em São Félix, serve de palco apenas para artistas plásticos de outras localidades e que este fato evidencia um descaso para com a produção cultural local. Segundo Moraes, os próprios artistas não estão atentos aos requisitos necessários para a exposição de trabalhos nos eventos produzidos pelo Dannemann.
AUSÊNCIA DE DIÁLOGO - João de Moraes, que também é sócio da Associação dos Artistas, comentou que não existe um diálogo efetivo entre a organização e a Secretaria de Cultura. Cogitou-se, por exemplo, a idéia de execução de uma feira de artesanato durante o São João de 2008. A feira seria realizada na Praça 25 de Junho, um dos circuitos mais movimentados da festa de Cachoeira. Segundo Moraes, a Petrobras estaria patrocinando um evento diferenciado para aquele local. Só tocaria forró pé-de-serra, o que selecionaria um público mais alternativo e de poder aquisitivo maior, que provavelmente estaria comprando os produtos expostos pelos artesãos.
A idéia da feira não se concretizou. Segundo o secretário de Cultura, uma semana antes dos festejos juninos, a Associação dos Artistas alegou que os artesãos não tinham condições para expor os seus trabalhos. Eles precisavam de bancas para colocar as peças. A secretaria de Cultura, segundo Moraes, se ofereceu para conseguir algumas dessas bancas, mas a Associação dos Artistas não aceitou que o projeto fosse realizado daquela maneira.
Moraes via na realização da feira a possibilidade de dar uma visibilidade maior aos artistas cachoeiranos e, dessa forma, reunir fundos para a realização de uma feira mais estruturada em agosto, na festa da Boa Morte.
Outro indicativo da falta de articulação da área artística pôde ser verificado no dia 26 de junho, quando foi realizado, em Cachoeira, o Encontro Setorial da Funceb (Fundação Cultural do Estado da Bahia). O evento contou com a presença do secretário de Cultura do Estado da Bahia, Márcio Meirelles, e da diretora da Funceb, Gisele Nussbaumer. Na oportunidade, os artistas cachoeiranos deveriam estar presentes, já que no evento foram apresentados os editais de projetos para o desenvolvimento artístico-cultural da região. No entanto, estiveram no local apenas o representante da secretaria de Cultura do município e quatro artistas locais, entre eles Nei Pontão, idealizador dos projetos Giga Mundo e Muleki é Tu.
A Associação dos Artistas e Animadores Culturais da Cachoeira funciona na parte superior do prédio da Secretaria de Cultura e Turismo. O diretor, Fábio Pereira, foi procurado pela reportagem, mas não foi encontrado.
CULTURA
Os trilhos da poesia
Da crítica social ao saudosismo, a poesia percorre todos os cantos de Cachoeira
Hamurabi Dias, Rosivaldo Mercês e Deyvson Oliveira
Cachoeira é uma cidade cheia encantos e contrastes, um lugar onde a cultura popular é pulsante. O que muitos cachoeiranos não sabem é que a Cidade Heróica é também rica em poetas. Uma herança que vem do seu representante mais ilustre, Castro Alves, que nasceu em Cabaceiras do Paraguaçu, mas estudou em Cachoeira. A falta de conhecimento da população sobre essa riqueza literária decorre da ausência de veículos que publiquem os versos. Segundo o poeta Francisco Mello, de 91 anos, a cidade já possuiu cerca de 60 jornais literários. Hoje, não existe nenhum.
É difícil enumerar a quantidade de poetas em Cachoeira. Dos nossos entrevistados, ninguém vive exclusivamente da poesia. São aposentados, artistas plásticos e escultores, que passam o tempo a escrever sobre as belezas da sua terra. Ronivaldo Jesus de Souza, mais conhecido como “Rony Bom”, de 37 anos, começou a escrever no final dos anos 80. Ele não é do tipo saudosista, prefere versar sobre problemas sociais. Também é artista plástico. Rony publicou uma antologia poética com seus escritos e de mais dois co-autores. Todas as suas poesias estão guardadas. Algumas, ainda escritas a próprio punho, outras já digitadas, mas todas reveladoras de uma veia crítica.
RECONHECIMENTO - Roque Sacramento Sena, de 62 anos, professor aposentado do Estado, cursou faculdade de Estudos Sociais e possui pós-graduação em Administração Pública. A arte sempre foi presença forte em sua família. Passou 51 anos da sua vida em Feira de Santana, onde estudou em um convento e, aos 11 anos, escreveu os seus primeiros versos. Nunca escondeu sua paixão pela Cidade Heróica e, mesmo passando tantos anos fora, ela sempre foi a sua principal fonte de criação. “As inspirações para fazer as minhas poesias vêm do cotidiano, da mulher, da paisagem, do Rio Paraguaçu da minha Cachoeira”, afirma Roque.
Sobre o reconhecimento do seu trabalho pela população, Roque Sena é categórico ao dizer: “Santo de casa não faz milagre.” Para ele, os poetas de fora são mais valorizados que os da cidade. Ele diz ter enviou um projeto à Secretaria Municipal de Cultura, para a publicação de suas poesias mas, por questões burocráticas, não obteve aprovação. Ele ainda espera imprimir 50 exemplares de um livro para distribuir entre familiares, amigos e em bibliotecas da cidade. Roque não tem nenhum trabalho editado em livro, mas tem os originais de Cachoeira meu amor, livro com poesias que tratam somente sobre a cidade. Entre os autores de sua preferência estão Carlos Drummond de Andrade, Augusto do Anjos e Fernando Pessoa. Conterrâneos ele também cita, como Olga Pereira, Heraldo Cachoeira, Nelson Aragão e Sabino de Campos.
VERSOS RIMADOS - Francisco José de Mello impressiona pelo seu vigor literário. “Sou um devorador de livros”, assume. Ao nos receber em sua casa, estava lendo A menina que roubava livros, de Markus Zusak. Curiosamente, apesar de cachoeirano, sua inspiração para começar a escrever poesias, aos 37 anos, foi o belo pôr-do-sol da cidade de Madre de Deus, onde trabalhava no almoxarifado da Petrobras, em 1957. Atualmente, não escreve mais poesias. Porém, as escritas retratam de forma apaixonada a sua terra natal, suas ruas, seu povo, suas festas e seu tempo de menino, todas com um toque especial: ele é amante das rimas.
Hoje, concentra seus esforços escrevendo crônicas e ensaios. Já escreveu para o jornal A Ordem e também O Guarani. Seu motivo para migrar da poesia para a crônica (ele é autor de 50) é que, segundo Mello, a segunda opção é mais aceita pelo público. Ele tem duas obras publicadas: A História da Cachoeira e Coquetel Literário. O último reúne seus ensaios, crônicas e poesias. Ele diz que, além da publicação de um livro ser cara, a vendagem é pouca. Reclama também da insuficiência do acervo público. Em sua opinião, isso impede que os jovens se interessem pela leitura.
Francisco é admirador de Drummond, Castro Alves, Casemiro de Abreu, Gonçalves Dias e mais outras levas de poetas. Morou por 10 anos em São Paulo, mas confessa que seu lugar sempre foi a cidade de Cachoeira. “Meus dois grandes amores foram minha esposa, com quem tive um casamento de 54 anos, e Cachoeira”, completa. Ele revela que tem um romance escrito, que decidiu não publicar, chamado Uma guinada de noventa graus, onde mostra sua crítica social. O motivo pela não publicação é que a história se passa na cidade do Rio de Janeiro.
Todos os seus textos estão datilografados e guardados. Em sua velha Olivetti, ele ainda escreve sobre personagens da cidade e de tempos remotos, mas seu brilhantismo na poesia o destaca no cenário poético de Cachoeira. “Eu agradeço a Deus todos os dias por ter conservado meus neorônios ativos”, fala Francisco, que deixa um conselho para os mais jovens: “Leiam, procurem ler bastante. É lendo que se faz cultura.”
H Menor
O problema
da minha magreza
não é produto
da inanição.
É que existem
coisas, de fato,
que não dá
para engolir.
Rony Bom
“Uma morena no alto do morro, Socorro
Cabrocha morena corpo de violão
Cabelos bem compridos era mesmo um morenão”
Da crítica social ao saudosismo, a poesia percorre todos os cantos de Cachoeira
Hamurabi Dias, Rosivaldo Mercês e Deyvson Oliveira
Cachoeira é uma cidade cheia encantos e contrastes, um lugar onde a cultura popular é pulsante. O que muitos cachoeiranos não sabem é que a Cidade Heróica é também rica em poetas. Uma herança que vem do seu representante mais ilustre, Castro Alves, que nasceu em Cabaceiras do Paraguaçu, mas estudou em Cachoeira. A falta de conhecimento da população sobre essa riqueza literária decorre da ausência de veículos que publiquem os versos. Segundo o poeta Francisco Mello, de 91 anos, a cidade já possuiu cerca de 60 jornais literários. Hoje, não existe nenhum.
É difícil enumerar a quantidade de poetas em Cachoeira. Dos nossos entrevistados, ninguém vive exclusivamente da poesia. São aposentados, artistas plásticos e escultores, que passam o tempo a escrever sobre as belezas da sua terra. Ronivaldo Jesus de Souza, mais conhecido como “Rony Bom”, de 37 anos, começou a escrever no final dos anos 80. Ele não é do tipo saudosista, prefere versar sobre problemas sociais. Também é artista plástico. Rony publicou uma antologia poética com seus escritos e de mais dois co-autores. Todas as suas poesias estão guardadas. Algumas, ainda escritas a próprio punho, outras já digitadas, mas todas reveladoras de uma veia crítica.
RECONHECIMENTO - Roque Sacramento Sena, de 62 anos, professor aposentado do Estado, cursou faculdade de Estudos Sociais e possui pós-graduação em Administração Pública. A arte sempre foi presença forte em sua família. Passou 51 anos da sua vida em Feira de Santana, onde estudou em um convento e, aos 11 anos, escreveu os seus primeiros versos. Nunca escondeu sua paixão pela Cidade Heróica e, mesmo passando tantos anos fora, ela sempre foi a sua principal fonte de criação. “As inspirações para fazer as minhas poesias vêm do cotidiano, da mulher, da paisagem, do Rio Paraguaçu da minha Cachoeira”, afirma Roque.
Sobre o reconhecimento do seu trabalho pela população, Roque Sena é categórico ao dizer: “Santo de casa não faz milagre.” Para ele, os poetas de fora são mais valorizados que os da cidade. Ele diz ter enviou um projeto à Secretaria Municipal de Cultura, para a publicação de suas poesias mas, por questões burocráticas, não obteve aprovação. Ele ainda espera imprimir 50 exemplares de um livro para distribuir entre familiares, amigos e em bibliotecas da cidade. Roque não tem nenhum trabalho editado em livro, mas tem os originais de Cachoeira meu amor, livro com poesias que tratam somente sobre a cidade. Entre os autores de sua preferência estão Carlos Drummond de Andrade, Augusto do Anjos e Fernando Pessoa. Conterrâneos ele também cita, como Olga Pereira, Heraldo Cachoeira, Nelson Aragão e Sabino de Campos.
VERSOS RIMADOS - Francisco José de Mello impressiona pelo seu vigor literário. “Sou um devorador de livros”, assume. Ao nos receber em sua casa, estava lendo A menina que roubava livros, de Markus Zusak. Curiosamente, apesar de cachoeirano, sua inspiração para começar a escrever poesias, aos 37 anos, foi o belo pôr-do-sol da cidade de Madre de Deus, onde trabalhava no almoxarifado da Petrobras, em 1957. Atualmente, não escreve mais poesias. Porém, as escritas retratam de forma apaixonada a sua terra natal, suas ruas, seu povo, suas festas e seu tempo de menino, todas com um toque especial: ele é amante das rimas.
Hoje, concentra seus esforços escrevendo crônicas e ensaios. Já escreveu para o jornal A Ordem e também O Guarani. Seu motivo para migrar da poesia para a crônica (ele é autor de 50) é que, segundo Mello, a segunda opção é mais aceita pelo público. Ele tem duas obras publicadas: A História da Cachoeira e Coquetel Literário. O último reúne seus ensaios, crônicas e poesias. Ele diz que, além da publicação de um livro ser cara, a vendagem é pouca. Reclama também da insuficiência do acervo público. Em sua opinião, isso impede que os jovens se interessem pela leitura.
Francisco é admirador de Drummond, Castro Alves, Casemiro de Abreu, Gonçalves Dias e mais outras levas de poetas. Morou por 10 anos em São Paulo, mas confessa que seu lugar sempre foi a cidade de Cachoeira. “Meus dois grandes amores foram minha esposa, com quem tive um casamento de 54 anos, e Cachoeira”, completa. Ele revela que tem um romance escrito, que decidiu não publicar, chamado Uma guinada de noventa graus, onde mostra sua crítica social. O motivo pela não publicação é que a história se passa na cidade do Rio de Janeiro.
Todos os seus textos estão datilografados e guardados. Em sua velha Olivetti, ele ainda escreve sobre personagens da cidade e de tempos remotos, mas seu brilhantismo na poesia o destaca no cenário poético de Cachoeira. “Eu agradeço a Deus todos os dias por ter conservado meus neorônios ativos”, fala Francisco, que deixa um conselho para os mais jovens: “Leiam, procurem ler bastante. É lendo que se faz cultura.”
H Menor
O problema
da minha magreza
não é produto
da inanição.
É que existem
coisas, de fato,
que não dá
para engolir.
Rony Bom
“Uma morena no alto do morro, Socorro
Cabrocha morena corpo de violão
Cabelos bem compridos era mesmo um morenão”
Entrevista
Entre acordos, expectativas e defesas
Professor Borges diz porque abdicou de sua candidatura e defende Tato
Avana Cavalcante, Mariana Cardoso, Sayonara Moreno e Vivian Aguiar
O professor Pedro Borges dos Anjos, nesta entrevista, fala sobre a sua decisão de abrir mão da candidatura a prefeito de Cachoeira e sobre a atual polêmica envolvendo o prefeito da cidade, Fernando Antônio da Silva Pereira, o Tato. Borges tem 64 anos, é formado em Língua Inglesa pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Fez mestrado na School for International Training, nos EUA. Além disso, é bacharel em Teologia pela Faculdade Filadélfia Internacional e doutor em divindade pela mesma instituição.
REVERSO: Como é a sua relação com o prefeito Tato?
PEDRO BORGES: Já há algum tempo, o prefeito Tato tem uma boa relação comigo. Ele diz que tem respeito pela minha candidatura, mas gostaria que eu ficasse com ele por querer que eu participe do seu futuro governo. Tato vinha sempre me fazendo essa proposta e, realmente, ele está estourando nas pesquisas, com 78,3%, seguido por Raimundo Leite, com 8,3%, e eu mais abaixo ainda. Pensando nisso, vi que não ficaria bem sustentar uma candidatura minha sem expressão de competitividade. Ele mandou o Secretário de Educação vir aqui e eu fui até lá ao gabinete dele conversar, já que nós tínhamos algumas propostas de geração e ocupação de emprego e renda e a vinda da empresa Bonatec pra cá. Se ele aceitasse incluir isso no futuro governo dele, nós fecharíamos. Tato aceitou a proposta. Temos mais umas duas idéias em nível de educação, fechamos com ele e nosso partido – o PMN (Partido da Mobilização Nacional) - passou a integrar a coligação. O prefeito inclusive pediu que eu fosse candidato a vereador por eu ter possibilidade de eleição, por achar que a Câmara precisa de mim, mas eu ainda estou considerando essa possibilidade.
R.: A Bonatec é uma empresa de que?
P.B.: É uma empresa que produz peças de veículos lá de São Paulo. E 30% da produção desta empresa é aqui na Bahia. E o diretor já estava com um protocolo para instalá-la em Camaçari. Como ele é amigo de minha família, eu pedi que fosse aqui em Cachoeira
R.: Então, o PMN ele fez uma coligação com o partido do prefeito?
P.: Exatamente. São 19 partidos que entraram em coligação com o partido dele.
R.: No dia 25 de junho, vimos uma parte da população cachoeirana pedindo a candidatura do prefeito Tato. O senhor saberia nos explicar o que está acontecendo em torno do prefeito?
P.B.: O prefeito Tato foi eleito pelo PFL e é amigo do ex-governador Paulo Souto, que o ajudou muito, desde seu tempo como vereador. Praticamente, o prefeito Tato teve uma prefeitura paralela nesse período, porque o governador atendeu tudo o que ele pediu. Mas logo que ele foi eleito, e o governador Jacques Wagner também, ele teve a proposta de passar para o PMDB do ministro Geddel Lima, com promessas de que a mudança seria melhor pra ele. Ele acatou e passou para a base aliada do governador Wagner e vinha sustentando isso. Recentemente, o prefeito pediu apoio aos Democratas (novo PFL) e Paulo Souto concordou. Eles vieram aqui e nesse encontro foi oficializado o apoio dos Democratas ao Tato. Só que, quando foi fazer seu discurso, houve um momento em que ele disse que não tinha nenhum compromisso em apoiar os candidatos do PMDB, nem a vereador nem a deputado federal, e que sua obrigação era com o partido que o elegeu. Seus adversários pegaram essa gravação e levaram ao presidente do PMDB, Lúcio Lima, irmão de Geddel Lima. Ele ordenou a presidenta do PMDB de Cachoeira, sogra de Raimundo Leite, que entregasse os dígitos do partido ao seu adversário.
R.: Mas o senhor continua apoiando o prefeito Tato?
P.: Continuo apoiando-o, e, além disso, o seguinte: ele também foi expulso do PMDB. A executiva se reuniu em seguida e o expulsou. Ele agora se encontra sem partido. Mas Tato é uma pessoa de muitos recursos: recursos de oratória, recursos financeiros, por isso contratou bons advogados que estão buscando na Justiça que a convenção seja válida e a Justiça reconheça sua candidatura. O resultado está próximo de sair e, se tudo acontecer como se espera, ele sairá como candidato. Se ele não conseguir, o prefeito Tato tem nomes dentro desta coligação para apontar, e que terá grandes chances de ser bem sucedido nas eleições. Eu espero que recaia no meu.
R.: Iríamos perguntar justamente se o seu nome seria um dos possíveis de ser apontado...
P.B: Eu estou na coligação e espero realmente que o meu nome seja apreciado, porque evidentemente todos tem méritos mas, para a disputa, tem que se procurar um candidato cuja intelectualidade e o nível cultural esteja de acordo com o desenvolvimento de Cachoeira. Eu reconheço que tenho esses méritos. Eu quis ser candidato porque eu tenho certeza que posso ajudar Cachoeira no seu desenvolvimento.
R.: O que o senhor achou da manifestação de parte da população da cidade com relação ao prefeito?
P.B.: Eu achei muito válido que a população se manifeste, tendo em vista o prefeito que ele é, podemos observar as diversas obras que ele tem realizado na cidade. E é uma pessoa de mente aberta, se você chegar com uma sugestão para fazer, com certeza ele irá considerá-la para eventualmente incluí-la no seu plano. De modo que eu achei muito positiva a manifestação da população.
R.: Em contrapartida, existem rumores e acusações envolvendo o monopólio da família Pereira nas empresas da cidade. O que o senhor pode nos dizer sobre isso?
P.B.: Ele não pode impedir que sua família cresça com seus próprios recursos aqui. É uma família de fazendeiros muito rica e nada impede que seus empreendimentos continuem prosperando em Cachoeira.
R.: A oposição denuncia que as compras municipais são feitas nos estabelecimentos da família Pereira. O senhor poderia afirmar se isso realmente acontece?
P.B: Eu não tenho muito conhecimento a respeito disso, contudo, por mais que o prefeito não queira fazer essas compras, ele vai se sentir até obrigado a fazê-las. Os Pereira são donos de casas de material de construção, de supermercados, de postos de gasolina e muitos destes estabelecimentos não têm empresas concorrentes, ou seja, não dá pra comprar em outro lugar. Mas eu não tenho maiores detalhes para dar sobre o assunto.
R.: Outra denúncia que é feita é de que existem laranjas por trás da família, recentemente isso foi dito até relacionado à loja de conveniências Vieira...
P.B.: Eu venho acompanhando isso há algum tempo, sobre a administração dessas acusações. Mas uma coisa que me chama atenção é que os vereadores que falam sobre isso têm buscado na Justiça que o prefeito realmente seja punido, mas não existem provas. Então, se a Justiça sabe de tudo isso e não dá o passo para fazer a punição, ou a Justiça é irresponsável ou os vereadores estão fazendo falsas acusações.
Professor Borges diz porque abdicou de sua candidatura e defende Tato
Avana Cavalcante, Mariana Cardoso, Sayonara Moreno e Vivian Aguiar
O professor Pedro Borges dos Anjos, nesta entrevista, fala sobre a sua decisão de abrir mão da candidatura a prefeito de Cachoeira e sobre a atual polêmica envolvendo o prefeito da cidade, Fernando Antônio da Silva Pereira, o Tato. Borges tem 64 anos, é formado em Língua Inglesa pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Fez mestrado na School for International Training, nos EUA. Além disso, é bacharel em Teologia pela Faculdade Filadélfia Internacional e doutor em divindade pela mesma instituição.
REVERSO: Como é a sua relação com o prefeito Tato?
PEDRO BORGES: Já há algum tempo, o prefeito Tato tem uma boa relação comigo. Ele diz que tem respeito pela minha candidatura, mas gostaria que eu ficasse com ele por querer que eu participe do seu futuro governo. Tato vinha sempre me fazendo essa proposta e, realmente, ele está estourando nas pesquisas, com 78,3%, seguido por Raimundo Leite, com 8,3%, e eu mais abaixo ainda. Pensando nisso, vi que não ficaria bem sustentar uma candidatura minha sem expressão de competitividade. Ele mandou o Secretário de Educação vir aqui e eu fui até lá ao gabinete dele conversar, já que nós tínhamos algumas propostas de geração e ocupação de emprego e renda e a vinda da empresa Bonatec pra cá. Se ele aceitasse incluir isso no futuro governo dele, nós fecharíamos. Tato aceitou a proposta. Temos mais umas duas idéias em nível de educação, fechamos com ele e nosso partido – o PMN (Partido da Mobilização Nacional) - passou a integrar a coligação. O prefeito inclusive pediu que eu fosse candidato a vereador por eu ter possibilidade de eleição, por achar que a Câmara precisa de mim, mas eu ainda estou considerando essa possibilidade.
R.: A Bonatec é uma empresa de que?
P.B.: É uma empresa que produz peças de veículos lá de São Paulo. E 30% da produção desta empresa é aqui na Bahia. E o diretor já estava com um protocolo para instalá-la em Camaçari. Como ele é amigo de minha família, eu pedi que fosse aqui em Cachoeira
R.: Então, o PMN ele fez uma coligação com o partido do prefeito?
P.: Exatamente. São 19 partidos que entraram em coligação com o partido dele.
R.: No dia 25 de junho, vimos uma parte da população cachoeirana pedindo a candidatura do prefeito Tato. O senhor saberia nos explicar o que está acontecendo em torno do prefeito?
P.B.: O prefeito Tato foi eleito pelo PFL e é amigo do ex-governador Paulo Souto, que o ajudou muito, desde seu tempo como vereador. Praticamente, o prefeito Tato teve uma prefeitura paralela nesse período, porque o governador atendeu tudo o que ele pediu. Mas logo que ele foi eleito, e o governador Jacques Wagner também, ele teve a proposta de passar para o PMDB do ministro Geddel Lima, com promessas de que a mudança seria melhor pra ele. Ele acatou e passou para a base aliada do governador Wagner e vinha sustentando isso. Recentemente, o prefeito pediu apoio aos Democratas (novo PFL) e Paulo Souto concordou. Eles vieram aqui e nesse encontro foi oficializado o apoio dos Democratas ao Tato. Só que, quando foi fazer seu discurso, houve um momento em que ele disse que não tinha nenhum compromisso em apoiar os candidatos do PMDB, nem a vereador nem a deputado federal, e que sua obrigação era com o partido que o elegeu. Seus adversários pegaram essa gravação e levaram ao presidente do PMDB, Lúcio Lima, irmão de Geddel Lima. Ele ordenou a presidenta do PMDB de Cachoeira, sogra de Raimundo Leite, que entregasse os dígitos do partido ao seu adversário.
R.: Mas o senhor continua apoiando o prefeito Tato?
P.: Continuo apoiando-o, e, além disso, o seguinte: ele também foi expulso do PMDB. A executiva se reuniu em seguida e o expulsou. Ele agora se encontra sem partido. Mas Tato é uma pessoa de muitos recursos: recursos de oratória, recursos financeiros, por isso contratou bons advogados que estão buscando na Justiça que a convenção seja válida e a Justiça reconheça sua candidatura. O resultado está próximo de sair e, se tudo acontecer como se espera, ele sairá como candidato. Se ele não conseguir, o prefeito Tato tem nomes dentro desta coligação para apontar, e que terá grandes chances de ser bem sucedido nas eleições. Eu espero que recaia no meu.
R.: Iríamos perguntar justamente se o seu nome seria um dos possíveis de ser apontado...
P.B: Eu estou na coligação e espero realmente que o meu nome seja apreciado, porque evidentemente todos tem méritos mas, para a disputa, tem que se procurar um candidato cuja intelectualidade e o nível cultural esteja de acordo com o desenvolvimento de Cachoeira. Eu reconheço que tenho esses méritos. Eu quis ser candidato porque eu tenho certeza que posso ajudar Cachoeira no seu desenvolvimento.
R.: O que o senhor achou da manifestação de parte da população da cidade com relação ao prefeito?
P.B.: Eu achei muito válido que a população se manifeste, tendo em vista o prefeito que ele é, podemos observar as diversas obras que ele tem realizado na cidade. E é uma pessoa de mente aberta, se você chegar com uma sugestão para fazer, com certeza ele irá considerá-la para eventualmente incluí-la no seu plano. De modo que eu achei muito positiva a manifestação da população.
R.: Em contrapartida, existem rumores e acusações envolvendo o monopólio da família Pereira nas empresas da cidade. O que o senhor pode nos dizer sobre isso?
P.B.: Ele não pode impedir que sua família cresça com seus próprios recursos aqui. É uma família de fazendeiros muito rica e nada impede que seus empreendimentos continuem prosperando em Cachoeira.
R.: A oposição denuncia que as compras municipais são feitas nos estabelecimentos da família Pereira. O senhor poderia afirmar se isso realmente acontece?
P.B: Eu não tenho muito conhecimento a respeito disso, contudo, por mais que o prefeito não queira fazer essas compras, ele vai se sentir até obrigado a fazê-las. Os Pereira são donos de casas de material de construção, de supermercados, de postos de gasolina e muitos destes estabelecimentos não têm empresas concorrentes, ou seja, não dá pra comprar em outro lugar. Mas eu não tenho maiores detalhes para dar sobre o assunto.
R.: Outra denúncia que é feita é de que existem laranjas por trás da família, recentemente isso foi dito até relacionado à loja de conveniências Vieira...
P.B.: Eu venho acompanhando isso há algum tempo, sobre a administração dessas acusações. Mas uma coisa que me chama atenção é que os vereadores que falam sobre isso têm buscado na Justiça que o prefeito realmente seja punido, mas não existem provas. Então, se a Justiça sabe de tudo isso e não dá o passo para fazer a punição, ou a Justiça é irresponsável ou os vereadores estão fazendo falsas acusações.
Saúde
APAE oferece tratamento a portadores de deficiência
Deficientes encontram dificuldades na busca de profissionais especializados em Cachoeira
Camila Moreira, Daiane Dória e Danielle Souza
A cidade de Cachoeira não oferece condições para que os portadores de deficiências sejam inseridos no mercado de trabalho. Segundo Zulene Damiana, diretora da “Escola da Apae” (Associação de Pais e Amigos de Excepcionais), as escolas regulares, geralmente procuradas pelos pais, não são a melhor opção já que não possuem profissionais especializados para proporcionar o tratamento adequado a um deficiente.
Atualmente, na cidade, o mais completo tratamento disponível é o da Apae, uma organização não-governamental que visa defender os direitos, oferecer educação gratuita e de qualidade, além de acompanhamento médico aos portadores de deficiências. A associação possui convênios com o poder público municipal, estadual e federal. A Escola Monsenhor Amílcar Marques, mais conhecida como “Escola da Apae”, oferece aos portadores de deficiências uma educação especializada. Hoje, 53 alunos estão matriculados. Além do ensino gratuito, são oferecidas oficinas de artes, artesanato, capoeira, educação física e realizados atendimentos psicológicos e fisioterápicos.
Diretora da escola há 11 anos, Zulene diz que, para se cadastrar na Apae, são necessários relatórios médicos que comprovem a deficiência. Os exames podem ser feitos na própria associação. Os cadastrados, depois de efetuarem a matrícula, passam a freqüentar a escola. Não há limite de idade. Hoje, por exemplo, o aluno mais velho da escola tem 54 anos.
Através dos vínculos da Apae com a prefeitura de Cachoeira, alguns professores que lecionam na escola são cedidos pela Secretaria Municipal de Educação. A capacitação desses professores geralmente é feita pela própria Apae, que disponibiliza cursos profissionalizantes e possibilita um melhor contato com os portadores de deficiências.
Apesar de dirigir uma escola direcionada apenas para portadores de deficiência, Zulene acredita na importância da inclusão. Porém, reconhece que, devido ao preconceito e a falta de capacitação dos profissionais, está cada vez mais difícil conseguir efetivar essa inclusão. Apesar das oficinas oferecidas pela Escola, no momento, não há nenhum aluno qualificado para ingressar no mercado.
DEFICIENTE AUDITIVA - Cariane Moreira tem 25 anos e é uma das alunas da “Escola da Apae”. A deficiência auditiva foi descoberta quando ela tinha apenas um ano e oito meses. Sua mãe, Teca Nery, de 64 anos, conta que já passou por grandes dificuldades com a filha, pois o tratamento para portadores de deficiências é precário em Cachoeira. Cariane já estudou em escolas regulares mas, assim que a “Escola da Apae” foi fundada, ela passou a freqüentá-la, ainda que não regularmente.
Teca Nery relata que sua filha leva uma vida normal, é casada e só não está no mercado de trabalho porque as empresas não apresentam as condições básicas necessárias para contratar um portador de deficiência. “Minha filha só vai trabalhar aqui em Cachoeira quando alguém, além de mim, puder assegurar a sua integridade física”, diz Teca Nery.
Criar Cariane Moreira sempre foi um desafio para Dona Teca. “Para mim, o mais difícil era saber que ela, ainda muito nova, não poderia brincar com as outras crianças. Eu tinha que estar sempre de olho”, lembra. Questionada sobre possíveis discriminações que a filha possa ter sofrido, ela diz que isso nunca aconteceu. “As pessoas só ficam atônitas quando a vêem conversando com algumas amigas (também deficientes auditivas) na linguagem dos sinais. Parecem não compreender como é possível o entendimento. Eu sempre digo: elas sabem bem do que estão falando”, acrescenta Dona Teca, entre risos.
Deficientes encontram dificuldades na busca de profissionais especializados em Cachoeira
Camila Moreira, Daiane Dória e Danielle Souza
A cidade de Cachoeira não oferece condições para que os portadores de deficiências sejam inseridos no mercado de trabalho. Segundo Zulene Damiana, diretora da “Escola da Apae” (Associação de Pais e Amigos de Excepcionais), as escolas regulares, geralmente procuradas pelos pais, não são a melhor opção já que não possuem profissionais especializados para proporcionar o tratamento adequado a um deficiente.
Atualmente, na cidade, o mais completo tratamento disponível é o da Apae, uma organização não-governamental que visa defender os direitos, oferecer educação gratuita e de qualidade, além de acompanhamento médico aos portadores de deficiências. A associação possui convênios com o poder público municipal, estadual e federal. A Escola Monsenhor Amílcar Marques, mais conhecida como “Escola da Apae”, oferece aos portadores de deficiências uma educação especializada. Hoje, 53 alunos estão matriculados. Além do ensino gratuito, são oferecidas oficinas de artes, artesanato, capoeira, educação física e realizados atendimentos psicológicos e fisioterápicos.
Diretora da escola há 11 anos, Zulene diz que, para se cadastrar na Apae, são necessários relatórios médicos que comprovem a deficiência. Os exames podem ser feitos na própria associação. Os cadastrados, depois de efetuarem a matrícula, passam a freqüentar a escola. Não há limite de idade. Hoje, por exemplo, o aluno mais velho da escola tem 54 anos.
Através dos vínculos da Apae com a prefeitura de Cachoeira, alguns professores que lecionam na escola são cedidos pela Secretaria Municipal de Educação. A capacitação desses professores geralmente é feita pela própria Apae, que disponibiliza cursos profissionalizantes e possibilita um melhor contato com os portadores de deficiências.
Apesar de dirigir uma escola direcionada apenas para portadores de deficiência, Zulene acredita na importância da inclusão. Porém, reconhece que, devido ao preconceito e a falta de capacitação dos profissionais, está cada vez mais difícil conseguir efetivar essa inclusão. Apesar das oficinas oferecidas pela Escola, no momento, não há nenhum aluno qualificado para ingressar no mercado.
DEFICIENTE AUDITIVA - Cariane Moreira tem 25 anos e é uma das alunas da “Escola da Apae”. A deficiência auditiva foi descoberta quando ela tinha apenas um ano e oito meses. Sua mãe, Teca Nery, de 64 anos, conta que já passou por grandes dificuldades com a filha, pois o tratamento para portadores de deficiências é precário em Cachoeira. Cariane já estudou em escolas regulares mas, assim que a “Escola da Apae” foi fundada, ela passou a freqüentá-la, ainda que não regularmente.
Teca Nery relata que sua filha leva uma vida normal, é casada e só não está no mercado de trabalho porque as empresas não apresentam as condições básicas necessárias para contratar um portador de deficiência. “Minha filha só vai trabalhar aqui em Cachoeira quando alguém, além de mim, puder assegurar a sua integridade física”, diz Teca Nery.
Criar Cariane Moreira sempre foi um desafio para Dona Teca. “Para mim, o mais difícil era saber que ela, ainda muito nova, não poderia brincar com as outras crianças. Eu tinha que estar sempre de olho”, lembra. Questionada sobre possíveis discriminações que a filha possa ter sofrido, ela diz que isso nunca aconteceu. “As pessoas só ficam atônitas quando a vêem conversando com algumas amigas (também deficientes auditivas) na linguagem dos sinais. Parecem não compreender como é possível o entendimento. Eu sempre digo: elas sabem bem do que estão falando”, acrescenta Dona Teca, entre risos.
Saúde
“Beber, cair e levantar”
Adolescentes de Cachoeira aderem aos hits do momento e consomem bebidas alcoólicas
Daiane Arllin Caribé, Daniela Oliveira e Lorena Souza
Os jovens parecem estar cada vez mais embalados pelos hits mais tocados atualmente nas rádios, como “vamo simbora, pro bar, beber, cair e levantar”, ou “ alô... tô num bar, chego já...”. Muitos adolescentes fazem dessas músicas uma filosofia de vida, um exemplo a ser seguido.
O uso de drogas lícitas e ilícitas é cada vez mais precoce. A média de idade do primeiro contato com o álcool e com o tabaco é de aproximadamente 12,5 anos, segundo pesquisa realizada pela Secretaria Nacional Antidrogas e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Em muitos bares, os jovens não encontram nenhuma resistência para a compra de bebidas. Quanto mais cedo o uso dessas substâncias, maiores são as chances de que o adolescente apresente algum tipo de dependência na fase adulta. Segundo especialistas, o consumo causa problemas na aprendizagem e até mentais. A maior parte dos alcoólatras começou a sua dependência ainda na adolescência.
L.H.C., de 13 anos, nunca encontrou dificuldades para comprar álcool, principalmente em bares do bairro onde mora. Ele acrescenta que, geralmente, bebe quando está com os pais ou familiares. Um outro jovem, de 16 anos, afirma que começou a beber em companhia dos pais e não encontra dificuldade ao comprar qualquer tipo de bebida alcoólica. A.P.M., da mesma idade, também nunca teve problemas para conseguir comprar cerveja. “Meus pais sabem que nunca vou fazer nada de errado por causa disso”, diz.
Donos de bares da cidade dizem que seguem as leis e até colam os cartazes emitidos pelo Conselho Tutelar. Cristovaldo Sacramento da Silva, funcionário do Bar Night and Day, diz não vender aos menores de idade, nem mesmo quando eles alegam que a bebida será para consumo dos pais. Já Francine Torres, proprietária do bar Bazar Vale do Paraguaçu, admite não pedir documento de identidade e nem questionar a idade do adolescente. Mas ressalta: “Não vendo para crianças”.
LEGISLAÇÃO - Segundo o conselheiro Luis Nascimento Amorim, as fiscalizações realizadas na cidade de Cachoeira acontecem anualmente e são intensificadas em épocas de festa, com advertências verbais e portarias expedidas pelo juiz, inclusive com a colagem de cartazes de alerta em todos os bares da cidade. O Conselho Tutelar é responsável apenas pela parte burocrática, fazendo um trabalho de fiscalização e advertência. Se houver reincidência, é enviada uma queixa ao Ministério Público, o que pode ocasionar uma notificação aos pais dos adolescentes e o fechamento do bar.
O alcoolismo pode causar perdas restritas de memória, demência, alucinações, delírios e mudanças de humor. Por isso, o uso abusivo de bebidas e o consumo do tabaco, entre os jovens, são os fatores que mais preocupam a saúde pública. Além, é claro, do uso também afetar o índice de acidentes de carro, atropelamentos e brigas.
O artigo 243 do Estatuto da Criança e do Adolescente diz que quem vender ou fornecer, de qualquer forma, produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica nas crianças ou adolescentes, pode ser condenado a uma pena de dois a quatro anos de detenção. Se o fato não constitui crime mais grave, uma multa pode ser emitida.
Adolescentes de Cachoeira aderem aos hits do momento e consomem bebidas alcoólicas
Daiane Arllin Caribé, Daniela Oliveira e Lorena Souza
Os jovens parecem estar cada vez mais embalados pelos hits mais tocados atualmente nas rádios, como “vamo simbora, pro bar, beber, cair e levantar”, ou “ alô... tô num bar, chego já...”. Muitos adolescentes fazem dessas músicas uma filosofia de vida, um exemplo a ser seguido.
O uso de drogas lícitas e ilícitas é cada vez mais precoce. A média de idade do primeiro contato com o álcool e com o tabaco é de aproximadamente 12,5 anos, segundo pesquisa realizada pela Secretaria Nacional Antidrogas e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Em muitos bares, os jovens não encontram nenhuma resistência para a compra de bebidas. Quanto mais cedo o uso dessas substâncias, maiores são as chances de que o adolescente apresente algum tipo de dependência na fase adulta. Segundo especialistas, o consumo causa problemas na aprendizagem e até mentais. A maior parte dos alcoólatras começou a sua dependência ainda na adolescência.
L.H.C., de 13 anos, nunca encontrou dificuldades para comprar álcool, principalmente em bares do bairro onde mora. Ele acrescenta que, geralmente, bebe quando está com os pais ou familiares. Um outro jovem, de 16 anos, afirma que começou a beber em companhia dos pais e não encontra dificuldade ao comprar qualquer tipo de bebida alcoólica. A.P.M., da mesma idade, também nunca teve problemas para conseguir comprar cerveja. “Meus pais sabem que nunca vou fazer nada de errado por causa disso”, diz.
Donos de bares da cidade dizem que seguem as leis e até colam os cartazes emitidos pelo Conselho Tutelar. Cristovaldo Sacramento da Silva, funcionário do Bar Night and Day, diz não vender aos menores de idade, nem mesmo quando eles alegam que a bebida será para consumo dos pais. Já Francine Torres, proprietária do bar Bazar Vale do Paraguaçu, admite não pedir documento de identidade e nem questionar a idade do adolescente. Mas ressalta: “Não vendo para crianças”.
LEGISLAÇÃO - Segundo o conselheiro Luis Nascimento Amorim, as fiscalizações realizadas na cidade de Cachoeira acontecem anualmente e são intensificadas em épocas de festa, com advertências verbais e portarias expedidas pelo juiz, inclusive com a colagem de cartazes de alerta em todos os bares da cidade. O Conselho Tutelar é responsável apenas pela parte burocrática, fazendo um trabalho de fiscalização e advertência. Se houver reincidência, é enviada uma queixa ao Ministério Público, o que pode ocasionar uma notificação aos pais dos adolescentes e o fechamento do bar.
O alcoolismo pode causar perdas restritas de memória, demência, alucinações, delírios e mudanças de humor. Por isso, o uso abusivo de bebidas e o consumo do tabaco, entre os jovens, são os fatores que mais preocupam a saúde pública. Além, é claro, do uso também afetar o índice de acidentes de carro, atropelamentos e brigas.
O artigo 243 do Estatuto da Criança e do Adolescente diz que quem vender ou fornecer, de qualquer forma, produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica nas crianças ou adolescentes, pode ser condenado a uma pena de dois a quatro anos de detenção. Se o fato não constitui crime mais grave, uma multa pode ser emitida.
Educação
Cefet: formação profissional em risco
Perto de completar dois anos, unidade de ensino convive ainda com velhos problemas
Anderson Silva, Carlindo Pinto e Toniel Costa
O Centro Federal de Educação Tecnológica da Bahia (Cefet-ba) de Santo Amaro, mesmo tendo resolvido alguns problemas, ainda deixa muito a desejar daquilo que os alunos esperam da instituição. Os estudantes reclamam do acervo da biblioteca, da ausência de determinados laboratórios e da falta de manutenção dos de informática. “Comparado ao que estava, está muito bom. Comparando ao que deveria estar, ainda está muito ruim”, diz o vice-presidente do Grêmio Estudantil, Aurélio José de Souza Junior.
O Cefet foi inaugurado no dia 25 de setembro de 2006, com a presença do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Foram prometidos equipamentos de última geração, piscina semi-olímpica, quadra de esportes e um auditório. A diretora Marlene Santos Socorro afirma que existe um projeto pronto, incluindo a quadra e o auditório. “O problema é a irregularidade do terreno. Seria possível construir, mas o custo é alto”. Hoje, p Cefet possui aproximadamente 700 alunos matriculados em duas modalidades: a Integrada ao ensino médio e a Subseqüente, nas quais são oferecidos os cursos de Eletromecânica e Tecnologia da Informação (T.I).
O acervo da biblioteca possui mais de 1.900 obras. Porém, alunos reclamam da ausência de livros que são indicados pelos professores na sala de aula. O processo de licitação é demorado, o que tem prejudicado os alunos. “Quando precisamos de livros, não achamos e fazemos pesquisas na internet. Alguns não têm acesso à rede fora do Cefet”, diz Eliomar Santana, aluno do 3º semestre de T.I. O professor e coordenador do curso de Eletromecânica, Lindolfo Marra, esclarece que faz a própria apostila com os assuntos prioritários.
LABORATÓRIOS - O centro de educação possui laboratórios de informática, elétrica e eletrônica digital e de mecânica, com dez tornos. Além disso, possui materiais de metrologia (conhecimento dos pesos e medidas e dos sistemas de unidades). Segundo Marlene, a unidade já possui todos os materiais de mecânica. “O único laboratório que vamos buscar trazer no segundo semestre é o de pneumática”.
O curso de T.I enfrenta problemas diferentes. O que incomoda os alunos é a falta de manutenção e a demora na instalação de programas que são necessários para os estudantes. “Isto é um problema de infra-estrutura e implantação. Em relação a essas dúvidas sobre os programas que são instalados, você precisa organizar os setores e também ter a colaboração e um planejamento prévio”, comenta Marlene. Devido a problemas de segurança, os alunos só podem utilizar o laboratório de informática com autorização do professor ou funcionário. A coordenação não libera. Um novo técnico de laboratório foi solicitado para que o espaço permaneça aberto por mais tempo. De acordo com Marlene, nenhum aluno está sendo barrado ou deixa de fazer qualquer trabalho. “Os computadores são para os alunos e não para ficarem trancados numa sala de aula”, diz ela.
O novo prédio que está sendo construído no Cefet abrigará oito salas de aula e quatro laboratórios. Nesse espaço, possivelmente, funcionarão os laboratórios de medidas elétricas, eletrotécnica e metrologia. No antigo prédio, algumas salas de aula continuarão em funcionamento. Inclusive, um laboratório de ciências para as disciplinas de Física, Biologia e Química. Além desse prédio, existe a possibilidade da criação de cursos de nível superior no Cefet. “O governo federal tem orientado que as unidades criem cursos de licenciatura, devido a grande carência na área de Matemática, Química, Biologia e Geografia’’, diz a diretora.
EVASÃO ESCOLAR - O número de alunos que tem desistido dos estudos tem sido muito grande, principalmente, na modalidade Subseqüente. Dentre os motivos, está o despreparo dos estudantes, que entram na unidade sem uma noção básica, por exemplo, de Matemática, exigida nos dois cursos oferecidos. Por causa disso, foi implantado o Projeto de Assistência ao Estudante (PAE), que possui monitores de Matemática que tentam minimizar o problema. “A culpa não é dos alunos. O aluno passava o ano inteiro na escola e no final do ano fazia um trabalho e era aprovado”, diz Marra. A crença de que sairão do Cefet profissionais despreparados para atuar no mercado de trabalho e o descompromisso com os estudos são outros motivos que contribuem para a evasão. “A gente faz de tudo para que o aluno não saia da escola. Pelo menos na escola ele está fazendo alguma coisa. E fora dela?”, questiona o coordenador de Eletromecânica.
“Está difícil mesmo. Você tomando um outro curso fica melhor pra arrumar emprego”, lamenta Leandro. Apesar da existência de todos os problemas, Marlene garante: “Eles não sairão daqui sem a formação necessária para o mercado de trabalho. Isso é um compromisso do Cefet”.
Perto de completar dois anos, unidade de ensino convive ainda com velhos problemas
Anderson Silva, Carlindo Pinto e Toniel Costa
O Centro Federal de Educação Tecnológica da Bahia (Cefet-ba) de Santo Amaro, mesmo tendo resolvido alguns problemas, ainda deixa muito a desejar daquilo que os alunos esperam da instituição. Os estudantes reclamam do acervo da biblioteca, da ausência de determinados laboratórios e da falta de manutenção dos de informática. “Comparado ao que estava, está muito bom. Comparando ao que deveria estar, ainda está muito ruim”, diz o vice-presidente do Grêmio Estudantil, Aurélio José de Souza Junior.
O Cefet foi inaugurado no dia 25 de setembro de 2006, com a presença do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Foram prometidos equipamentos de última geração, piscina semi-olímpica, quadra de esportes e um auditório. A diretora Marlene Santos Socorro afirma que existe um projeto pronto, incluindo a quadra e o auditório. “O problema é a irregularidade do terreno. Seria possível construir, mas o custo é alto”. Hoje, p Cefet possui aproximadamente 700 alunos matriculados em duas modalidades: a Integrada ao ensino médio e a Subseqüente, nas quais são oferecidos os cursos de Eletromecânica e Tecnologia da Informação (T.I).
O acervo da biblioteca possui mais de 1.900 obras. Porém, alunos reclamam da ausência de livros que são indicados pelos professores na sala de aula. O processo de licitação é demorado, o que tem prejudicado os alunos. “Quando precisamos de livros, não achamos e fazemos pesquisas na internet. Alguns não têm acesso à rede fora do Cefet”, diz Eliomar Santana, aluno do 3º semestre de T.I. O professor e coordenador do curso de Eletromecânica, Lindolfo Marra, esclarece que faz a própria apostila com os assuntos prioritários.
LABORATÓRIOS - O centro de educação possui laboratórios de informática, elétrica e eletrônica digital e de mecânica, com dez tornos. Além disso, possui materiais de metrologia (conhecimento dos pesos e medidas e dos sistemas de unidades). Segundo Marlene, a unidade já possui todos os materiais de mecânica. “O único laboratório que vamos buscar trazer no segundo semestre é o de pneumática”.
O curso de T.I enfrenta problemas diferentes. O que incomoda os alunos é a falta de manutenção e a demora na instalação de programas que são necessários para os estudantes. “Isto é um problema de infra-estrutura e implantação. Em relação a essas dúvidas sobre os programas que são instalados, você precisa organizar os setores e também ter a colaboração e um planejamento prévio”, comenta Marlene. Devido a problemas de segurança, os alunos só podem utilizar o laboratório de informática com autorização do professor ou funcionário. A coordenação não libera. Um novo técnico de laboratório foi solicitado para que o espaço permaneça aberto por mais tempo. De acordo com Marlene, nenhum aluno está sendo barrado ou deixa de fazer qualquer trabalho. “Os computadores são para os alunos e não para ficarem trancados numa sala de aula”, diz ela.
O novo prédio que está sendo construído no Cefet abrigará oito salas de aula e quatro laboratórios. Nesse espaço, possivelmente, funcionarão os laboratórios de medidas elétricas, eletrotécnica e metrologia. No antigo prédio, algumas salas de aula continuarão em funcionamento. Inclusive, um laboratório de ciências para as disciplinas de Física, Biologia e Química. Além desse prédio, existe a possibilidade da criação de cursos de nível superior no Cefet. “O governo federal tem orientado que as unidades criem cursos de licenciatura, devido a grande carência na área de Matemática, Química, Biologia e Geografia’’, diz a diretora.
EVASÃO ESCOLAR - O número de alunos que tem desistido dos estudos tem sido muito grande, principalmente, na modalidade Subseqüente. Dentre os motivos, está o despreparo dos estudantes, que entram na unidade sem uma noção básica, por exemplo, de Matemática, exigida nos dois cursos oferecidos. Por causa disso, foi implantado o Projeto de Assistência ao Estudante (PAE), que possui monitores de Matemática que tentam minimizar o problema. “A culpa não é dos alunos. O aluno passava o ano inteiro na escola e no final do ano fazia um trabalho e era aprovado”, diz Marra. A crença de que sairão do Cefet profissionais despreparados para atuar no mercado de trabalho e o descompromisso com os estudos são outros motivos que contribuem para a evasão. “A gente faz de tudo para que o aluno não saia da escola. Pelo menos na escola ele está fazendo alguma coisa. E fora dela?”, questiona o coordenador de Eletromecânica.
“Está difícil mesmo. Você tomando um outro curso fica melhor pra arrumar emprego”, lamenta Leandro. Apesar da existência de todos os problemas, Marlene garante: “Eles não sairão daqui sem a formação necessária para o mercado de trabalho. Isso é um compromisso do Cefet”.
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