quinta-feira, 26 de junho de 2008

“Beber, cair e levantar”

Daiane Arllin Caribé, Daniela Oliveira e Lorena Souza

Os jovens parecem estar cada vez mais embalados pelos hits mais tocados atualmente nas rádios, como “vamo simbora, pro bar, beber, cair e levantar”, ou, “ alô... to num bar, chego já...”, entre outros, bem conhecidos por estes adolescentes que cantam e fazem destas músicas uma filosofia de vida, um exemplo a ser seguido.
O uso de drogas lícitas e ilícitas é cada vez mais precoce, a média de idade do primeiro contato com o álcool e com o tabaco é de aproximadamente 12,5 anos. Em aproximadamente 80% dos bares, os jovens não encontram nenhuma resistência para a compra de bebidas. Quanto mais cedo o uso dessas substâncias maiores são as chances de que esse adolescente apresente algum tipo de dependência na fase adulta. Segundo especialistas, o consumo causa problemas na aprendizagem e até mentais. A maior parte dos alcoólatras começou a sua dependência ainda na adolescência. O alcoolismo pode causar perdas restritas de memória, demência, alucinações, delírios e mudanças de humor, entre outros fatores. Por isso o uso abusivo de bebidas e do tabaco, entre os jovens, são os fatores que mais preocupam a saúde publica, devido ao fato de que a maior parte das internações por dependência química são relacionadas ao álcool. Além é claro, deste uso também afetar o índice de acidentes de carro, atropelos e brigas.
Segundo a lei nº 9.294, de 15 de julho de 1996 do Código Penal, além dos vários itens citados no Estatuto da Criança e do Adolescente. O Art. 243, por exemplo, salienta que vender, fornecer ainda que gratuitamente, ministrar ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente, sem justa causa, produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica, ainda que por utilização indevida seja crime, cuja pena varia de 2 (dois) a 4 (quatro) anos de detenção, e multa, se o fato não constitui crime mais grave. Mesmo cientes disso, é comum encontrarmos jovens comprando bebidas alcoólicas com facilidade, além é claro daqueles que usam um adulto ou um amigo com mais de 18 anos para obtê-las.
A realidade de adolescentes menores de 18 anos que consomem bebidas alcoólicas indiscriminadamente, é geralmente observada em muitas metrópoles e agora pode ser vista também em Cachoeira. Donos de bares da cidade, dizem que seguem as leis e até colam os cartazes emitidos pelo Conselho Tutelar. Cristovaldo Sacramento da Silva, funcionário do Bar Night and Day, diz não vender a menor nem mesmo quando estes alegam que a bebida não será para consumo próprio e sim dos pais. Já a senhora Francine Torres, proprietária do bar Bazar Vale do Paraguaçu admite não pedir documento de identidade e nem questionar a idade do adolescente, mas ressalta: “Não vendo para crianças”.
A resistência encontrada para a venda para esses adolescentes é maior se o vendedor apresentar idade superior a 30 anos, entretanto se o mesmo for do sexo masculino esta resistência diminui. As poucas pessoas que deixam de vender bebidas alcoólicas fazem isso por convicção pessoal e não por receio de ser fiscalizado ou punido. Os comerciantes não parecem muito preocupados com os resultados de suas vendas, a própria indústria não fica atrás. O crescimento do mercado para as fabricantes ocorre com o aumento de consumo de álcool nas faixas etárias mais baixas.
O adolescente L.H.C., 13 anos, nunca encontrou relutância para comprar álcool, principalmente em bares do bairro onde mora, e acrescenta que geralmente bebe quando está com os pais ou familiares. Um outro jovem, de 16 anos, afirma que começou a beber em companhia dos pais e não encontra dificuldade ao comprar qualquer tipo de bebida alcoólica. A.P.M., da mesma idade, também nunca teve problemas para conseguir comprar cerveja. “Meus pais sabem que nunca vou fazer nada de errado por causa disso”, diz.
Nota-se que o uso de bebida está ocorrendo cada vez mais cedo e com a conivência dos pais, que aceitam e até incentivam os filhos a beberem, principalmente se estes forem meninos. É uma questão arraigada na cultura destes indivíduos, e é ainda mais freqüente entre os jovens da classe média e baixa.
O Conselho Tutelar é responsável apenas pela parte burocrática, fazendo um trabalho de fiscalização e advertência. Segundo o conselheiro Luis Nascimento Amorim, as fiscalizações realizadas na cidade de Cachoeira acontecem anualmente e são intensificadas em épocas de festa, com advertências verbais e portarias expedidas pelo juiz, inclusive com a colagem de cartazes de alerta em todos os bares da cidade. Se houver reincidência, é enviada a queixa ao Ministério Público, ocasionando a notificação aos pais dos adolescentes e o fechamento do bar por parte do Poder Judiciário, pois só este tem poder de fechar os estabelecimentos comerciais.

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